“Knowledge Brokers” o elo de ligação entre a academia e a inovação empresarial

Por Patrícia Aragão Rodrigues, Innovation Manager, Doutoranda em Gestão no ISEG -UL

No ambiente empresarial da atualidade, a inovação já não é mais uma opção, é uma questão de sobrevivência.

Quando se discute a questão de saber qual o momento ideal para introduzir processos de inovação nas empresas, a resposta é, nenhum momento é perfeito. Há gestores que acreditam que a inovação não deve retirar atenção e recursos em momentos em que há problemas urgentes para resolver. Outros, consideram que inovação deve ser considerada apenas quando a empresa está a crescer e tem recursos de sobra para investir. Há também quem olhe para inovação como um último recurso, para tentar salvar empresas que estão a passar por períodos desafiantes Contudo, estas visões falham por não entender que inovação deve ser um processo contínuo, independente da condição da empresa no momento.

Muitos gestores caem neste erro de pensar que há um momento ideal para a inovação. Esta visão é de quem não alcança realmente o verdadeiro valor da inovação. A inovação deve ser um processo continuado, enraizado no ADN e na cultura da empresa.

 

Ciência chave na mão para empresas

O conhecimento científico é um dos principais impulsionadores da inovação. Este fornece as bases teóricas necessárias ao desenvolvimento de novos produtos, à otimização de processos e à criação de novos modelos de negócio.

Por isso, as empresas que ignoram os avanços científicos arriscam-se a estagnar e a perder capacidade competitiva perante o mercado global.

Ora, muito do conhecimento científico advém das universidades, que têm um papel crucial como centros de investigação e desenvolvimento. Estas instituições são as principais fontes de avanços e teorias que podem incentivar a inovação.

No entanto, há um fosso muito grande entre a produção científica académica e as suas aplicações práticas nos contextos reais nas empresas.

É verdade que as teses e artigos científicos já devem aludir à relevância prática dos avanços teóricos estudados. Porém, mostrar a relevância através da questão de investigação e objetivos de investigação não é suficiente. Arrisco a dizer que na maioria das vezes a relevância prática a da apresentação genérica da relevância e melhores práticas, ou das implicações para a indústria, não mostra COMO implementar na prática. Esta é uma das críticas que a investigação científica enfrenta: a falta de aplicabilidade prática, que muitas vezes não é mais do que a falta de explicação de COMO aplicar. Outra crítica, recai sobre a capacidade de disseminação do conteúdo científico de maneira eficaz e acessível.

 

Transferência de conhecimento: 2 Passos importantes

Para que o conhecimento científico seja realmente útil para as empresas há dois passos importantes no processo de transferência do conhecimento:

  1. Tradução para linguagem clara: O jargão académico tem que ser traduzido para a linguagem compreensível, mais próxima da vida empresarial.
  2. Operacionalização: É necessário explicar como as teorias podem ser aplicadas na prática, utilizando os recursos acessíveis de forma eficiente.

Há uma necessidade premente de uma disseminação mais estratégica do conhecimento científico ou então os investigadores académicos andam apenas a escrever uns para os outros.

 

O Papel Dos “Knowledge Brokers”

É neste contexto que os “knowledge brokers” surgem. Esta nova área de atividade faz a ponte entre o conhecimento científico produzido na academia e o mundo empresarial, facilitando a transferência de conhecimento. Eles organizam conferências, workshops, sessões de consultoria para traduzir os conceitos teóricos complexos em estratégias de inovação aplicáveis.

Contratar um serviço de consultoria não é de fácil acesso a todas as empresas, sobretudo pequenas e médias empresas, que até são as que mais poderiam beneficiar da implementação de processos de inovação mas que muitas vezes não têm recursos para contratar uma consultora que possa apresentar um plano de inovação. Sendo o tecido empresarial português principalmente constituído por pequenas e médias empresas é por isso que é tão importante fazer chegar o conhecimento académico a estas empresas, de forma acessível, prática e rápida para gastar o menos recursos possíveis durante esta fase do processo de inovação.

 

Re-invenção Da Partilha De Conhecimento: O investigador como “Knowledge Broker” especializado

Uma maneira mais acessível e eficiente seria se os próprios investigadores assumissem a responsabilidade de mostrar sumariamente como aplicar as suas descobertas. Surge assim a

Responsabilidade do Investigador enquanto “knowledge broker”. No fim de contas, quem melhor do que o próprio investigador para explicar como utilizar as suas teorias? Assim, estaríamos não só a eliminar a necessidade de intermediários dispendiosos mas também a criar uma comunidade mais próxima em torno das pessoas com interesse em conhecimento científico.

 

Um Novo Paradigma De Aprendizagem

A democratização do conhecimento científico não passa apenas pela questão de acessibilidade mas também pelo formato e apresentação. Ao combinar o rigor com um contacto direto entre a academia e as empresas podemos criar um novo paradigma de aprendizagem organizacional, tópico importante em qualquer departamento de recursos humanos.

Este novo modelo iria trazer maior acessibilidade e aplicabilidade ao conhecimento científico mas também o encorajamento de uma cultura de aprendizagem contínua nas organizações. Num mundo onde a inovação é a chave para o sucesso empresarial, democratizar e promover o conhecimento científico não é apenas desejável – é imperativo!

As empresas que aplicam novas maneiras de consumir e aplicar conhecimento estão melhor equipadas para navegar as águas turbulentas do mercado global, sempre prontas para ajustar as velas ao sabor do vento da inovação.