MOBI.E: Pelo futuro de um pilar energético fundamental para Portugal
Por Rui Falé, Responsável pela Mobilidade Elétrica da ACCIONA Energía em Portugal
A mobilidade elétrica é um dos pilares da transição energética. Em Portugal, a crescente adesão aos veículos elétricos (VE) é um testemunho do compromisso nacional com a descarbonização e a sustentabilidade. No coração desta transição está o Mobi.E – a rede nacional de mobilidade elétrica –, que desempenha um papel central na organização, interoperabilidade e gestão da infraestrutura pública de carregamento.
Lançado como uma solução inovadora para garantir o acesso universal e integrado ao carregamento público, o Mobi.E permite que diferentes operadores coexistam, ao proporcionar aos utilizadores uma experiência interoperável. Esta coesão distingue positivamente o modelo português de outros modelos europeus mais fragmentados. Contudo, importa continuar a responder da melhor forma aos desafios económicos e sociais que se levantam.
Desde logo, do ponto de vista regulamentar, há que preservar e promover os pontos fortes do atual modelo, o qual assegura o acesso fácil universal e à rede de carregamento. É essencial que qualquer alteração mantenha estes princípios, que posicionaram Portugal como um líder a este nível.
Desafios Estruturais e a Necessidade de Reforma
Se a génese deste conceito é deveras positiva, importa ultrapassar alguns obstáculos que se levantam. Como exemplo, a burocracia, associada a uma dependência de múltiplas entidades, como municípios e o operador da rede elétrica. Será interessante acompanhar os progressos registados nos Países Baixos ou Alemanha, os quais têm adotado processos mais ágeis e centralizados, que se traduzem numa densidade de carregadores superior e num mercado mais concorrencial.
Também a estrutura de preços deve ser clara e previsível, associada a uma gama mais vasta no que respeita a métodos de pagamento disponíveis, com o intuito de chegar também aos menos familiarizados com as formas tecnológicas alternativas aos formatos tradicionais.
Aspeto igualmente imperativo para um mercado que se pretende mais competitivo: a entrada de novos operadores. Para além dos custos iniciais elevados, a posição dominante das estruturas já estabelecidas em localizações estratégicas pode criar entraves aos novos players. Estejamos certos de que uma crescente concorrência
trará óbvios impactos positivos, seja ao nível da inovação, eficiência e expansão equitativa da rede de carregamento.
Recomendações para o Futuro da Mobilidade Elétrica
O recente esforço legislativo para reformular o quadro regulatório da mobilidade elétrica em Portugal, atualmente em consulta pública, contém elementos positivos, ao reconhecer a necessidade de maior eficiência nos processos. Nas palavras do Executivo, este visa dinamizar um novo modelo para o nosso país, “o qual passa a ser mais fácil, acessível e flexível, tanto para os utilizadores como para os modelos de negócio admitidos”.
As futuras reformas regulamentares devem também salvaguardar os elementos que constituem o sistema atual, como um acesso universal e direto que o Mobi.E proporciona, fundamental para promover a confiança, a concorrência e uma experiência de utilização sem falhas em todo o país.
Olhando para o futuro, há várias prioridades, cruciais em todo o processo. Como, simplificar os processos administrativos e de licenciamento; assegurar a capacidade da rede e preparar a infraestrutura para o futuro; aprender com as melhores práticas internacionais, para identificar políticas eficazes e estruturas de incentivo; e, manter uma abordagem centrada no utilizador e no mercado aberto.
Por via de todos estes mecanismos, é o dinamismo do mercado que aumenta, juntamente com introdução de hábitos cívicos que respondam à urgência comportamental que o combate às alterações climáticas impõe. Ao concentrar-se nestas áreas, Portugal pode construir sobre a base sólida que existe e garantir que a transição para a mobilidade elétrica continua a ser inclusiva, eficiente e sustentável.