Inteligência Artificial: bastará ser o mais inovador para ganhar esta corrida?
Por Isabel Sousa Pereira, Head of Financial Services na consultora LTPlabs
Nos últimos anos, temos assistido a avanços notáveis no campo da Inteligência Artificial (IA), com a empresa mais conhecida no ramo — a americana OpenAI — a fazer muitas das manchetes. No entanto, a concorrente DeepSeek, uma startup chinesa, atingiu em fevereiro passado um patamar de referência por uma elevada fração do custo.
Contudo, possivelmente o verdadeiro vencedor desta corrida tecnológica não é quem cria os melhores modelos, mas antes quem consegue ativar essas ferramentas de forma eficaz em proveito do governo, das organizações e da sociedade.
No livro Technology and the Rise of Great Powers, o autor — o professor universitário Jeffrey Ding — investiga a capacidade dos estados de adaptarem e disseminarem com sucesso estas inovações nas suas economias, por oposição à aptidão de introduzirem primeiro as mesmas.
Embora ainda não existam dados globais e consolidados sobre a taxa de adoção de IA por país, já é possível olhar para alguns indícios relevantes. Um exemplo é o Artificial Intelligence Preparedness Index (AIPI), um ranking elaborado pelo Fundo Monetário Internacional que avalia a prontidão de 174 países para acolherem soluções de IA.
Neste mesmo documento, note-se, a China surge, por incrível que pareça, apenas em 31.º lugar. Porém, é importante interrogarmo-nos como é que o Dragão Vermelho, de facto, se posiciona, e posicionará, em termos de usabilidade prática de Inteligência Artificial.
Na realidade, o estado liderado por Xi Jinping tem-se destacado como um dos principais motores neste âmbito. De acordo com a revista The Economist, o setor público é
responsável por cerca de metade da procura da DeepSeek, recorrendo a IA para dar resposta a questões de cidadãos ou para localizar pessoas desaparecidas.
E quanto ao consumidor final? Segundo o estudo Edelman Trust Barometer de 2025, países como a China ou a Tailândia apresentam uma maior confiança na Inteligência Artificial, quando comparados com economias como os EUA ou o Canadá.
Também a nível empresarial, a integração desta tecnologia evolui de maneira significativa. A reputada Lenovo (negócio focado em computadores, portáteis e respetivos acessórios), por exemplo, tem vindo a incorporar agentes de Inteligência Artificial em duas áreas críticas: a engenharia de software e o serviço ao cliente.
Já a chinesa Tencent — uma das maiores marcas do mundo que opera com gaming, plataformas digitais, serviços financeiros e de cloud, entre outros —, anunciou, conforme refere a agência Reuters, que irá reforçar o investimento em capital em 2025, com o objetivo de acelerar o desenvolvimento de IA e modernizar a sua infraestrutura.
Além disso, já implementou a recente novidade da DeepSeek nos seus produtos-chave, como o WeChat — conhecido como a ‘super app’, pois combina mensagens, pagamentos e redes sociais e que conta com mais de mil milhões de utilizadores ativos — e o Yuanbao, o seu assistente de IA proprietário.
Na verdade, o potencial é tal que estamos a viver uma autêntica corrida global multidisciplinar, com gigantes tecnológicos e entidades com dimensão de vários setores a comunicarem investimentos na casa dos mil milhões de euros em Inteligência Artificial.
Os roadmaps de transformação são rapidamente atualizados para incluir esta tecnologia, muitas vezes movidos mais pela urgência de não ficar para trás do que por uma visão estratégica clara. A ansiedade em marcar presença nesta nova fronteira da inovação tornou-se, em si mesma, um motor de ação.
Compreender quem lidera realmente no que diz respeito ao recurso à Inteligência Artificial continua a ser um desafio; sendo que, perceber quem conseguirá extrair o valor efetivo da mesma é, por si só, um desafio ainda maior.
No final, talvez os vencedores não sejam aqueles que criam os modelos mais poderosos nem os que os simplesmente utilizam, mas sim os que fazem uso dos mesmos com um propósito claro e com capacidade de gerar benefícios duradouros.