Mobilidade sustentável: uma linha reta para o futuro?

Por Tiago Fraústo, responsável de Negócio Direto do Grupo Ageas Portugal

A mobilidade na Europa está num ponto de viragem. As tendências emergentes, apoiadas por indicadores claros de sucesso, mostram que a transição para um sistema de transportes mais limpo, inteligente e partilhado é não só possível, mas essencial.

Por outro lado, e como seria expectável, não é nem será um caminho em linha reta, mas sim com avanços, recuos e ajustes.

Prova disso é a inibição de trotinetas partilhadas em várias cidades europeias, como Paris e Madrid, mas também dificuldades sentidas em modelos de subscrição ou mesmo de partilha de veículos automóveis.

Uma coisa é certa: as escolhas que fizermos hoje, terão um impacto duradouro na forma como vivemos e nos deslocamos no futuro.

A transição para veículos elétricos é já uma realidade consolidada em muitos países europeus, tal como a utilização de serviços de partilha de carros, bicicletas e trotinetes. Na Noruega, por exemplo, mais de 80% dos veículos novos vendidos em 2023 são elétricos. Em Portugal, a percentagem de Veículos Elétricos (VE) e Veículos Elétricos Híbrido Plug-in (PHEV) concentra-se apenas nos 13,5%. E se falarmos de gerações mais novas, a ideia de possuir um carro, já não é assim tão atraente.

O desenvolvimento de cidades inteligentes está intrinsecamente ligado à mobilidade do futuro. Sensores, redes de 5G e sistemas de dados em tempo real estão a ser implementados em diversas cidades europeias, permitindo a monitorização e gestão mais eficiente do trânsito, otimizando rotas e reduzindo congestionamentos. Mas a transformação da mobilidade urbana requer métricas claras para medir o sucesso.

A redução de emissões de CO2 é um dos principais indicadores de sucesso das políticas de mobilidade sustentável. Países como a Suécia e a Dinamarca já conseguiram reduções substanciais nas emissões graças a um aumento da utilização de transportes públicos e veículos elétricos.

O número de utilizadores de transportes públicos e serviços partilhados é outro sinal de uma mudança positiva. Cidades como Viena, que oferecem um dos sistemas de transporte público mais eficientes da Europa, têm registado um aumento significativo de passageiros, reduzindo a necessidade de automóveis privados.

A melhoria nos níveis de qualidade do ar, especialmente em áreas urbanas densas, é um forte indicador do impacto positivo das políticas de mobilidade sustentável. Para reforço da qualidade do ar, a implementação de zonas de emissões reduzidas nas cidades, como acontece em Milão e Madrid, são exemplos de como a mobilidade sustentável pode melhorar drasticamente a qualidade de vida.

Espera-se que a mobilidade continue a evoluir de forma acelerada. A possibilidade de cidades europeias livres de emissões, onde os transportes são totalmente integrados, eficientes e acessíveis está mais perto do que julgamos.

Promover o uso de transportes públicos, veículos partilhados e formas de micromobilidade, vai permitir às cidades reconquistar espaço urbano, com a criação de zonas pedonais, parques e áreas de lazer para quem lá mora. Exemplo disso são as “cidades 15 minutos”, que já estão a ser projetadas em Amesterdão e Estocolmo e onde os cidadãos têm acesso a todos os serviços essenciais num raio de 15 minutos a pé ou de bicicleta.

A economia de baixo carbono está no centro de todas as previsões sobre o futuro da mobilidade, com a Europa a liderar os esforços globais para mitigar os efeitos das alterações climáticas. A economia circular na mobilidade vai ser essencial, onde os próprios meios de transporte, desde bicicletas até autocarros, serão concebidos para serem recicláveis e energeticamente eficientes.

No caso português, a realidade mostra-nos que já se observam alguns avanços, no entanto, claramente temos ainda um longo percurso pela frente. Além da implementação de mais medidas de mobilidade sustentável, é também importante continuar a promover a mudança de mentalidades e comportamentos que ainda remontam ao passado.

A mobilidade sustentável e alteração de comportamentos serão, sem dúvida, pilares para o futuro.

Não sendo possível antecipar a sua configuração, ao nível da tipologia de viaturas ou mesmo dos modelos de uso (propriedade, subscrição, partilha, etc.), a mobilidade do futuro será fundamentalmente diferente da atual e será muito personalizada face às necessidades de cada individuo e, sobretudo, aos objetivos e necessidades das sociedades onde nos inserimos.

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