Foi numa manhã de 12 de maio de 1947, que os quiosques de Nova Iorque se encheram com a chegada dos jornais e revistas do dia e, em destaque, a capa da revista Life, famosa pelo seu papel no fotojornalismo da época, exibia uma imagem que viria a chocar e provocar reflexões profundas.
A fotografia retratava uma cena perturbadora: uma jovem elegantemente vestida, aparentemente dormindo em paz, estava deitada de costas sobre um carro. No entanto, a tranquilidade da cena contrastava com os detalhes inquietantes: a ausência de sapatos, as meias rasgadas e o teto afundado do veículo indicavam que algo terrível havia acontecido.
“Aos pés do Empire State Building, o corpo de Evelyn McHale repousa em calma sobre um ‘caixão’ grotesco, incrustado no tejadilho de um carro”, revelava o texto ao lado da fotografia. Tratava-se de uma imagem captada após a jovem cometer suicídio.
A tragédia por trás da imagem remontava a apenas quatro minutos antes da captura da fotografia. Evelyn McHale, uma jovem de 23 anos, havia decidido pôr fim à sua vida, lançando-se da varanda do Empire State.

Surpreendentemente, apesar da queda de 340 metros, o corpo de Evelyn permaneceu relativamente intacto. O estudante de fotografia Robert C. Wiles, que passava pelo local, ouviu o estrondo e rapidamente registrou a cena com sua câmara.
Após alguns dias de debate, “O Suicídio Mais Belo” foi escolhido como a “Foto da Semana” pela revista Life. Embora tenha sido criticada por muitos como sensacionalista e mórbida, a imagem de Evelyn McHale destacou-se como um marco na história da fotografia e do jornalismo.
“Achamos que era um exemplo de uma foto que diz mais do que as palavras, que faz um grande comentário sobre a vida”, explicou Wilson Hicks, o editor de fotografia da Life na época, recorda o El Confidencial.
A fotografia de Evelyn McHale desencadeou uma série de reflexões sobre a ética jornalística e os limites da representação visual da morte. Enquanto alguns defendiam que a imagem poderia sensibilizar o público para questões relacionadas à saúde mental e ao sofrimento humano, outros questionavam se a exposição da tragédia de Evelyn McHale era desrespeitosa para com ela e a respetiva família.
No entanto, além das polémicas levantadas, a imagem de Evelyn McHale inspirou uma série de obras de arte e influenciou a cultura popular.
Mais de setenta anos depois, artistas como Andy Warhol apropriaram-se da fotografia para criar obras que exploravam questões de mortalidade e beleza. A imagem também inspirou capas de álbuns musicais, campanhas publicitárias e até mesmo videoclipes, como o famoso ‘Bad Blood’ de Taylor Swift, que começa precisamente com a cantora norte-americana a cair de um arranha-céus, e a cair em cima do tejadilho de um carro.
Apesar de suas origens trágicas, a fotografia de Evelyn McHale levanta questões sobre a natureza da arte e da representação visual. Será a imagem de Evelyn McHale uma obra de arte legítima, ou simplesmente uma exploração mórbida da tragédia humana? Essa é uma questão que permanece em aberto e que continua a gerar debates entre críticos, artistas e espectadores.
“É uma imagem de grande beleza trágica, mas é uma beleza”, afirmou o fotógrafo Robert C. Wiles em uma entrevista anos depois.













