“O ritmo do mundo impulsiona mudanças de hábitos a todos os níveis, incluindo os pagamentos”, Telmo Santos, co-CEO da Eupago

O sector dos pagamentos digitais em Portugal tem vivido uma profunda transformação nos últimos anos, impulsionada pela inovação tecnológica e pela rápida adaptação dos consumidores a novas formas de comprar e pagar.

André Manuel Mendes
Setembro 16, 2025
9:53

Telmo Santos, co-CEO da Eupago, explica como o mercado tem evoluído, de que forma as novas tecnologias como o open banking, os pagamentos instantâneos ou a inteligência artificial estão a redesenhar a experiência de pagamento, e quais os desafios que a instabilidade geopolítica e a crescente fragmentação global trazem ao sector financeiro.
Em conversa com a Risco, o responsável sublinha também o papel da Eupago na promoção da inclusão financeira em Portugal e partilha a sua visão sobre o futuro dos pagamentos, cada vez mais integrados no quotidiano dos consumidores – mais rápidos, mais seguros e sem barreiras geográficas.

Como tem evoluído o sector dos pagamentos digitais em Portugal nos últimos anos?
Na nossa perspectiva, a evolução tem sido muito positiva. O sector dos pagamentos digitais em Portugal tem sido impulsionado pela inovação tecnológica e a mudança de hábitos de consumo tem sido também uma indispensável aliada. Prova disso é que, segundo um relatório do Banco de Portugal, em 2023 foram processados, em média, 11,6 milhões de pagamentos de retalho por dia, totalizando 2 mil milhões de euros diários. É de destacar o aumento dos pagamentos contactless, que representaram cerca de 47% do total, e das transferências imediatas, que cresceram mais de 33% em quantidade e valor.
Este tem sido o contexto de transformação sobre o qual temos levado a nossa missão de democratizar os pagamentos, já há 10 anos, para junto de consumidores e empresas. 

Que tendências tecnológicas estão a moldar o futuro dos pagamentos?
Se falamos de tecnologia e pagamentos, pensamos logo em pagamentos instantâneos: soluções como o Bizum ou o EuroPix – ambas lançadas pela Eupago em Portugal – permitem fazer transacções imediatas quebrando barreiras internacionais. O open banking, área na qual somos pioneiros a nível nacional, é particularmente marcante por permitir a partilha segura de dados bancários com o consentimento do utilizador e, com isto, novas abordagens de gestão financeira e pagamentos directos entre contas.
Já a questão das criptomoedas é algo que observamos com algum interesse. Não podemos ignorar a sua penetração em alguns contextos, mas ainda estamos longe de uma adopção massiva, devido ao contexto da evolução da regulação. A propósito, as notícias em Março da permissão do regulador espanhol em aprovar que o BBVA possa transaccionar com criptoactivos são um indicador de que poderá não tardar muito até que algo semelhante possa chegar a Portugal. Do lado da Eupago, enquanto intervenientes no sector dos pagamentos digitais, estamos mais que dispostos a colaborar num eventual futuro processo de adopção destes meios de pagamento.
Por detrás disto tudo está, no entanto, a questão da Inteligência Artificial – nomeadamente através de agentes ou da generativa – e das novas tecnologias aplicadas ao mundo financeiro, como seja a blockchain. Creio que qualquer tendência que se venha a afirmar neste sector trará consigo também algo de disruptor assente neste tipo de tecnologia.

Como é que os consumidores e as empresas estão a mudar os seus hábitos de pagamento?
O ritmo do mundo, actualmente, impulsiona mudanças de hábitos a todos os níveis, incluindo os pagamentos. Hoje em dia, o foco, para além de ser a celeridade, recai muito sobre a facilidade de uso e, sobretudo, a segurança. Quanto à acessibilidade, existe uma panóplia de formas simples através das quais podemos pagar com o nosso telemóvel: pay by link, QR codes e as conhecidas aplicações bancárias são os exemplos mais imediatos.
Simultaneamente, as empresas procuram automatizar processos de forma a reduzir falhas de pagamento e oferecer diferentes soluções aos clientes. É aqui que as soluções de pagamento da Eupago se distanciam de outras, porque vão além de uma simples gateway de pagamentos: o serviço é integrado e personalizado, o que leva a que as empresas consigam optimizar a gestão do negócio, automatizar os processos de forma a responder às novas preferências de consumo e, claro, aumentar a conversão de vendas. O importante, e que trabalhamos em conjunto com os nossos parceiros, é preparar estes sistemas para adaptações ágeis.

