O novo equilíbrio organizacional

Opinião de Luis Rasquilha, CEO do Ecossistema Inova. Board Member/Non Executive Diretor (NED) da Mercur e da NTT Data Brasil. Advisor na AMARNA VIDA (Irlanda). Conselheiro da Diáspora Portuguesa. Professor convidado na FIA, FDC, Hospital Albert Einstein e ESALQ/USP. Colunista do MIT Sloan Review Brasil e da Executive Digest Portugal.

O Pêndulo Ajusta-se: ESG, DEI e Gestão da Inovação como Cultura Empresarial

Nas últimas décadas, os conceitos de ESG (Environmental, Social and Governance), DEI (Diversity, Equity and Inclusion) e Gestão da Inovação foram frequentemente tratados como iniciativas isoladas dentro das organizações. Criaram-se departamentos especializados, contrataram-se especialistas e desenvolveram-se relatórios para monitorizar o progresso em cada uma destas áreas. No entanto, esta abordagem segmentada está a dar lugar a uma nova dinâmica: a integração destes conceitos na cultura e no comportamento empresarial com influência ou contribuição direta na performance e no resultado. O pêndulo da gestão ajusta-se para um novo equilíbrio, onde ESG, DEI e Inovação não são apenas iniciativas, mas sim parte intrínseca do DNA das organizações, longe das polémicas quer politicas, quer ativistas.

ESG: De Responsabilidade a Estratégia

ESG deixou de ser uma mera responsabilidade corporativa e passou a ser um pilar estratégico essencial. As empresas que incorporam princípios ambientais, sociais e de governança na sua cultura organizacional beneficiam de maior resiliência, atraem investidores mais conscientes e conquistam a preferência dos consumidores.

Para que ESG se torne parte da cultura empresarial, é necessário que os princípios sustentáveis sejam vividos no dia a dia de todos os colaboradores. Isto significa que decisões operacionais, desde a escolha de fornecedores à eficiência energética, devem ser tomadas com base numa lógica de sustentabilidade, em vez de serem apenas obrigações relatadas num documento anual. O grande desafio é a contribuição deste tema para a performance e para o resultado. Sendo naturalmente um tema que tende a consumir recursos, a busca de equilíbrio entre resultado e sustentabilidade é o grande desafio da gestão, dominada por modelos tayloristas de organização e estrutura, cuja visão de dentro para fora domina.

DEI: Da Inclusão Formal à Cultura Viva

Muitas organizações iniciaram programas de diversidade e inclusão como respostas a pressões externas ou até mesmo face a exigências regulatórias. No entanto, a verdadeira mudança ocorre quando a diversidade e a inclusão deixam de ser iniciativas e passam a ser parte integrante da cultura corporativa.

A inclusão efetiva significa que todos os colaboradores se sentem valorizados, têm igualdade de oportunidades e podem contribuir plenamente para os objetivos da empresa, independentemente da sua origem, característica, raça, orientação ou cor (apenas para listar alguns). Isto exige um compromisso profundo da liderança, processos internos revistos para garantir equidade e uma mentalidade que favoreça a colaboração entre pessoas de diferentes origens e experiências. Regularmente tratado como um tema em formato de projeto isolado muitas vezes para cumprir requisitos meramente de cosmética, o tema assume-se como fundamental na ativação da inteligência coletiva e na capacidade de trazer diferentes visões para o mesmo problema ou realidade.

Inovação: De Departamentos Isolados a um Mindset Coletivo

Durante muito tempo, a inovação foi vista como uma função pertencente a departamentos específicos, como R&D ou tecnologia. No entanto, as organizações mais bem-sucedidas são aquelas que difundem uma mentalidade inovadora e uma cultura de inovação por toda a estrutura empresarial.

Fomentar a inovação como um valor cultural significa encorajar a experimentação, aceitar falhas como parte do processo de aprendizagem e permitir que os colaboradores de todas as áreas tragam ideias disruptivas. Isso requer uma estrutura organizacional menos hierárquica, processos mais ágeis e um ambiente que encoraje a colaboração e a criatividade.

