Construir pontes ou muros?
Por Pedro Alvito, Professor de Política de Empresa na AESE Business School
“Construir pontes é próprio do cristão ao contrário de construir muros que só geram ódio.” Esta frase do falecido Papa Francisco tem-me feito pensar muito ultimamente. Até que ponto a mesma tem ou não aplicação em várias vertentes do nosso mundo, nomeadamente, no empresarial.
Numa altura em que na nossa sociedade estamos cada vez mais fechados ao outro e ao mundo, em que a cultura do eu (ou melhor do falso eu) praticada nas redes sociais, onde o ódio circula mais que o amor ou até que o simples respeito pelo outro, esta questão é imensamente relevante. Vivemos num mundo em que prevalece o “eu sei tudo e tenho direito a ter opinião sobre tudo, mesmo que não esteja informado ou conheça o assunto”. Em que eu tenho razão por que simplesmente quero e, pior que tudo, eu quero porque tenho direito, e o ter direito é simplesmente algo que eu me atribuo a mim próprio. Estarei a construir pontes ou muros?
Se virmos a questão dentro da Igreja então tudo se torna mais complicado. A prática do concordo com aquilo que acho que devo concordar e discordo do que não gosto abunda, e faço por modificar e interpretar as coisas como acho que deviam ser, é a religião do eu. Parece-me algo estranho que certos iluminados venham agora querer denegrir o Papa Francisco apontando pseudoquestões que só os envergonham pela pequenez das mesmas. Não sou daqueles que acha que alguém quando morre só teve qualidades como muitas vezes se apregoa. Mas também não posso passar a dizer mal de alguém e muito menos tentar com isso granjear “apoiantes” e “seguidores” para o meu lado, quando a minha responsabilidade é de construir pontes. Não será assim?
No nosso mundo é sabido o como não construir pontes agrava tudo: a economia, a política e o bem-estar dos cidadãos e, neste momento, vivemos tudo isto com um impacto brutal no nosso dia-a-dia. Nacional e internacionalmente procura-se mais destruir do que construir pontes, procura-se mais o lucro individual que o crescimento económico e a satisfação do ego pessoal do que o bem comum.
Tudo isto para chegar a nós. Sim, a nós que gerimos as empresas. O que fazemos? Vemos os nossos colaboradores como parte fundamental do ADN da empresa ou como um custo? Os fornecedores como parceiros da nossa atividade ou como uma entidade a vigiar e a espremer? E os nossos clientes como os primeiros a quem queremos satisfazer nas suas necessidades ou como um número de vendas a alcançar? E a sociedade que nos rodeia serve para satisfazer as nossas necessidades, não olhando a meios ou temos uma responsabilidade social real e não apenas para efeitos de marketing? Pois é! Somos construtores de pontes ou de muros?