O velho continente é casa de grandes inovadores – e precisa de os reunir

Opinião de Miguel Ricardo, General Manager do SITIO

Francisco Laranjeira
Setembro 16, 2025
10:01

Por Miguel Ricardo, General Manager do SITIO

A Europa atravessa um momento crítico. Entre desafios globais e instabilidade crescente, torna-se claro que o futuro do continente depende da sua capacidade de se reinventar. Já não basta proteger os seus legados históricos: é preciso imaginar o que vem a seguir — e isso exige uma cultura de inovação que seja viva, aberta e ambiciosa.

Inovar, neste contexto, é mais do que criar tecnologia ou acelerar startups. É garantir que existem as infraestruturas certas para que a inovação floresça: políticas públicas, talento qualificado, investimento estratégico — e, não menos importante, espaços físicos que sirvam de ponto de encontro entre quem pensa, quem faz e quem investe.

O espaço tem um papel muitas vezes invisível, mas fundamental. É no espaço que se cruzam ideias, que se testam projetos, que se constroem redes de confiança. Precisamos de cidades e edifícios que sejam catalisadores de colaboração, onde academia, empresas, empreendedores e decisores públicos possam partilhar visão, conhecimento e recursos. Não se trata apenas de inaugurar coworks ou hubs tecnológicos — trata-se de criar ecossistemas vivos, com vocação internacional, preparados para atrair talento e capital.

O relatório Draghi, publicado no final de 2024, aponta exatamente neste sentido: a competitividade europeia passa pela capacidade de atrair mentes brilhantes de outros continentes, de não desperdiçar talento local, e de criar pólos efervescentes de inovação no território europeu. A Europa precisa de voltar a ser palco — não apenas espectadora — do futuro que se desenha à escala global.

Portugal, pela sua dimensão e agilidade, pode e deve assumir um papel ativo nesta transformação. Para isso, é urgente criar condições claras para atrair investimento. Investimento financeiro, sim — mas também humano e intelectual. Precisamos de mostrar ao mundo que temos mais do que boas ideias: temos um ecossistema em construção, com capacidade de escala, de receção e de impacto.

Os espaços de encontro adequados podem parecer pequenas sementes, mas ganham força quando inseridos numa estratégia nacional de afirmação europeia. A formação, a socialização, o ambiente circundante, são estruturas que definem a qualidade da inovação. A forma como trabalhamos, como nos movimentamos, como arquitetamos as cidades, são todos pressupostos que merecem ser trabalhados e moldados por mentes inovadoras capazes de identificar vulnerabilidades e oportunidades.

A Europa tem tudo para voltar a liderar. Mas não basta a memória: é preciso investimento, visão e vontade de reunir. Porque, no fim, saber inovar é saber criar as condições para que outros inovem — um ponto de encontro de cada vez.

Partilhar

Edição Impressa

Assinar

Newsletter

Subscreva e receba todas as novidades.

A sua informação está protegida. Leia a nossa política de privacidade.