Da tecnologia à sustentabilidade: o setor industrial quer as Gerações Z e Alfa na sua força de trabalho

Por Barbara Frei, Executive Vice-President & Chief Executive Officer, Industrial Automation da Schneider Electric

O setor industrial está a atravessar uma crise de recrutamento a nível global. Muito se tem dito sobre o défice de competências digitais dos trabalhadores atuais e da necessidade de upskilling, para que não sejam excluídos do mundo tecnológico. Contudo, eu diria que um tema de discussão igualmente importante é como atraímos para o setor uma nova geração de colaboradores com conhecimentos tecnológicos.

Prevendo-se uma escassez global de mão de obra de mais de oito milhões no setor da indústria transformadora até 2030, vivemos um verdadeiro problema de (in)disponibilidade de que exige que todos desempenhemos um papel importante para revitalizar a indústria. Com isto, quero dizer que temos de ser mais eficazes a demonstrar aos jovens porque é que a indústria é o melhor lugar para se estar quando se trata de inovação e tecnologias de ponta.

As indústrias na era da inteligência

Impulsionadas pela IA, IoT e big data, as indústrias ‘inteligentes’ de hoje são mais ecológicas, seguras e ágeis. As imagens das fábricas sujas e pouco seguras do passado são agora os espaços de produção limpos e eficientes do futuro, onde os humanos e as máquinas trabalham lado a lado, em harmonia. Está a surgir uma nova identidade industrial.

Esta profunda mudança tecnológica aumenta a produtividade, reduz os custos e promove as práticas de trabalho sustentáveis que são cada vez mais apelativas para a força de trabalho das Gerações Z e Alfa.

Mas será que os jovens estão perceber esta mensagem?

Entre os 2.000 trabalhadores americanos da Gen Z inquiridos pela Soter Analytics num estudo recente, apenas 14% mencionou que consideraria uma carreira na indústria – uma estatística preocupante. Também revelou que 27% desta geração quer trabalhar para uma empresa que esteja na vanguarda das tecnologias e produtos mais recentes, incluindo drones, dispositivos conectados, IA e realidade virtual (RV).

A ciência dos dados, a IA, a robótica, a cibersegurança e a Cloud são componentes cada vez mais comuns da produção industrial inteligente. Como a indústria depende da tecnologia digital, é essencial implementar medidas robustas de cibersegurança para proteger os dados sensíveis e manter a integridade operacional contra as ciberameaças. A computação na Cloud é igualmente necessária para facilitar o acesso aos dados em tempo real e a colaboração entre as várias instalações, apoiando a escalabilidade e fornecendo uma plataforma para análises avançadas que ajuda a gerir recursos e a responder eficazmente às exigências do mercado. É necessária uma nova geração de cientistas e analistas de dados.

No que diz respeito à IA, a automação preparou o terreno, simplificando processos, gerando dados valiosos e melhorando a eficiência operacional para permitir que a IA se foque na tomada de decisões mais complexas, incluindo a análise e identificação de padrões, previsões e melhoria de processos. Esta combinação de IA e automação conduz à automação inteligente, em que as máquinas não apenas executam tarefas, como também aprendem e se adaptam ao longo do tempo, melhorando o seu desempenho.

Assim, enquanto competimos pelos corações e mentes da geração digital – que cresceu a utilizar a tecnologia para se envolver e moldar o mundo à sua volta, e que se sente confortável a trabalhar com inovações como a IA –, esta é uma narrativa que temos de contar com mais confiança se quisermos atraí-los para a área industrial.

Para além disso, na era em que a indústria dos jogos, as redes sociais, o TikTok e os influenciadores digitais estão a competir pela atenção limitada da Gen Z, temos de encontrar novas formas de a envolver. Temos de nos adaptar e tirar partido das plataformas com influência para nos mostrarmos e gritarmos mais alto sobre como a automação e a digitalização estão a transformar o mundo do trabalho industrial para melhor.

Espalhar a mensagem da sustentabilidade

A produtividade, fiabilidade e rentabilidade melhoradas têm sido os principais motores da indústria desde o despontar da Revolução Industrial. Agora, na era do aquecimento global, a digitalização permite um controlo preciso dos processos críticos para reduzir a utilização de energia – o que melhora a sustentabilidade de todo o ecossistema industrial.

Num relatório de 2024 da McKinsey, a Geração Z foi o único grupo que considerou o “significado” como uma razão fundamental para aceitar, manter ou deixar um emprego. Esta geração quer, mais do que as outras, fazer a diferença.

Agora que nos reunimos mais uma vez em Davos, na Suíça, para a Reunião Anual do Fórum Económico Mundial, temos de ligar o tema deste ano, “Colaboração para a Era Inteligente”, e um dos principais tópicos de discussão, “liderar uma transição energética justa e inclusiva”, para mostrar o papel crítico que a indústria desempenha na concretização destas duas visões para atrair uma nova geração de nativos digitais.

A automação ajuda a tornar esta visão numa realidade. Aumentar as capacidades humanas através da execução automatizada, com precisão e rapidez, de operações perigosas, repetitivas e de baixo valor não tem apenas um impacto positivo na produtividade, como também capacita os colaboradores, promove o crescimento económico e gera novas oportunidades de emprego.

A digitalização também permite um controlo preciso dos processos críticos para reduzir o consumo de energia, minimizar os resíduos e, em última análise, melhorar a sustentabilidade de todo o ecossistema industrial.

O acesso aos dados, que são a força vital da indústria moderna, é fundamental para manter esta dinâmica, garantindo que as empresas continuam a produzir bens essenciais para a vida quotidiana, mas de forma eficiente e rentável, sem comprometer a sustentabilidade.

Superar os concorrentes na luta pelo talento

Enquanto ‘evangelistas’ da área industrial, temos de contar esta história convincente sobre como podemos alinhar-nos com os princípios da sustentabilidade para promover uma economia que gera crescimento económico sem prejudicar o planeta.

Todos nós – fabricantes, fornecedores de tecnologia e governos – devemos trabalhar em conjunto, mudando a narrativa em torno da indústria em grande escala, e posicionando-a não como um “mal necessário”, mas como um segmento inovador, ambientalmente responsável e socialmente consciente – ou seja, um catalisador de mudanças positivas.

As indústrias têm agora a oportunidade de integrar a Geração Z na sua força de trabalho, mas os empregadores precisam de mudar para tornar esta transição possível e garantir que atraímos os melhores talentos – hoje e no futuro.

Nota: A versão original deste artigo foi publicada no website do FEM.