O que o novo e gigante navio da BYD diz sobre os seus negócios

Desde as baterias ao transporte final dos automóveis, a BYD tem uma integração completamente vertical do negócio. O resultado: já é a maior fabricante de eléctricos

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Setembro 12, 2025
12:11

Por: Next Big Idea Club, Fast Company

Algures em 1995, a BYD era uma fabricante de baterias pouco conhecida. Hoje, é a maior produtora de veículos eléctricos do mundo, tendo ultrapassado a Tesla em vendas globais em 2024. Este crescimento reflecte um foco incansável na automatização e na integração vertical. A empresa controla cada parte da cadeia de abastecimento. Fabrica as suas próprias baterias, com recursos inigualáveis na indústria, inclusive extraindo matérias-primas como o lítio. As suas fábricas são maravilhas robóticas com 97% de produção autónoma, produzindo um fluxo interminável de automóveis melhores do que os equivalentes ocidentais, com preços mais baixos. E também transporta os seus próprios automóveis pelo mundo com a sua própria frota especialmente concebida para transportar automóveis.
O mais recente dos navios é também o maior do género no planeta: o BYD Shenzhen, que acaba de zarpar para o Brasil na sua primeira missão. Este navio colossal foi concebido para transportar apenas carga com rodas, o que é tecnicamente designado por embarcação “roll-on/roll-off” (Ro-Ro). Ao contrário dos navios porta-contentores comuns, onde os veículos são embalados em caixas e contentores, os navios Ro-Ro permitem que os carros sejam levados directamente para o convés através de rampas, tornando o carregamento e o descarregamento mais rápidos. São muito mais eficientes de operar do que os navios de transporte comuns porque cada minuto poupado no carregamento e descarregamento traduz-se em grandes poupanças financeiras para a empresa.
Como salientou Wang Junbao, general manager da BYD, na cerimónia de entrega em Shenzhen: «O seu sistema de carregamento eficiente e as tecnologias de protecção avançadas para uma logística estável e de baixo carbono serão essenciais para a estratégia de globalização [da empresa].»

O que tem o navio da BYD de tão especial?
Com 229 metros de comprimento — quase o dobro do comprimento de um campo de futebol — o Shenzhen é o maior cargueiro em capacidade, transportando 9200 veículos em 16 andares.
Segundo a empresa, o projecto do navio prioriza a eficiência e a sustentabilidade. Utiliza motores de combustível duplo a gás natural liquefeito (GNL), que queimam GNL, uma alternativa mais limpa ao gasóleo marítimo tradicional. O GNL reduz as emissões de óxido de enxofre em 99% e de óxidos de azoto em 85%, alinhando-se com as regulamentações ambientais mais rigorosas em mercados como o europeu. O Shenzhen conta ainda com tinta anti-incrustante, um revestimento que reduz o arrasto ao impedir que os organismos marinhos se agarrem ao casco, melhorando a eficiência de combustível até 8%. Emprega também geradores de eixo, dispositivos que convertem o excesso de potência do motor em electricidade, reduzindo a dependência de geradores a gasóleo poluentes. Embora a BYD não tenha especificado completamente os seus conjuntos de baterias tipo caixa patenteados a bordo, a sua inclusão sugere esforços para electrificar os sistemas auxiliares, reduzindo ainda mais as emissões.

Por que razão a BYD construiu este gigante
A decisão da BYD de investir em navios decorre do seu crescimento explosivo. A empresa vendeu cerca de 455 mil veículos em 2019, aumentando para aproximadamente 740 mil unidades em 2021 e mais do que duplicando em 2022 para 1,9 milhões. Este crescimento sobrecarregou as redes logísticas existentes. Sabendo para onde vai, a BYD anunciou que iria investir 605 milhões de euros para construir a sua própria frota Ro-Ro de sete navios. Os custos de transporte de terceiros dispararam, com as taxas de fretamento diárias a atingirem os 130 mil euros por embarcação em 2024. Para contextualizar, o aluguer de um único navio por um mês poderia custar quatro milhões de euros. A empresa calcula que as despesas de envio por veículo caiam 30% a 40% com a sua frota própria, poupando até 1,2 mil milhões de euros anualmente.
«A BYD planeia implementar sete transportadores de automóveis nos próximos dois anos para fazer face à escassez de capacidade de transporte na exportação de automóveis», declarou Wang Chuanfu, fundador e chairman da empresa, no ano passado. Ainda faltam três, incluindo o gémeo de Shenzhen, o BYD Changsha, que será lançado em breve. Não há dúvida de que a empresa precisará deles. As remessas para o exterior aumentaram 124% em termos homólogos, para 133 361 veículos no primeiro trimestre de 2025, e a empresa deverá exportar 800 mil veículos para todo o mundo este ano. Este crescimento exponencial — que, segundo os analistas, irá manter-se na casa dos dois dígitos nos próximos anos — é a razão pela qual a empresa tenciona fabricar ainda mais embarcações. Até 2026, a frota de sete navios da BYD pretende transportar mais de um milhão de veículos anualmente (ou 83 300 por mês, o equivalente a nove viagens a Shenzhen). Isto significa um carro enviado a cada 30 segundos, se quiser um número ainda mais impressionante. A BYD não é a única empresa que o faz, mesmo tendo o maior navio actualmente. A sua estratégia reflecte uma mudança mais ampla entre as fabricantes de automóveis chinesas. A SAIC Motor, a segunda maior fabricante de automóveis da China, opera 31 navios através do seu braço logístico, a Anji Logistics, incluindo o SAIC Anji Sincerity, com 7600 veículos. Ao contrário da BYD, a SAIC transporta automóveis de diversas marcas, incluindo de rivais. Mas a frota da BYD será reservada principalmente para os seus próprios veículos, por pura necessidade. Globalmente, a Hyundai Glovis, subsidiária de logística da Hyundai, gere 60 navios e acaba de encomendar uma dúzia de transportadores movidos a GNL com capacidade para 10 800 veículos. Embora seja maior, a Glovis serve terceiros, como a Toyota e a Volkswagen. As fabricantes de automóveis tradicionais dependem de parcerias com empresas de transporte, um modelo que a BYD evita, procurando, em vez disso, controlar todos os aspectos da cadeia de produção (a tecnologia, o nível de automatização, a qualidade e o preço) para esmagar a concorrência. É difícil imaginar a Tesla sitiada ou qualquer outro fabricante ocidental a igualar este tipo de integração vertical. O enorme BYD Shenzhen é mais um lembrete de que a corrida pela supremacia dos veículos eléctricos pode já ter uma vencedora. 

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