Guerra das tarifas, nova ordem mundial, aumento dos preços de produção e marca nacional do azeite: alguns dos grandes desafios para 2025
Por Gonçalo Morais Tristão, Presidente da Direção do Centro de Estudos e Promoção do Azeite do Alentejo
Nos tempos conturbados que vamos vivendo, os maiores desafios do sector olivícola não são diferentes dos que o sector agrícola enfrenta. De facto, vivemos um momento de grande instabilidade geopolítica provocada, essencialmente, por uma mudança radical e muitas vezes desconcertante, do posicionamento dos Estados Unidos. Um facto contundente e que reverbera à escala global, porque se trata da principal potência mundial e principal bloco económico – até agora. Por isso, as suas posições face a determinados acontecimentos geopolíticos, económicos, sociais e ambientais atinge o mundo inteiro, sem exceções. Um exemplo flagrante é a “guerra das tarifas” desencadeada por Trump no “Liberation Day”. As consequências destas políticas no comércio mundial, nomeadamente nas trocas comerciais entre EUA e a Europa, são já demasiado negativas e ainda só estamos no princípio desta transformação. Por outro lado, toda esta onda de instabilidade, segue-se àquela outra originada anteriormente pelas consequências provocadas pelo surto da pandemia COVID-19 e com a qual ainda estamos a lidar, sobretudo no que diz respeito aos estrangulamentos nas cadeias de abastecimento e nas rotas comerciais. Acrescem ainda a esta complexa equação, os impactos decorrentes da invasão da Ucrânia pela Rússia, com o consequente aumento dos fatores de produção e os efeitos dos embargos económicos à Rússia.
Uma tempestade perfeita a que o azeite não é alheio
Para completar esta “tempestade perfeita”, a União Europeia parece, muitas vezes, perdida na sua ânsia de tudo regulamentar, dificultando enormemente a vida aos agentes económicos, e em especial aos produtores agrícolas, impondo-lhes regras exigentes por razões ambientais, sociais e outras, a que outras empresas e produtores de outros blocos económicos e geográficos não estão obrigados. Deste modo, o nível de competitividade dos produtos europeus no mercado global é, por natureza, inferior ao dos produtos seus semelhantes, mas provenientes de outras origens. É neste contexto que o sector agrícola europeu, no qual Portugal está inserido, tem o desafio enorme de procurar e consolidar novos mercados.
No que diz respeito ao sector oleícola, a eventual imposição de tarifas pelos EUA vai complicar muito as exportações para aquele país. De referir que o consumo de azeite tem vindo a aumentar naquele mercado, que é o principal para as exportações de azeite dos países europeus. As exportações de Portugal para o mercado dos Estados Unidos são pouco significativas, mas como exportamos muito para Espanha e Itália – que são os principais fornecedores de azeite dos EUA, a imposição das tarifas poderá vir a afetar bastante a nossa produção e as nossas exportações. Por outro lado, isso fará com que Espanha e Itália se virem para outros mercados, nomeadamente para o brasileiro, onde Portugal até agora tinha uma posição dominante com uma quota superior a 50%. Importa, no entanto, ter em atenção, que independentemente do que venha a ser o desenvolvimento e impactos decorrentes da “guerra das tarifas”, a promoção agressiva do azeite espanhol no Brasil já está a ter consequências para os produtores portugueses que exportam diretamente para aquele mercado.
Saber vender a excelência do Azeite português
Neste contexto, o outro grande desafio, que está a ganhar particular pertinência quer pelo crescente papel do azeite português no mercado internacional, quer também pela concorrência que enfrenta no mesmo, e que o sector oleícola nacional tem diante de si, é o da promoção. Praticamente desde o início deste século, Portugal conseguiu levar a cabo uma revolução no sector olivícola e oleícola, com a transformação dos nossos olivais e a modernização dos nossos lagares, transformando o país num player muito importante no panorama mundial da produção de azeite, elevando muito a qualidade dos nossos azeites e aumentando exponencialmente os valores das nossas produções. Ganhámos, pois, as batalhas da qualidade e da quantidade. Precisamos, agora, por todas as razões e mais alguma, saber vender esta excelência do nosso produto. Para isso, o sector necessita de ser apoiado pelas estruturas governamentais, nomeadamente dos ministérios da agricultura e da economia; de delinear uma estratégia comum nacional de promoção e marketing que possa identificar a melhor forma de valorizarmos o nosso azeite, bem como os mercados que queremos explorar e conquistar. Neste domínio, a primeira responsabilidade é do sector que, aliás, já se organizou através da constituição de uma associação interprofissional que, entre outros objetivos, tem o de potenciar a promoção do conhecimento sobre os nossos azeites nos mercados de exportação, para fazer face à concorrência dos azeites provenientes de outras origens e nos permitirem jogarmos em pé de igualdade com estes players.
Infelizmente, essa interprofissional – a AIFO, ainda não conseguiu cumprir os seus objetivos, em virtude de obstáculos criados por uma legislação nacional mal transposta do direito comunitário para o quadro legislativo nacional. É neste ponto que o papel do Estado é crucial, facilitando e não criando barreiras e dificuldades. Acredito que, neste momento, essas barreiras possam estar a ser levantadas, pelo que, apoiada pela introdução de regulamentos extensivos a toda a produção e comercialização de azeite nacional, a AIFO possa finalmente começar a desenvolver, plenamente, a sua atividade de promoção do azeite português. O financiamento desses investimentos na promoção do azeite nacional virá da produção e da comercialização e deverá ser exponenciado pelo apoio de fundos comunitários especialmente dedicados à promoção dos produtos agroalimentares europeus, e que integram os programas que são lançados todos os anos pela Comissão Europeia.