Construir proximidade num vasto ecossistema: um percurso longo e engenhoso
Por Francisco Sommer, Operations Manager do SITIO
Em viagem, do outro lado do mundo, já todos experienciámos a sensação de conforto de chocarmos com algo que nos é familiar: uma língua em comum, um objeto que nos transporta para uma recordação de infância, um prato gastronómico com traços de casa. Estes momentos de encontro em locais inesperados são raros e preciosos, relembrando-nos de que podemos ter mais em comum com o outro do que esperávamos inicialmente.
Este sentido de familiaridade pode surgir de forma imprevisível e acidental, mas como profissional, estou certo de que há formas de criar culturas de proximidade que contribuem profundamente para a coesão de uma comunidade. A gestão operacional de um ecossistema obriga ao desenvolvimento de um sentido de observação minucioso.
Observar, reconhecer padrões, identificar pontos de entropia, avaliar sinergias por explorar. A busca por novos pontos de contacto e conexão, mais ou menos acidentais, convida-nos, então, a olhar para uma comunidade como um ecossistema cheio de interdependências. Algumas das principais lições que utilizo na gestão de operações, retirei do setor da hospitalidade, onde rapidamente aprendi que acrescentar valor não é apenas gerir camas, mas sim pensar o conforto do outro ao pormenor, o que pressupõe uma proximidade estratégica.
Além disso, cuidar de uma comunidade, gerir e responder às suas necessidades diárias, obriga ainda a uma predisposição para a vulnerabilidade e para o feedback, que realisticamente nem sempre é construtivo. Neste sentido, um dos ativos que mais valorizo enquanto gestor de comunidades inserido no ecossistema de inovação nacional, é o grau de sinceridade da comunidade pela qual sou responsável. Procuro medir o grau de coesão e saúde da comunidade onde estou inserido através deste indicador. Existe à vontade para comunicar fragilidades de forma construtiva? A informalidade e familiaridade trabalham a favor da melhoria da qualidade dos serviços oferecidos? Conheço o perfil dos membros dos espaços que giro?
Neste grau de sinceridade, simultaneamente fruto e catalisador de uma maior proximidade, pode estar a chave para um ecossistema profissional mais rico e resiliente. Afinal, como é que atingimos o grau desejável de proximidade, informalidade e familiaridade?
Uma coisa é certa, a contiguidade não é suficiente. A proximidade física quotidiana, o convívio em espaços de alimentação, os escritórios em open space são importantes, mas não são suficientes. É crucial ativar estas comunidades e criar os alicerces adequados para que se crie um ambiente de confiança e colaboração. Para quem trabalha no setor do coworking, é simples compreender que ter infraestruturas cómodas e estéticas e que gerir o grau de ocupação de secretárias de trabalho, não é suficiente para criar as condições necessárias para o florescimento de uma comunidade de profissionais inovadores com um elevado grau de criatividade e eficiência. As ideias podem coexistir em espaços comuns, mas parece-me mais interessante trabalhar para as fazer fluir.
O caminho para a fluidez dentro de um vasto ecossistema faz-se com engenho, experiência e até capacidade de improviso, não estivéssemos nós a lidar com seres humanos. Em suma, gerir operações passa por gerir pontos de encontro e choques estratégicos, maximizar o potencial da coexistência entre profissionais com backgrounds diversos e interesses em comum (que possivelmente desconhecem). A proximidade trabalha-se e o caminho é valioso.