Acessibilidade digital: buzzword de 2025 ou oportunidade?
Por Filipa Moreno, UX Writer na Tangível
Precisa de óculos para ver bem? Tem dificuldades de memória? Um tremor limita os seus movimentos?
Se se revê nestes exemplos, então, está no grupo de pessoas que vivem com deficiência, seja física, mental, intelectual ou sensorial. Na definição da Organização das Nações Unidas, explica-se ainda que estas pessoas têm a sua participação na sociedade diminuída pelas barreiras que encontram.
Mas há boas notícias.
A primeira é que, se se identificou com alguma destas situações, não está sozinho. Na Europa, existem 87 milhões de pessoas com deficiência. (Para ter uma ideia, estamos a falar de mais de 8 vezes a população portuguesa.)
A segunda é que entra em vigor, em junho de 2025, uma nova legislação para regular a acessibilidade digital na Europa, em 28 de junho de 2025. Todas as empresas que disponibilizam sites, aplicações móveis e outras interfaces digitais aos seus clientes passam a ser obrigadas a cumprir requisitos de acessibilidade digital. Falamos, por exemplo, de setores como os transportes, a comunicação social e os meios audiovisuais, a banca e os serviços financeiros. Se tem um terminal de autosserviço com o qual os seus clientes interagem, também está abrangido.
Se não se identifica com aqueles cenários, deixe-me fazer-lhe outras perguntas.
- Já preparou o jantar com um filho ao colo?
- Andou de braço ao peito depois de um acidente?
- Ficou com a sensação de ouvidos tapados quando viajou de avião?
- Esqueceu-se de algo importante depois de um dia muito cansativo?
- Precisou de pesquisar uma palavra complicada ao entregar o IRS?
Então, esta mensagem também é para si.
Veja a deficiência como uma limitação, que tanto pode ser permanente (não ver muito bem), mas também temporária (uma enxaqueca provoca-lhe sensibilidade à luz).
Se pensarmos assim, é fácil perceber que todos nós temos, passámos ou ainda vamos encontrar algum tipo de limitação na nossa vida. Lembre-se que há capacidades físicas e cognitivas que diminuem com a idade da próxima vez que os seus pais lhe pedirem ajuda com o Whatsapp. Em Portugal, 2,5 milhões de pessoas têm mais de 65 anos.
A terceira boa notícia é que, daqui por 6 meses, quando a acessibilidade digital estiver balizada pela lei, todos ficamos a ganhar com produtos e serviços mais acessíveis. Um produto com o qual se pode interagir por voz é útil para quem não vê, mas também para quem tem as mãos ocupadas e se lembrou de que falta leite na lista das compras.
A acessibilidade digital significa que devemos procurar desenhar websites, aplicações, tecnologias, ferramentas, produtos e serviços de forma inclusiva, para garantir o acesso de todas as pessoas, independentemente das suas características.
Se trabalha numa empresa que vai ter de implementar requisitos de acessibilidade digital, fica aqui um desafio.
Mais do que ver a nova legislação como uma obrigação a cumprir, pense na acessibilidade como uma oportunidade. Lembre-se que a esmagadora maioria dos utilizadores com deficiência escolhe fazer as suas compras em sites com menos barreiras – não necessariamente com os melhores preços. Falamos de barreiras como:
- contraste insuficiente do texto: imagine um cliente não poder ver o botão onde conclui uma compra;
- falta de texto alternativo: se o cliente não pode aceder a uma descrição textual do seu produto, será que vai comprá-lo?
- campos de preenchimento sem identificação: para subscrever uma newsletter, onde deve o utilizador inserir o seu endereço de email?
A acessibilidade é uma oportunidade de trazer todas as pessoas para dentro da conversa. Não vai estar só a ajudar o seu negócio a abrir-se ao mercado das pessoas com deficiência. Vai estar também a tornar o seu produto ou serviço mais inclusivo.
E, mais do que isso, vai estar a melhorar o mundo para os seus pais, os seus filhos e para si próprio.
Afinal, não é para isso que aqui estamos?