“Back to the future”: fazer cidade através da requalifficação

Por Miguel Valério, Head of Facility Management da Critical Software

A requalificação de edifícios históricos passa pela integração de diversos conceitos que ultrapassam a simples conservação física, transformando o projeto numa proposta holística. No fundo, impacta a comunidade envolvente pela forma como une o Passado, Presente e Futuro, ou, por outras palavras, a História, a funcionalidade e a inovação.

A preservação do património vai muito além de manter as paredes e fachadas intactas. Trata-se de recuperar a essência e a memória de um edifício, de modo a respeitar e preservar a sua identidade e, simultaneamente, integrar elementos que respondam ms exigências atuais. Este processo de preservação e recuperação, acaba por ter um impacto positivo, tanto a nível interno como externo.

O resgate da essência e memória dos edifícios, permite, ainda que com uma nova imagem, que a história se manifeste, por meio da restauração e valorização de detalhes arquitetónicos originais com materiais históricos, enriquecendo o seu valor simbólico e promovendo, ao mesmo tempo, uma continuidade histórica. Esta abordagem deve integrar-se harmoniosamente em novos projetos, reinterpretando elementos históricos e combinando-os com soluções contemporâneas para criar um espaço funcional, confortável e projetado para o futuro.

Mais do que preservar paredes, a reabilitação útil exige a reinvenção do espaço. É crucial repensar a sua distribuição interior, melhorar a acessibilidade, otimizar a iluminação natural e criar ambientes multifuncionais que incentivem a partilha, criatividade e inovação. É ao passar por este processo que o edifício deixa de ser apenas um testemunho do passado, transformando-se num catalisador para novas formas de utilização e interação social.

Mas nem só na história conseguimos ver os efeitos da requalificação de edifícios. Também o impacto no tecido urbano e na cidade é positivo. A reabilitação de um edifício histórico, sobretudo quando devoluto, tem um efeito transformador na envolvente urbana. Ao recuperar um espaço abandonado, cria-se uma âncora, geralmente cultural e económica, na cidade. Estas antigas zonas esquecidas, passam a atrair novos investimentos e a fomentar a regeneração da malha urbana. Além disso, transformam-se em pontos de referência que redefinem a identidade visual e histórica do local, servindo como marcos para iniciativas culturais e recreativas.

Ao incentivar a integração social e económica, contribui, consequentemente, para a segurança, o bem-estar e a criação de empregos, dinamizando a economia local. Em termos abstratos, fortalece, ainda, o orgulho cívico, reforçando o sentimento de pertença ao património revitalizado.

A par da requalificação, também a implementação de práticas sustentáveis é imprescindível para criar edifícios que sejam, simultaneamente, respeitadores do património e alinhados com as exigências ambientais contemporâneas. Obter certificações como o BREEAM (Building Research Establishment Environmental Assessment Method) potencia o ciclo de vida do edifício.

Nesta temática, há ainda espaço para a digitalização dos edifícios históricos. Esta é uma realidade fascinante e que potencializa a sua eficiência e adaptabilidade. A implementação de IoT e IA nos edifícios será cada vez maior e mais abrangente, para permitir a monitorização de dados que suportem a tomada de decisões, como o consumo energético, a manutenção dos sistemas e a otimização da gestão, melhorando, consequentemente, o bem-estar dos utilizadores. Esta sinergia tecnológica, não só moderniza a operação, como os torna mais resilientes, inteligentes, sustentáveis e preparados para enfrentar os desafios atuais e futuros. 

Contudo, a requalificação de um edifício histórico para novos usos, como por exemplo escritórios, apresenta desafios consideráveis, nomeadamente na compatibilização do edificado passado com a implementação de tecnologias modernas, enquanto se preserva, ao mesmo tempo, o património. Ainda assim, as oportunidades são vastas e ultrapassam os desafios. Isto concede potencial multifuncional aos espaços, tornando-os mais atrativos para negócios de diferentes escalas, desde startups até grandes empresas.

A reabilitação de edifícios históricos devolutos, em particular, revela-se como uma intervenção crucial para reativar o tecido urbano e revitalizar áreas esquecidas, contribuindo para a criação de pólos mais vibrantes, mais seguros e mais inclusivos. Estes locais transformam-se em referências de funcionalidade, que respeitam a identidade histórica, mas que, acima de tudo, conseguem adaptar-se ms exigências atuais. Esta deve ser sempre a prioridade de uma reabilitação: servir o propósito de utilização atual e futura, num contexto brutalmente dinâmico. Essencialmente, fazer cidade.