Cibersegurança: a grande ausente da Campanha Eleitoral
Por Carlos Carvalho, CEO da Adyta
Num tempo em que a ameaça digital é uma constante global, surpreende o silêncio da política portuguesa sobre cibersegurança.
A poucos dias das eleições legislativas de 18 de maio, os programas eleitorais dos partidos apresentam propostas para quase tudo, desde a saúde, habitação, impostos, educação, mas ignoram de forma praticamente transversal um dos temas mais estratégicos da atualidade: a cibersegurança. É uma ausência tão gritante quanto perigosa, num contexto em que os riscos digitais se multiplicam e ganham sofisticação, afetando diretamente a vida das pessoas, o funcionamento das empresas e a integridade das instituições públicas.
Não se trata de um detalhe técnico, mas sim de soberania nacional, proteção de infraestruturas críticas e defesa da democracia. Num país onde hospitais, municípios e empresas têm vindo a ser vítimas de ataques informáticos e onde a digitalização do Estado avança a ritmo acelerado, não deve haver espaço para ingenuidade. Sem segurança digital, a modernização torna-se uma vulnerabilidade.
É verdade que Portugal dispõe do Centro Nacional de Cibersegurança (CNCS), que tem desempenhado um papel importante na promoção da resiliência do ciberespaço nacional. Apesar disso, atuação do CNCS não substitui a liderança política que a cibersegurança exige. E, nesse aspeto, falta uma visão clara e ambiciosa a nível político e governativo, que integre este tema nas grandes decisões nacionais — nas finanças e economia, na educação, na inovação, na defesa e nas relações internacionais.
Uma análise aos diferentes programas eleitorais, que concorrem a estas eleições legislativas, revela menções pontuais à transformação digital ou à capacitação do Estado, mas raramente surgem propostas concretas para garantir ciberdefesa, proteger dados, formar profissionais especializados ou articular esforços com o setor privado. Esta omissão é ainda mais preocupante quando comparada com o que já fazem outros países.
A Estónia é hoje amplamente reconhecida como uma referência global em governação digital segura, fruto das reformas estruturais implementadas após um ciberataque em 2007. Desenvolveram uma arquitetura digital baseada na interoperabilidade de sistemas públicos, proteção de dados descentralizada e uma infraestrutura em cloud altamente resiliente. Já no Reino Unido, a criação do National Cyber Security Centre permitiu estabelecer uma resposta coordenada
entre Estado, empresas e cidadãos, promovendo uma cultura nacional de ciber-resiliência. Israel posicionou-se como uma potência global em cibersegurança, combinando investimento intensivo em investigação e desenvolvimento com programas de formação altamente especializados, aplicados tanto no setor civil como na defesa.
Portugal não precisa de replicar esses modelos, mas deve, no mínimo, reconhecer que a cibersegurança já não é apenas uma opção, mas sim uma prioridade. E essa prioridade deve estar refletida nas agendas políticas, sob pena de continuarmos vulneráveis num cenário internacional cada vez mais volátil e interdependente.
A segurança digital é hoje tão essencial como a segurança física e ignorá-la nos compromissos eleitorais é comprometer e enfraquecer o futuro do país. Por outro lado, proteger o ciberespaço nacional é proteger a democracia, a economia e a confiança dos cidadãos. E essa responsabilidade começa — ou falha — nas decisões políticas de hoje.