O ‘suicídio mais belo’ foi capa de revista há 77 anos. Arte ou sensacionalismo?

Foi numa manhã de 12 de maio de 1947, que os quiosques de Nova Iorque se encheram com a chegada dos jornais e revistas do dia e, em destaque, a capa da revista Life, famosa pelo seu papel no fotojornalismo da época, exibia uma imagem que viria a chocar e provocar reflexões profundas.

Pedro Gonçalves
Maio 11, 2024
17:30

Foi numa manhã de 12 de maio de 1947, que os quiosques de Nova Iorque se encheram com a chegada dos jornais e revistas do dia e, em destaque, a capa da revista Life, famosa pelo seu papel no fotojornalismo da época, exibia uma imagem que viria a chocar e provocar reflexões profundas.

A fotografia retratava uma cena perturbadora: uma jovem elegantemente vestida, aparentemente dormindo em paz, estava deitada de costas sobre um carro. No entanto, a tranquilidade da cena contrastava com os detalhes inquietantes: a ausência de sapatos, as meias rasgadas e o teto afundado do veículo indicavam que algo terrível havia acontecido.

“Aos pés do Empire State Building, o corpo de Evelyn McHale repousa em calma sobre um ‘caixão’ grotesco, incrustado no tejadilho de um carro”, revelava o texto ao lado da fotografia. Tratava-se de uma imagem captada após a jovem cometer suicídio.

A tragédia por trás da imagem remontava a apenas quatro minutos antes da captura da fotografia. Evelyn McHale, uma jovem de 23 anos, havia decidido pôr fim à sua vida, lançando-se da varanda do Empire State.

Surpreendentemente, apesar da queda de 340 metros, o corpo de Evelyn permaneceu relativamente intacto. O estudante de fotografia Robert C. Wiles, que passava pelo local, ouviu o estrondo e rapidamente registrou a cena com sua câmara.

Após alguns dias de debate, “O Suicídio Mais Belo” foi escolhido como a “Foto da Semana” pela revista Life. Embora tenha sido criticada por muitos como sensacionalista e mórbida, a imagem de Evelyn McHale destacou-se como um marco na história da fotografia e do jornalismo.

“Achamos que era um exemplo de uma foto que diz mais do que as palavras, que faz um grande comentário sobre a vida”, explicou Wilson Hicks, o editor de fotografia da Life na época, recorda o El Confidencial.

A fotografia de Evelyn McHale desencadeou uma série de reflexões sobre a ética jornalística e os limites da representação visual da morte. Enquanto alguns defendiam que a imagem poderia sensibilizar o público para questões relacionadas à saúde mental e ao sofrimento humano, outros questionavam se a exposição da tragédia de Evelyn McHale era desrespeitosa para com ela e a respetiva família.

No entanto, além das polémicas levantadas, a imagem de Evelyn McHale inspirou uma série de obras de arte e influenciou a cultura popular.

Mais de setenta anos depois, artistas como Andy Warhol apropriaram-se da fotografia para criar obras que exploravam questões de mortalidade e beleza. A imagem também inspirou capas de álbuns musicais, campanhas publicitárias e até mesmo videoclipes, como o famoso ‘Bad Blood’ de Taylor Swift, que começa precisamente com a cantora norte-americana a cair de um arranha-céus, e a cair em cima do tejadilho de um carro.

Apesar de suas origens trágicas, a fotografia de Evelyn McHale levanta questões sobre a natureza da arte e da representação visual. Será a imagem de Evelyn McHale uma obra de arte legítima, ou simplesmente uma exploração mórbida da tragédia humana? Essa é uma questão que permanece em aberto e que continua a gerar debates entre críticos, artistas e espectadores.
“É uma imagem de grande beleza trágica, mas é uma beleza”, afirmou o fotógrafo Robert C. Wiles em uma entrevista anos depois.

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