Democracia não é desculpa para mediocridade
Por João Figueiredo, CEO da CW Form
Cada vez que entro numa Loja do Cidadão ou serviço público, saio com a sensação de que o problema do Estado não está no sistema — está nos corredores. Nos corredores sem urgência, sem consequência, sem exigência. Onde a produtividade é um palavrão e onde quem tenta fazer diferente é visto como um perigo para a estabilidade reinante. Em vez de espalhar departamentos e institutos como quem planta eucaliptos, o Estado devia concentrar-se num só: uma Central de Compras e Aprovisionamento com três pilares claros — fiscalização real, concorrência a sério, e competência técnica que saiba avaliar. Tudo o resto? Deixar para quem sabe fazer. Para os privados.
Porque enquanto andarmos a estigmatizar o lucro, como se ganhar dinheiro fosse um crime, nunca vamos sair da cepa torta. O lucro não é o inimigo — o inimigo é o desperdício, é a duplicação de tarefas, é o “volte amanhã”. O que o Estado devia garantir era que todos concorrem em pé de igualdade e que a eficiência ganhe. Porque eficiência não tem ideologia. É matemática. É resolver mais depressa, melhor, por menos. E não há nada mais inclusivo do que isso. Mas para isso era preciso acabar com a cultura do “está bom assim” e entrar, de uma vez por todas, na cultura do “tem que estar melhor”.
Infelizmente, continuamos a confundir estabilidade com estagnação. Nos serviços públicos reina a certeza de que, se fizeres pouco, nada acontece. Se fizeres mal, também não. E se fizeres bem, ainda ficas mal visto. E é por isso que continuo a sair de cada repartição com a certeza de que aquilo que ali demora duas horas, numa empresa privada resolvia-se em cinco minutos — e com recibo.
Termino com uma verdade: O que é público deve ser exemplar. O que é privado deve ser livre. E o que é inútil deve acabar.