Inteligência Artificial… realidade ou simulação avançada?
Por João Brazuna, Responsável de Informática Interna da Beltrão Coelho
No mundo das tecnologias, existem inúmeros temas incontornáveis, mas, neste momento, se tivesse de eleger um que suscite contínuo hype e domine debates em todo o mundo, diria que a Inteligência Artificial (IA) ocupa lugar de destaque.
Apresentada como uma ferramenta capaz de reproduzir competências semelhantes às humanas e, como tal, com capacidade de revolucionar a indústria moderna pelo seu poder e impacto transformador, a verdade é que a IA tem estado na ordem do dia e raras são as empresas que não tenham dedicado algum tempo de antena a esta tendência que, integrada nos processos dos negócios, promete ser um catalisador para o crescimento e inovação.
Longe de querer assumir o papel de negacionista, gostaria, antes de mais, de esclarecer que a chamada “inteligência artificial” não existe, pelo menos como as pessoas a entendem ou definem.
Pensemos no ChatGPT, um evoluído chatbot lançado no final de 2022 a que todos se referem como sendo uma ferramenta de inteligência artificial, mas que, na verdade, não é mais do que um motor brutal de estatística. E porque é que não é inteligência artificial? Porque existem métodos de testar se realmente estamos a falar com uma pessoa inteligente (uma das formas é através do teste ARC-AGI https://arcprize.org/arc) e porque, apesar da sua extraordinária e incontestável capacidade e rapidez de aprendizagem e tratamento de informação/dados, não passa de uma plataforma conversacional que simula respostas humanas, não representando verdadeira inteligência.
A meu ver, podemos equiparar esta questão da inteligência artificial a outras questões como a cura para o cancro ou mesmo a fusão nuclear. São temas de profunda complexidade, que são debatidos em sociedade há mais de cinquenta anos, mas que, infelizmente, estão longe de serem resolvidos.
Não pretendo, de forma alguma, retirar o valor e potencial da inteligência artificial. Penso, no entanto, ser importante esclarecer que não se trata de inteligência (como tanto se fala e debate), mas antes de uma ferramenta excecional, que consegue aprender, mas que, a par disso, realce-se, tem também incontáveis obstáculos e barreiras.
Na verdade, a inteligência é algo muitíssimo complexo e há que saber distingui-la de programas e chats que conseguem, porém, aprender e tomar decisões, graças aos seus modelos estatísticos que permitem analisar dados, identificar padrões, fazer previsões, etc. A capacidade estatística destas ferramentas, isso sim, é o que as torna versáteis e poderosas, mas mesmo essa capacidade só é realmente válida se os dados utilizados tiverem qualidade.
Outro exemplo (sem ser o ChatGPT), os Large Language Models (LLM), modelos de linguagem que compreendem e geram linguagem humana através do processamento de grandes quantidades de dados, também não se trata de inteligência artificial. Acedem a milhões de dados quase instantaneamente. Criam e analisam textos. Fornecem respostas. E sim, estão cada vez mais céleres e eficientes. Mas isso não faz deles “inteligência artificial”.
Trata-se de excelentes ferramentas, não devemos, por isso, prescindir delas nem minorar os benefícios que trazem – há inúmeros estudos, aliás, que demonstram precisamente que a IA está cada vez mais a ser integrada em serviços, fazendo parte do nosso dia-a-dia de forma mais frequente – mas não lhes atribuamos competências que não têm.
Designações à parte, trata-se de um setor que está a evoluir a uma velocidade estonteante, não seguindo de forma nenhuma a Lei de Moore. A velocidade da sua evolução é tão elevada que qualquer livro editado no ano passado está desatualizado e apenas refletirá a posição da IA à data da sua publicação. Logo, para não se correr o risco de se dizer algo errado, penso que qualquer opinião sobre a IA de hoje terá de ser baseada nos fatos de ontem, pois os fatos de hoje podem já ter mudado tudo.
Posto isto, é inegável que a tecnologia tem proporcionado ganhos crescentes em produtividade e eficiência nas organizações, mas há que não conceder nem forjar aptidões que efetivamente a tecnologia não tem, até porque, a partir daí, podem ser levantadas algumas questões, dúvidas e dilemas que não têm (pelo menos por agora) razão de ser.
A verdadeira inteligência artificial só vai existir a partir do momento em que a tecnologia conseguir pensar por si mesma e de forma contínua, ou seja, sem precisar que nós – seres racionais – lhes concedamos informação, balizemos ou ajustemos parâmetros, já para não falar em aspetos como a ética, intuição, consciência, criatividade, valores que, até à data, nenhuma máquina demonstrou capacidade de apreender.
Eu, pessoalmente, continuo a acreditar que a IA está tão perto de acontecer como a cura do cancro, mas, se calhar… vamos ter a cura do cancro mais cedo do que imaginamos, por causa daquilo a que hoje apelidam de IA, sem o ser. Mas nem tudo é um “mar-de-rosas”, pois toda esta evolução, apesar de extraordinária, vai criar uma “medonha” discriminação entre quem tem acesso à tecnologia e quem não tem.
Para finalizar, e em jeito de resumo, penso que é um erro o nome dado à inteligência artificial, já que pouco tem a ver com inteligência, mas antes com cálculos matemáticos, correlações e análises estatísticas sob uma quantidade infindável de dados!