A instabilidade geopolítica global está a afectar o sector dos pagamentos?
Sem dúvida. A instabilidade geopolítica tem efeito imediato na inflação e em tensões comerciais que afectam directamente os cursos de operações, o comportamento dos consumidores – e acaba por tornar os fluxos financeiros internacionais menos previsíveis.
Desta forma, na nossa óptica, a maior prioridade é continuar a assegurar a segurança das transacções; do nosso lado, temos trabalhado para reforçar os sistemas de monitorização para garantir as operações seguras independentemente do contexto macroeconómico.

Como é que a Eupago se prepara para cenários económicos adversos, como recessões ou quebras no consumo?
Em momentos de incerteza, a preparação é a melhor resposta e temos de ser ágeis a dá-la. Para a Eupago, a segurança e a inovação contínua têm de ser prioridades e não podem andar dissociadas. Além disso, apostamos em parcerias sólidas e tecnologia própria que nos dá mais celeridade para ajustar modelos operacionais e responder a desafios de consumo, ou alterações no comportamento de pagamento. É com base nestes pilares que sentimos que estamos preparados para responder a situações menos agradáveis e que nos apanham de surpresa.

Que impacto pode ter a crescente fragmentação global nos fluxos financeiros e na regulação?
Desde logo, podem levar a uma divergência regulatória e a maiores barreiras nos fluxos financeiros internacionais. Com isto, será da máxima importância manter a competitividade, sem comprometer as operações, do lado das empresas; nem a experiência do consumidor.
Aos intervenientes do sector, e aqui nomeadamente às fintechs, será requerida maior agilidade na adaptação aos requisitos legais de cada bloco, como sejam regras de protecção de dados ou questões de licenciamento operacional. Acho que o sector irá atravessar um fenómeno darwinista neste sentido: quem não conseguir desenvolver as competências necessárias para actuar e prosperar, em contextos políticos mais polarizados, ficará pelo caminho.

De que forma a Eupago contribui para a inclusão financeira em Portugal?
A inclusão financeira em Portugal passa pelo acesso fácil aos meios de pagamento, pela simplicidade e confiança no processo. A par disto, e que é um dos nossos factores de diferenciação nesta era mais digitalizada, é mesmo a questão do acompanhamento em todas as fases da experiência de pagamento.
O nosso foco é, sempre em primeiro lugar, o cliente. É com base na nossa comunidade de comerciantes e utilizadores que temos evoluído para oferecer soluções como o EuroPix – que permite aos consumidores brasileiros realizar compras com maior comodidade e sem barreiras cambiais na Península Ibérica – ou o Bizum, que trouxemos de Espanha para cá.
São dois exemplos óbvios de como o nosso compromisso é criar soluções fluidas e integradas para aumentar a inclusão financeira e promover o acesso equitativo a serviços financeiros simples.
Por outro lado, as nossas soluções têm vindo a alargar as suas compatibilidades, inclusive com sistemas de facturação, o que permite a qualquer empresa, mesmo de pequena dimensão, aceitar pagamentos digitais – indo também de encontro à nossa missão de democratizar os pagamentos. 

Como imagina que será a experiência de pagamento dentro de 5 a 10 anos?
Será sem dúvida mais integrada na nossa vida. Acho que o ponto-chave assentará na questão do omnicanal e invisibilidade, ou seja, pagamentos directamente integrados em experiências (e já temos alguns exemplos, como lojas de supermercado sem caixas).
A identidade digital através de autenticação biométrica também será, claramente, algo que vem substituir a necessidade de cartões e palavras-passe. A IA irá também evoluir para apresentar métodos de pagamento personalizados e adaptados aos hábitos do utilizador, e iremos caminhar para soluções com pegada ecológica cada vez mais diminuta.
Por fim, acreditamos que a questão de pagamentos transfronteiriços terá cada vez menos fricção, nomeadamente com a ajuda de produtos como o EuroPix por exemplo; o futuro a nosso ver, nesta indústria, é algo sem fronteiras. 

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