
Guerra às aranhas
Por Pedro Alvito, Professor de Política de Empresa na AESE Business School
Tirando raríssimas exceções, ninguém simpatiza muito com aranhas. No entanto há quem goste de dizer que as aranhas significam dinheiro. Uma expressão curiosa que segundo uma história que me foi contada deriva do facto de muita gente ter colocado em Portugal durante as invasões francesas dinheiro nas paredes das casas para que o mesmo não fosse encontrado. Ora, anos mais tarde, houve alguém que irritado com uma aranha que se escondia na parede, ao tentar apanhá-la veio a descobrir que a parede ocultava os bens da família antepassada. Verdade ou não, é uma história curiosa que nos pode fazer refletir.
Alguém referiu que relativamente ao orçamento de estado e à intenção do governo de reformas na administração pública, o que se procurava era finalmente limpar as teias de aranha que existem por todo o lado. Uma preocupação muito salutar e muito bem-vinda, porque tudo o que seja fazer limpezas no estado cheira a novo e saúda-se com grande regozijo. Mas – e há sempre um mas- todos nós sabemos que limpar as teias de aranha é bonito, mas não resolve nada, porque se não eliminarmos as aranhas volta tudo ao mesmo muito rapidamente. É por isso que, frequentemente, se prefere ficar quieto para não mexer nas aranhas… E no caso português temos verdadeiras tarântulas na administração pública alimentadas durante anos e anos por leis, atrás de leis, regulamentos atrás de regulamentos e documentos e aprovações que nunca mais acabam. Na preocupação de bem regular, teceu-se uma interminável teia de leis que em vez de simplificar só complicam a atividade económica. E os exemplos são muitos em todas as áreas desde a saúde, passando pela economia, o caos na justiça e em tantas outras áreas que são afetadas no seu bom funcionamento prejudicando as empresas e o comum cidadão.
É, pois, com alegria que recebemos esta notícia por aquilo que pode trazer de melhoria ao nosso dia a dia. No entanto, percebemos o esforço hercúleo que será necessário ter. Serão necessárias pessoas com grande carácter, firmeza, clareza de opiniões e impunes a pressões externas vindas daquelas que se vão sentir afetados no mais íntimo da sua ineficiência. É que as aranhas não acham piada nenhuma a que lhes destruam as suas teias, onde elas tranquilamente esperam pelo seu sustento sem grande esforço pessoal.
É também fácil de perceber que quem tiver estas responsabilidades vai estar inevitavelmente em palpos de aranha. Depois de toda esta conversa sobre aracnídeos, espero que o leitor esteja suficientemente enojado com o tema porque assim a vontade de limpar terá com certeza aumentado e tudo vai melhorar nas nossas casas, nas nossas empresas e no nosso país. E já agora, pode ser que a tal história se repita e que se encontre dinheiro nas paredes da administração pública, nem que seja pelas poupanças alcançadas.