Num contexto em que o mercado jurídico se transforma ao ritmo das novas tecnologias e da globalização, a empregabilidade dos jovens juristas exige mais do que uma sólida formação técnica.
Pensamento crítico, criatividade, soft skills e visão estratégica tornaram-se competências essenciais para quem quer destacar-se num setor cada vez mais competitivo.
A propósito da 23.ª edição da JobShop da Católica | Faculdade de Direito — um dos eventos mais relevantes de recrutamento jurídico em Portugal — conversámos com Ana Taveira da Fonseca, Diretora da Escola de Lisboa da Faculdade de Direito da Universidade Católica Portuguesa, sobre a evolução do mercado, os desafios colocados pela inteligência artificial e as estratégias que a Católica tem vindo a desenvolver para preparar os seus alunos para um futuro profissional em constante mudança.
– Que mudanças no mercado jurídico têm impactado a forma como os recrutadores procuram talentos? Há novas competências ou áreas do Direito que os alunos devem desenvolver para se destacarem no mercado atual?
Os recrutadores continuam, essencialmente, à procura de jovens com uma formação sólida e com capacidade para pensar criticamente sobre os problemas — competências que constituem a base estruturante de todo o bom jurista. Paralelamente, verifica-se uma valorização crescente das soft skills, motivo pelo qual oferecemos um conjunto cada vez mais diversificado de ações de formação e de sensibilização destinadas a desenvolver competências que, tradicionalmente, não eram trabalhadas nas Faculdades de Direito.
A crescente especialização e internacionalização do exercício das profissões jurídicas não constitui propriamente uma novidade, nem é uma particularidade da advocacia; trata-se, antes, de uma tendência que continua a acentuar-se. A grande interrogação que hoje se coloca é se, num futuro próximo, com o avanço dos instrumentos de inteligência artificial, não precisaremos sobretudo de juristas mais criativos e capazes de analisar de forma integrada os problemas. Aos juristas não se pedirá somente que sejam altamente especializados, mas também que se distingam da máquina – o que implicará, inter alia, a valorização do pensamento estratégico.
– Quais foram os principais objetivos da JobShop’25 este ano, em comparação com edições anteriores? – Há planos para expandir ou internacionalizar ainda mais a JobShop nos próximos anos?
Infelizmente, por razões de limitação de espaço, não nos foi possível aumentar o número de recrutadores presentes nesta verdadeira feira de emprego. Tal significa que os planos de expansão — que passam, sem dúvida, pelo alargamento e diversificação dos nossos parceiros de recrutamento — exigirão a realização de iniciativas paralelas ao Jobshop.
Temos consciência de que o número de antigos alunos a exercer funções fora de Portugal tem crescido significativamente nos últimos anos, não por inexistirem oportunidades para jovens juristas no país, mas porque as carreiras internacionais se revelam, muitas vezes, mais atrativas do ponto de vista remuneratório. É, por isso, particularmente gratificante constatar que conseguimos preparar os nossos estudantes não apenas para exercer em Portugal, mas também para desenvolver carreiras internacionais, sempre que essa seja a sua ambição.
Procurámos igualmente inovar na escolha dos temas a debater nas mesas-redondas. Estamos conscientes de que a maioria dos nossos alunos tende a optar pela advocacia. Por esse motivo, temos procurado iniciar o Jobshop com um painel que os desperte para as oportunidades existentes no exercício de outras profissões jurídicas— algumas das quais ainda pouco conhecidas pelos estudantes, mas que poderão revelar-se mais próximas dos seus interesses e competências naturais. Entendemos, contudo, que poderíamos e deveríamos aproveitar essa mesa-redonda para alargar os horizontes dos nossos finalistas de licenciatura e de mestrado, convidando os intervenientes do primeiro painel não apenas a apresentar a sua profissão, mas também a refletir sobre os grandes desafios da justiça no mundo contemporâneo.
Cientes das dificuldades que os nossos alunos frequentemente enfrentam nos seus primeiros processos de recrutamento, decidimos reunir, na mesma mesa, advogados responsáveis por esses processos e estudantes que recentemente os experienciaram, de forma a promover um diálogo aberto sobre expectativas e inquietações recíprocas.
Encerramos o programa com uma mesa-redonda dedicada às novas regras aplicáveis ao estágio da advocacia e à forma como as sociedades de advogados as têm vindo a integrar nos respetivos planos de formação interna.
– Que estratégias a Católica desenvolve para apoiar a empregabilidade dos seus alunos ao longo do ano, além da JobShop? Como enquadra a Católica a JobShop dentro da sua estratégia global de ensino e empregabilidade?
O Jobshop teve início há 23 anos, através de uma iniciativa conjunta de docentes e alunos. Foi a primeira vez que uma Faculdade de Direito se envolveu ativamente na integração dos seus estudantes no mercado de trabalho. Embora não tivesse, então, a dimensão que hoje apresenta, marcou profundamente todos os que nele participaram.
Atualmente, o Jobshop não constitui uma iniciativa isolada, mas representa o ponto alto de uma estratégia mais ampla de comprometimento da Universidade com a empregabilidade dos seus alunos. Assim, para além do Jobshop, a nossa Escola, através do Gabinete de Carreiras, desenvolve, ao longo de todo o ano, diversas atividades destinadas a aproximar os estudantes do mercado de trabalho.
Em estreita parceria com os recrutadores, são promovidos workshops práticos que permitem aos alunos reforçar as suas competências e preparar-se de forma mais eficaz para os processos de recrutamento. Realizam-se igualmente open days e sessões de informação em tribunais, sociedades de advogados, consultoras e empresas.
Em colaboração próxima com os nossos Alumni, o Gabinete de Carreiras organiza ainda sessões de Job Shadowing, que permitem aos estudantes acompanhar, durante um dia, a atividade de um jurista, familiarizando-se assim com o exercício concreto de uma profissão jurídica.
Por último, mas não menos importante, há pouco mais de três anos foi criado o Católica Future | Law, uma plataforma de recrutamento online que assegura um acesso contínuo a ofertas de estágio e de emprego, garantindo uma ligação permanente entre alunos, alumni e top recruiters.
















