Do “recursos” ao “humano”: o papel renovado da liderança de RH
Por Carla Colaço, Diretora de RH do Grupo Openbook
Que se mudam os tempos, as vontades e que todo o mundo é composto de mudança (com as suas novas qualidades), é uma certeza inabalável. A novidade, por seu lado, assenta na mutação profunda que a área de recursos humanos tem vindo a enfrentar face às mudanças laborais e sociais emergentes. De um posicionamento administrativo/processual e de responsável do cumprimento da lei laboral, os recursos humanos assumem um papel agregador, tornam-se fundamentais no apoio à decisão de gestão e no garante do bem-estar e foco dos colaboradores, para que se sintam motivados e consequentemente mais produtivos e comprometidos com a organização. Assim, o grande foco da nossa área é proporcionar ao longo do Ciclo de Vida do colaborador uma experiência positiva, desafiante e enriquecedora.
Como desde cedo enraizado na nossa cultura popular, “de pequenino se torce o pepino” e, no contexto laboral não podia ser diferente. Efetivamente, desde que chega um novo talento à empresa, que deve ser feita uma integração cuidada e personalizada. Trata-se do início do vínculo, e vínculos bem construídos fazem a diferença no percurso e no clima organizacional. A adoção de medidas simples e de fácil implementação podem impactar positivamente a motivação e fomentar que o recém colaborador se sinta integrado e em casa, logo desde o primeiro dia. A título de exemplo, sublinho a relevância que para além da entrega do kit de boas-vindas, o acolhimento feito pelos recursos humanos e por elementos da gestão de topo, que reforçam e partilham o propósito da empresa. Para além disso, face à chegada a um ambiente de trabalho único nas suas especificidades e exigências, a formação inicial imersiva e intensiva é crucial para o sucesso da integração do novo elemento na equipa. Importa ainda ressalvar o papel também determinante da partilha de conhecimento e interajuda das equipas acolhedoras.
Adicionalmente, é imprescindível ter presente que o talento não se deve reter, mas sim fidelizar. Como? Cada profissional, com os seus objetivos, ambições e know how, faz parte de um todo, de uma solução e que mais do que um mero recurso, é um projeto em si mesmo. A participação em projetos aliciantes e desafiadores que permitam ao colaborador manter os níveis de motivação, a par da promoção de ações de desenvolvimento de competências e capacitação continua que permitam a sua valorização e adaptabilidade às constantes evoluções tecnológicas e digitais, e às exigências do mercado, são fatores que conduzem ao aumento do compromisso com a empresa.
Efetivamente, a Organização Mundial de Saúde reconhece que “saúde” não se refere apenas à ausência de doença, mas sim um estado de bem-estar total, que engloba o bem-estar físico, mental e social. Sendo o local de trabalho, um elemento preponderante na vida de um indivíduo, a felicidade e equilíbrio promovidos por um ambiente de trabalho saudável, incluindo espaços de trabalho confortáveis e aprazíveis, devem ser uma prioridade do gestor de recursos humanos, com o peso que esta responsabilidade acarreta. Mas como almejar por este conceito que concerta em sim tantas variáveis? Como gerir diferentes gerações, variadas áreas de expertise e, inevitavelmente, múltiplas motivações e ambições?
A resposta está longe de ser linear, comportando em si um enorme desafio e um esforço constante em prol da flexibilidade, individualização de abordagens, mas sem nunca perder o fio condutor que promove a coesão da equipa: a cultura empresarial. A cultura nunca será construída de raiz, já existe. Desde a forma de estar, à forma de trabalhar e na de lidar com os colegas e com clientes, se for o caso. Então, a inevitável questão mantém-se presente, que estratégias utilizar para fomentar nos novos (e menos recentes) elementos uma cultura coesa, colaborativa e transversal?
De facto, revela-se como fundamental uma atenção redobrada à seleção do talento. Para além de competências técnicas adequadas à função a desempenhar, o colaborador deve possuir um conjunto de competências comportamentais e um perfil que se adeque à equipa que vai integrar, pois um bom “cultural fit” contribui para uma adaptação célere e natural à empresa e ainda para manter um ambiente de trabalho harmonioso. Só assim se torna possível que organizações com crescimentos exponenciais de efetivos, mantenham o espírito de grupo e a cultura organizacional.
Outro aspeto basilar na promoção de um ambiente de trabalho saudável, são as conexões sociais, que entre outros momentos, assentam na existência de diversos momentos de partilha que incentivem as relações interpessoais e fomentam o espírito de grupo e de pertença. Nomeadamente, a dinamização de eventos de empresa, descentralizados do local de trabalho que permitam, longe da responsabilidade do dia a dia, a realização de tarefas em função de um objetivo comum, em equipas multidisciplinares e num ambiente informal e descontraído.
Não podia deixar de comentar o papel da liderança dos Recursos Humanos. Porque, de facto, não lideramos. Pelo menos no sentido estrito da palavra que sublinha uma hierarquia. Os RH devem antes ser líderes na proximidade, na gestão de emoções e na promoção da escuta ativa dos elementos do tecido empresarial. Esta liderança empática, potencia um ambiente saudável e robustece o sentimento de pertença, o espírito de equipa e de grupo, incrementando os níveis de produtividade e compromisso.
Indubitavelmente, o gestor de RH tem como missão garantir a articulação entre as necessidades e objetivos de gestão e a expetativa dos colaboradores. Através da auscultação e da escuta de necessidades e dificuldades, ser ponte na transmissão de expectativas. Assim, a área de RH assume um papel estratégico enquanto parceiro nas tomadas de decisão, no sentido de encontrar uma agenda comum tendo subjacente os dois grandes eixos que devem ser cuidadosamente articulados: por um lado, garantir o apoio ao negócio e à estratégia empresarial e, por outro lado criar bem-estar e conforto em ambientes desafiantes e evolutivos, e, consequentemente manter equipas motivadas e logo mais produtivas.
O paradigma atual dos recursos humanos tem de assentar numa abordagem humanizada e flexível. É preciso aliar a colaboração à inovação, o bem-estar físico e mental a um ambiente de trabalho aprazível e saudável, promovendo o desenvolvimento pessoal e empresarial. Fazer parte desta evolução, é essencial para o sucesso desta parceria estratégica,que coloca as pessoas no centro da tomada de decisão.