O Novo Equilíbrio Organizacional

A integração de ESG, DEI e Inovação na cultura empresarial exige uma mudança de modelo mental. Em vez de criarem estruturas separadas para cada uma destas áreas, as organizações devem desenvolver uma mentalidade holística, onde sustentabilidade, inclusão e inovação sejam valores partilhados e aplicados no dia a dia por todos independente do nível hierárquico e com preocupação com o resultado gerado e a longevidade organizacional desejada.

O pêndulo da gestão ajusta-se para um novo equilíbrio: um onde a sustentabilidade não é um custo, mas um investimento; onde a inclusão não é um requisito, mas uma vantagem competitiva; e onde a inovação não é uma função, mas um comportamento natural dentro das empresas. E com efetivas contribuições para o resultado e para a longevidade.

As organizações que compreenderem esta mudança e a adotarem plenamente estarão mais preparadas para o futuro, garantindo relevância, crescimento sustentado e impacto positivo na sociedade.

Casos exemplo de Empresas que têm vindo a ajustar o Pêndulo

  1. Unilever – A empresa integrou profundamente os princípios de ESG na sua estratégia de negócios, adotando metas ambiciosas de sustentabilidade, desde a redução do uso de plástico até a pegada de carbono neutra. O compromisso com a inclusão e diversidade também se reflete na sua cultura corporativa.
  2. Microsoft – A gigante tecnológica assumiu um papel de liderança na inovação sustentável, comprometendo-se a ser carbono negativo até 2030. Além disso, investiu fortemente em DEI, implementando práticas que promovem a equidade e diversidade no recrutamento e progressão de carreira.
  3. Patagonia – Conhecida pelo seu forte compromisso ambiental, a marca de vestuário outdoor construiu uma cultura empresarial onde a sustentabilidade e a responsabilidade social são centrais. O seu modelo de negócio incentiva o consumo consciente e a reutilização de produtos.
  4. Salesforce – Incorporou valores de DEI na sua identidade corporativa, investindo em programas de inclusão e equidade salarial. A empresa também lidera iniciativas inovadoras em sustentabilidade e tecnologia, integrando ESG na sua governança corporativa.

Conclusão

A transformação de ESG, DEI e Inovação em componentes centrais da cultura empresarial não é apenas uma tendência, mas uma necessidade estratégica para organizações que desejam prosperar num mundo em constante mudança. O sucesso dependerá da capacidade das empresas em alinhar valores, processos e pessoas num ecossistema onde a sustentabilidade, a inclusão, a criatividade e o resultado sustentável sejam forças motrizes do crescimento e da competitividade.

Key Takeaways para Ajustar o Pêndulo

  1. Alinhamento Estratégico – ESG, DEI e Inovação devem estar alinhados com a visão e missão da empresa, deixando de ser apenas iniciativas paralelas e muitas vezes isoladas.
  2. Liderança Comprometida – A adoção destas práticas só será bem-sucedida se houver um compromisso autêntico da liderança e não apenas um discurso institucional.
  3. Integração no Dia a Dia – As práticas de sustentabilidade, inclusão e inovação devem estar presentes em todas as operações e decisões empresariais e com foco na geração de valor e de resultados efetivos.
  4. Medição Contínua – Definir métricas claras para avaliar o impacto e a evolução da incorporação de ESG, DEI e Inovação na cultura organizacional e no resultado operacional.
  5. Adaptação e Evolução – O contexto empresarial e social está sempre a mudar, exigindo das organizações uma capacidade contínua de adaptação e melhoria considerando o que melhor se adapta à realidade da empresa e não numa aplicação cega de modelos ou conceitos.

Ao ajustar corretamente o pêndulo da gestão, as empresas estarão mais preparadas para enfrentar desafios futuros, criando um impacto positivo tanto nos seus negócios como na sociedade.