O ‘cavalo de Troia’ de Bruxelas: como Orbán trava a rota europeia da Ucrânia

Na cimeira informal que se realiza em Copenhaga, os líderes europeus vão debater estratégias para “neutralizar” o que alguns responsáveis descrevem como o “cavalo de Troia” de Moscovo dentro do bloco

Francisco Laranjeira
Outubro 1, 2025
16:35

Donald Trump continua a adotar uma postura oscilante face à Ucrânia, enquanto a União Europeia enfrenta um bloqueio interno: o veto persistente do primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, que tem impedido decisões de apoio a Kiev e colocado Bruxelas numa situação de crescente frustração, revela o ‘El Español’.

Na cimeira informal que se realiza em Copenhaga, os líderes europeus vão debater estratégias para “neutralizar” o que alguns responsáveis descrevem como o “cavalo de Troia” de Moscovo dentro do bloco — um desafio complexo, ainda mais tendo em conta que Orbán participa na reunião.

Entre os temas em destaque está o reforço da defesa coletiva: os chefes de Estado e de Governo deverão reafirmar o compromisso de aumentar rapidamente os gastos militares para tentar alcançar uma maior autonomia estratégica europeia até 2030. Um projeto prático em discussão é a construção de um sistema anti-drone para proteger o flanco leste, obra que se quer concluir num ano mas que já provoca fraturações sobre o financiamento entre norte e sul da UE.

Na linha da frente da integração europeia, a prioridade é retomar o processo de adesão da Ucrânia. Em dezembro de 2023 os 27 concordaram em iniciar negociações com Kiev — um avanço que só foi possível porque, na altura, Orbán terá temporariamente abandonado a sala de reuniões para permitir o consenso. Apesar disso, nenhum dos 35 capítulos de negociação foi até agora aberto, por exigência de unanimidade entre os Estados-membros.

O presidente do Conselho Europeu, António Costa, propôs alterar as regras e permitir a abertura de capítulos por maioria qualificada — mantendo a unanimidade para o encerramento —, mas essa mudança exigiria igualmente aprovação unânime para entrar em vigor, o que daria novamente a Orbán poder de veto. Fontes oficiais citadas pelo jornal consideram a solução difícil, ainda que não impossível.

Perante o impasse, a presidente da Comissão, Ursula von der Leyen, estará a explorar uma alternativa técnica: avançar ao máximo com o trabalho preparatório para que capítulos possam ser abertos e encerrados de forma simultânea no momento em que a Hungria levantasse o veto.

Do lado político-partidário, o chanceler interino alemão, Friedrich Merz, comprometeu-se a uma postura mais dura contra Orbán, enquanto em Bruxelas se conta também com a possibilidade de um revés eleitoral para o primeiro-ministro húngaro nas eleições previstas para abril de 2026.

Ainda segundo o ‘El Español’, Budapeste bloqueia desde março de 2023 cerca de 6,6 mil milhões de euros de ajuda militar ao abrigo do Fundo Europeu de Apoio à Paz e continua a atrasar o 19º pacote de sanções contra a Rússia. Uma proposta controversa que será debatida em Copenhaga é a concessão de um “empréstimo de reparação” de 140 mil milhões de dólares à Ucrânia, financiado com ativos russos congelados na UE — medida que encontra forte resistência, em particular da Bélgica e do seu primeiro-ministro, Bart de Wever, que adverte para o risco de precedentes perigosos e de fuga de reservas.

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