Gestão financeira empresarial na sombra da bolsa

Por Tiago Cruz GonçalvesProfessor de Finanças do ISEG, Universidade de Lisboa

A atual guerra tarifária iniciada pelos Estados Unidos, com tarifas impostas de forma transversal a praticamente todos os seus parceiros comerciais, tem provocado perturbações visíveis nos mercados de capitais globais. Esta escalada protecionista gera incerteza, retração no investimento e pressões acrescidas sobre a liquidez e avaliação dos ativos financeiros. A investigação em finanças demonstra que choques de incerteza na política comercial têm efeitos negativos imediatos sobre os mercados acionistas, sendo particularmente penalizadoras para empresas com forte integração internacional, mesmo quando estas não estão cotadas. Em tempos de guerra tarifária, os mercados tornam-se menos eficientes a sinalizar preços e a alocar capital, afetando diretamente o custo e a disponibilidade de financiamento em toda a economia.

O mercado de capitais desempenha um papel crucial no financiamento e crescimento das empresas, incluindo aquelas que não estão cotadas em bolsa. Embora estas empresas não acedam diretamente aos mercados públicos de ações, beneficiam indiretamente de diversas formas que impulsionam o seu desenvolvimento e competitividade.​

A investigação em finanças destaca que mercados de capitais desenvolvidos canalizam investimentos para empresas produtivas, facilitando a sua expansão e contribuindo para o crescimento económico. Esta pesquisa sublinha a importância de mercados de capitais eficientes na alocação de recursos financeiros para empresas não cotadas, permitindo-lhes aceder a financiamento de longo prazo necessário para investimentos significativos. ​

Além disso, o acesso ao mercado de capitais está associado a um crescimento significativo no emprego a nível das empresas. A evidência científica demonstra que empresas que se tornam públicas (cotadas) apresentam aumentos substanciais no emprego, indicando que o financiamento através do mercado de capitais pode ser um motor para a criação de empregos e expansão empresarial. ​

A estrutura de capital também difere entre empresas cotadas e não cotadas. Um estudo comparativo revelou que empresas privadas (não cotadas) tendem a ter rácios de alavancagem mais elevados do que as públicas, sugerindo que as empresas não cotadas dependem mais do financiamento por dívida. Esta dependência pode ser atribuída à falta de acesso direto aos mercados de capitais públicos, levando-as a procurar alternativas como empréstimos bancários. ​

Adicionalmente, as empresas privadas podem aprender com as avaliações e informações disponíveis nos mercados públicos. Uma investigação recente indica que o investimento de empresas privadas responde positivamente às avaliações de empresas públicas no mesmo setor, especialmente quando os preços das ações destas últimas são informativos. Isto sugere que as empresas não cotadas utilizam sinais do mercado de capitais para orientar as suas decisões de investimento.

Em suma, mesmo sem uma presença direta nos mercados de capitais, as empresas não cotadas beneficiam significativamente da sua existência e funcionamento. Os mercados de capitais não só facilitam o financiamento e crescimento indireto destas empresas, mas também fornecem informações valiosas que influenciam as suas estratégias financeiras e operacionais. Assim, o fortalecimento e desenvolvimento contínuo dos mercados de capitais são essenciais para a saúde e expansão do setor empresarial como um todo.