“O relógio da história não pode voltar atrás”: irmã de Kim Jong-un deixa aviso à Coreia do Sul (e ao Ocidente)

Num comunicado divulgado esta segunda-feira, Kim Yo-jong afirma que a coreia do Norte não tem “qualquer interesse” em negociações com o Sul, “independentemente de que proposta seja feita”.

Pedro Gonçalves
Julho 28, 2025
12:26

A poderosa irmã do líder norte-coreano Kim Jong-un voltou a endurecer o discurso contra a Coreia do Sul 8e aos respetivos aliados ocidentais, em particular aos EUA), sendo que rejeita por completo qualquer possibilidade de diálogo entre os dois países e reafirmando que Seul continua a ser o “inimigo”, apesar das recentes tentativas do novo governo sul-coreano para aliviar tensões ao longo da zona desmilitarizada.

Num comunicado divulgado esta segunda-feira pela agência estatal norte-coreana KCNA, Kim Yo-jong, que é considerada uma das figuras mais influentes do regime e cada vez mais apontada como possível sucessora do irmão, afirma que a coreia do Norte não tem “qualquer interesse” em negociações com o Sul, “independentemente de que proposta seja feita”.

estas afirmações surgem como a primeira resposta oficial de Pyongyang à nova administração sul-coreana, liderada por por Lee Jae-myung, que assumiu funções a 4 de junho, após um período de instabilidade política marcado pela controversa declaração da lei marcial pelo ex-presidente Yoon Suk-yeol em dezembro — uma medida anulada pela Assembleia Nacional apenas seis horas depois de ter sido imposta.

Apesar das medidas conciliatórias adotadas pelo governo de Lee, como a suspensão das emissões de propaganda através de altifalantes na fronteira e o fim da distribuição de panfletos lançados de balões para o Norte, Kim Yo-jong sublinhou que estas não apagam a “mancha” provocada pela aliança militar entre Seul e Washington.

“A reafirmação da aliança com os Estados Unidos demonstra que não há qualquer hipótese de melhorar as relações Norte-Sul”, declarou a irmã de Kim Jong-un, acrescentando que o novo executivo é “pouco diferente” do anterior e que mantém uma “confiança cega” nos laços com os EUA.

A declaração é particularmente significativa num contexto em que a Coreia do Norte tem vindo a adotar uma postura cada vez mais isolacionista. Em 2024, o regime de Pyongyang abandonou formalmente a política de reunificação pacífica com o Sul, tendo inclusive ordenado a destruição de estradas e pontes que ligavam ambos os lados da península coreana.

A resposta da Coreia do Sul a essa destruição incluiu disparos de advertência das suas forças armadas em outubro, do lado sul da linha de demarcação militar, acompanhados de uma reafirmação do compromisso com uma “postura de prontidão total em cooperação com os EUA”.

Ainda assim, o atual governo de Lee Jae-myung insiste numa abordagem menos belicista. Esta segunda-feira, o Ministério da Unificação de Seul emitiu um comunicado reafirmando a vontade de manter abertos os canais de diálogo com Pyongyang.

“O governo esforçar-se-á constantemente por criar relações intercoreanas de reconciliação e cooperação e por alcançar a coexistência pacífica na península coreana, sem reagir impulsivamente à retórica da Coreia do Norte”, afirmou o porta-voz Koo Byoung-sam.

Koo acrescentou ainda que os comentários de Kim Yo-jong, apesar de firmes, não foram tão hostis ou insultuosos como noutros momentos do passado, o que poderá indicar que Pyongyang se encontra numa fase de observação atenta da nova administração em Seul. No entanto, advertiu que “o muro de desconfiança entre as duas Coreias continua muito elevado”.

Para já, Kim Yo-jong deixa claro que “não pode haver mudança na compreensão que o nosso Estado tem do inimigo” e que “não se pode voltar atrás no relógio da história”, afastando qualquer hipótese de aproximação no curto prazo.

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