Novo ministro da Defesa russo é leal ao Kremlin e conhece a indústria militar, garante analista

Belousov, anterior vice-primeiro-ministro e que até ao momento tem ocupado no Governo russo funções com acentuado perfil económico, foi indicado no domingo pelo Presidente russo para substituir Sergei Shoigu no Ministério da Defesa

Executive Digest com Lusa
Maio 13, 2024
17:37

O novo ministro da Defesa da Rússia, Andrei Belousov, é um civil tecnocrata que o analista militar russo Viktor Baranets vê como um homem inovador e leal ao Kremlin, que saberá criar pontes entre o Governo e a indústria.

Belousov, anterior vice-primeiro-ministro e que até ao momento tem ocupado no Governo russo funções com acentuado perfil económico, foi indicado no domingo pelo Presidente russo para substituir Sergei Shoigu no Ministério da Defesa, numa altura em que Vladimir Putin inicia o seu quinto mandato na liderança do Kremlin e a Rússia realiza uma grande ofensiva militar na Ucrânia.

“Muitas ideias e propostas de Andrei Removich Belousov foram aceites e implementadas pelo Gabinete de Ministros e pelo Kremlin”, afirma o coronel Viktor Baranets no diário moscovita Komsomolskaia Pravda, comentando a notícia da nomeação do novo titular da Defesa, que, apesar de ser “um dos homens mais leiais a Putin”, apanhou os russos de surpresa.

Embora pelas “costas muitos governantes lhe chamem estratega cabeçudo”, as pessoas que conhecem bem Belousov dizem que possui um “talento nato para encontrar solução para os problemas que vão surgindo ao poder executivo”.

Uma parte da explicação para a substituição de Shoigu pode alás ser encontrada nas palavras do secretário de imprensa presidencial, Dmitri Peskov, quando afirmou que o Ministério da Defesa “deveria ser mais aberto à inovação e às ideias avançadas”.

Na verdade, refere o coronel russo na reserva, “há que reconhecer, por vezes, que o departamento militar demora a abrir as suas portas a ideias mais avançadas relacionadas, por exemplo, com a produção em massa de ‘drones’ ofensivos e de meios para neutralizar ‘drones’ inimigos, incluindo os navais”, numa referência aos ataques bem-sucedidos da Ucrânia com estes equipamentos em território russo, nas regiões ocupadas ou na Crimeia anexada e no Mar Negro.

“Tivemos de recuperar a mata-cavalos o atraso, após o início da operação militar especial” na Ucrânia, salienta o coronel, apontando que o economista Belousov “conhece bem a indústria, nomeadamente, claro está, a militar, o que lhe permitirá construir pontes mais eficientes entre o Ministério da Defesa e o complexo militar-industrial e isto é muito importante”.

Além disso, Belousov “sabe contar bem o dinheiro do Governo”, observa no Komsomolskaia Pravda, já que participou na elaboração de todos os orçamentos do Estado dos últimos anos, e tem pela frente um enorme desafio colocado pelas despesas de uma Rússia em guerra.

“O Ministério da Defesa terá de gastar muito dinheiro: em 2026, o nosso exército deverá atingir um milhão e meio de efetivos, temos de formar novos corpos e divisões, precisamos de aumentar o número de soldados contratados e de fornecer alojamento permanente a dezenas de milhares de militares que passem à disponibilidade, necessitamos de adquirir armas e outros equipamentos”, referiu Baranets, salientando que o perfil de uma pessoa que entenda a fundo de economia e de política orçamental e com confiança absoluta do Kremlin poderá ser outra parte da explicação para esta nomeação.

Embora entre o povo vigore “a opinião ancestral de que o comando das Forças Armadas deve estar nas mãos de um militar que tenha servido durante muito tempo”, para o analista trata-se de uma ilusão, pois “ao longo da história do Exército russo – fosse ele czarista, imperial, vermelho, soviético ou russo -, ele foi liderado, por mais de uma vez, por civis: deputados da Duma, advogados e até jornalistas tornaram-se ministros da guerra”.

O comentador militar também alerta para a experiência de vários países do mundo, que entregam a pasta da defesa a civis, entre os quais várias mulheres, uma vez que “o que importa aqui é, antes de tudo, uma cabeça inteligente, e não o facto de se ter ou não ter platinas nos ombros”, frisa o analista militar.

Por outro lado ainda, o ministro da Defesa ocupa um cargo político-administrativo, e não puramente militar, e Belousov é apontado, por quem o conhece, como muito modesto, inteligente e disciplinado e, também, um “estadista de corpo inteiro”.

Belousov é ainda apontado como um primeiros defensores da ideia da recuperação pelo Estado das empresas ilegalmente privatizadas e das que abriram falência fraudulenta, com o Financial Times a descrevê-lo como alguém que sustenta um maior controlo estatal da economia.

Outros comentários seguem a mesma linha do analista russo, com o The York Times a escrever que Putin “retirou do comando militar um homem que tanto os comentadores pró-guerra russos como os analistas ocidentais consideraram parcialmente responsável pelos muitos fracassos de Moscovo no início da invasão” da Ucrânia.

“Ao instalar um economista, ele reconheceu tacitamente a importância do poderio industrial para qualquer vitória militar”, segundo apontam Paul Sonne e Anton Troianovski no diário norte-americano.

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