O Futuro da Gestão pela lente do C Level na Europa
Por Luis Rasquilha, CEO do Ecossistema Inova. Board Member/Non Executive Diretor (NED) da Mercur, da NTT Data Brasil e da Maza Tarraf. Advisor na AMARNA VIDA (Irlanda). Conselheiro da Diáspora Portuguesa. Professor convidado na FIA, FDC, Hospital Albert Einstein e ESALQ/USP. Colunista do MIT Sloan Review Brasil e Executive Digest Portugal
O conceito de previsibilidade empresarial foi definitivamente substituído pela gestão de incertezas. Neste cenário global que vivemos, impactado por guerras híbridas, transformações climáticas, disrupções tecnológicas e mudanças de comportamento cada vez mais rápidas, o papel da liderança precisa ser reformulado. Este guia busca não apenas mapear as tendências que moldarão o ambiente de negócios até 2035, mas também propor um novo modelo mental de liderança baseado em: agilidade, propósito e reinvenção contínua.
Este artigo atualiza explora os principais insights aprofundados de líderes europeus, em diversos setores estratégicos, coletados através de relatório produzido pelo Ecossistema Inova e a Auren Portugal disponível na íntegra aqui.
1. O Novo Paradigma Global: Geopolítica, Economia e Incertezas Sistêmicas
O século XXI consolidou o fim das certezas lineares. A combinação de conflitos geopolíticos, inflação persistente e rupturas nas cadeias logísticas impôs uma lógica de gestão baseada em cenários e não em planos rígidos. CEOs com visão estratégica têm apostado em resiliência operacional e modelos de governança adaptativa como pilares de sustentabilidade e longevidade empresarial.
A lógica tradicional de crescimento dá lugar a uma lógica de regeneração: como regenerar mercados, talentos, cadeias de suprimentos e o próprio planeta. A materialização da agenda ESG e a transição energética não são mais opcionalidades, mas pré-requisitos para a operação.
2. Inteligência Artificial e a Nova Arquitetura Estratégica
A IA generativa se posiciona não apenas como tecnologia, mas como uma infraestrutura cognitiva estratégica. Seu papel transcende a automação: ela se torna instrumento de análise preditiva, personalização em escala e redesign de processos decisórios.
· Financeiro: Regtech, AML, e decisões em tempo real;
· RH: Recrutamento, bem-estar e retenção de talentos;
· Customer Experience: Atendimento automatizado e personalização com NLP.
Setores como saúde, agronegócio, energia e finanças estão sendo remodelados por algoritmos que aprendem, preveem e recomendam. A partir de 2025, a discussão sobre IA deixará de ser sobre “implementação” e passará a ser sobre accountability algorítmica, com foco em ética, rastreabilidade e impacto organizacional.
Assim, predição com dados históricos, alertas em tempo real e cibersegurança preditiva são pontos sensíveis para a gestão de riscos.
3. ESG 2.0: De Narrativa para Materialidade
A nova geração do ESG é pragmática e mensurável. Com a pressão regulatória europeia e o amadurecimento de métricas como TCFD (Task Force on Climate-related Financial Disclosures) e SFDR (Sustainable Finance Disclosure Regulation), empresas precisam demonstrar impacto real, não apenas boas intenções. As companhias líderes investem em:
· Redesign de cadeia de valor para eficiência energética;
· Logística reversa como driver de inovação;
· ESG como KPI de performance executiva, transparência e métricas;
· Adoção de tecnologias verdes e de baixo carbono para redução de riscos ambientais e regulatórios.
A perspectiva até 2035 é de que ESG não será mais um diferencial, mas sim uma licença para operar.
4. Talento, Liderança e as Novas Configurações do Trabalho
A escassez de talentos nas áreas STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática), aliada à fuga de cérebros e à crise de propósito nas novas gerações, exige que os CEOs atuem como curadores de cultura e aprendizagem. A liderança que se impõe é aquela que educa, inclui e habilita. A tríade da empregabilidade futura será:
· Programas internos de requalificação;
· Employer branding com propósito;
· Liderança empática e inclusiva.
Conceitos como Lifelong Learning, segurança psicológica e trabalhabilidade autônoma já são base de novos modelos de gestão de pessoas. As competências do futuro passam pela IA e automação, sustentabilidade e transição energética, cibersegurança e pensamento crítico com análise de dados.
5. Setores Estratégicos: Oportunidades e Riscos
Principais setores estratégicos mapeados:
· Turismo: Experiências digitais, hiperpersonalização e sustentabilidade de destino.
· Energia: A corrida pela transição energética impõe a adoção acelerada de fontes renováveis e infraestrutura resiliente.
· Tecnologia: Do cloud-first ao AI-first, passando por computação quântica e Web3.
· Finanças: Convergência entre regulação, IA, e cibersegurança redefine o modelo de negócio.
Líderes europeus estão investindo fortemente para mitigar riscos e se reinventar frente a exigências regulatórias, mudanças climáticas e transformação digital.
6. Liderança Estratégica para a Década da Disrupção
A pesquisa com C-levels europeus destaca que mais da metade dos entrevistados acreditam que as inovações disruptivas remodelarão seu setor de forma rápida ou muito rápida. Porém os maiores desafios apontados são:
· Custo de implementação;
· Capacitação técnica;
· Infraestrutura digital.
7. Tendências Sistêmicas: A Lente do Direção 2035
O relatório “What’s Next Direção 2035” do Ecossistema Inova estabelece seis forças motrizes que reconfiguram o mundo dos negócios:
· Tecnologia e Conectividade;
· Ambiente e Clima;
· Política e Economia;
· Social e Humano;
· Saúde e Bem-Estar;
· Educação e Modelos de Negócio.
Estas forças que influenciam a realidade e direcionam as 78 tendências, organizadas em megatendências, tendências comportamentais e tendências de negócio. Uma bússola essencial para CEOs que desejam atuar com inteligência antecipatória.
As tendências que se alinham diretamente com o relatório de tendências são:
· Inovação como Cultura;
· Liderança baseada em confiança e aprendizagem contínua;
· Sustentabilidade estratégica como vantagem competitiva.
A Gestão Como Design do Futuro
A Europa e o mundo enfrentam transformações simultâneas que desafiam os modelos tradicionais de gestão. O estudo indica que empresas que forem capazes de unir tecnologia, propósito, sustentabilidade e liderança humanizada estarão mais preparadas para prosperar até 2035 e além.
O futuro da gestão é sobre desenhar futuros possíveis, e não apenas reagir ao presente. CEOs, conselhos e líderes estratégicos precisam evoluir de gestores de performance para orquestradores de transformação.
Frente às transições tecnológicas, demográficas, ambientais e culturais que nos levam até 2035, a pergunta central não é mais “como reagir?”, mas sim:
“Qual legado estratégico sua liderança quer construir para os próximos 10 anos?”