IA: Investir com estratégia para ultrapassar o “ponto de viragem” tecnológico
Por Manuel Cabral, VP Business Development and Industry Lead Healthcare and Life Sciences na TP em Portugal
A aceleração da Inteligência Artificial (IA) está a transformar as empresas, com novas plataformas tecnológicas a permitirem ganhos significativos de eficiência e produtividade. Estudos recentes apontam que a adoção da IA em Portugal pode ter um impacto económico de 61 mil milhões de euros até 2030 (dados da AWS), e 81% dos portugueses acreditam que a IA trará benefícios para a sociedade (dados do GroupM). Contudo, para que este potencial se concretize, é essencial que as empresas adotem uma abordagem estratégica e consciente relativamente aos investimentos em IA.
A tecnologia por si só não é suficiente para transformar um negócio (por muito revolucionário que seja). Muitas organizações estão a investir significativamente em IA, mas sem uma arquitetura bem definida e sem integração nos seus modelos operacionais, arriscam-se a nunca atingir o “tipping point” que desbloqueia uma verdadeira mudança estratégica. Esse ponto de viragem, em que a tecnologia deixa de ser uma ferramenta isolada e passa a ser um elemento estrutural do modelo de negócio, é fundamental para gerar impacto duradouro. Sem ele, os investimentos podem traduzir-se em soluções fragmentadas e ganhos marginais, sem que haja uma verdadeira concretização de toda a proposta de valor.
Empresas com grande escala, têm uma vantagem clara neste cenário. A capacidade de investimento, a infraestrutura global e a expertise acumulada permitem-lhes testar, adaptar e implementar IA de forma mais eficiente e em larga escala. Isto significa que estão mais bem posicionadas para atingir esse “tipping point” e capturar os ganhos de produtividade e personalização que a IA pode proporcionar. No setor de customer service, por exemplo, a combinação de IA generativa com operações humanas não só reduz custos e melhora a eficiência, mas também eleva a experiência do consumidor para um novo patamar.
Contudo, mesmo as grandes empresas precisam de agir com cautela. O custo de implementação de soluções avançadas de IA é elevado, e uma abordagem desordenada pode levar à canibalização de margens e até à destruição de mercados inteiros. O recente lançamento do modelo R1 da Deepseek, que alimenta um intenso debate na comunidade tecnológica, é um exemplo de como a evolução da IA pode ter implicações imprevisíveis, inclusive em modelos de negócio estabelecidos.
O grande desafio para os líderes empresariais não é apenas adotar IA, mas sim garantir que esta seja implementada de forma sustentável e integrada. Os tempos do “plug and play” acabaram. Para que a IA cumpra o seu potencial, é necessária uma estratégia clara, com investimentos inteligentes, uma arquitetura empresarial bem estruturada e uma abordagem responsável aos desafios éticos e regulatórios. Empresas que conseguirem equilibrar escala, inovação e sustentabilidade estarão na linha da frente desta revolução tecnológica.