Zelensky impõe linha vermelha a Trump e Putin: só negocia com o líder russo após acordo com os EUA

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, afirmouesta sexta-feira, que só aceitará reunir-se com Vladimir Putin após definir um plano conjunto com Donald Trump. A declaração foi feita na véspera da Conferência de Segurança de Munique, evento que decorre na Alemanha e reúne líderes globais para debater temas de defesa e geopolítica.

A posição de Zelensky surge num momento de incerteza sobre o apoio dos Estados Unidos à Ucrânia, após uma chamada telefónica entre Trump e Putin ter lançado dúvidas sobre o futuro da política externa norte-americana em relação ao conflito.

A guerra na Ucrânia, iniciada em 24 de fevereiro de 2022, já resultou em mais de um milhão de mortos e feridos de ambos os lados, segundo o The Wall Street Journal. Além disso, estima-se que mais de 10 milhões de pessoas tenham sido forçadas a abandonar as suas casas devido aos combates.

Trump, que já afirmou ser capaz de acabar com a guerra num único dia, ainda não concretizou essa promessa. No entanto, o ex-presidente dos EUA e atual candidato às eleições de 2024 parece disposto a alterar a abordagem norte-americana ao conflito, levantando receios entre aliados de Kiev.

Zelensky vê Trump como fundamental para encerrar a guerra
Durante um encontro com jornalistas na quinta-feira, Zelensky revelou que Trump lhe forneceu o seu contacto direto para facilitar a comunicação entre ambos. O presidente ucraniano sublinhou a importância de evitar que Putin consiga transformar o processo de paz num negócio exclusivamente bilateral com os Estados Unidos.

“É importante que tudo não siga o plano de Putin, no qual ele quer fazer tudo para tornar as negociações bilaterais [com os EUA]”, alertou Zelensky.

A recente conversa entre Trump e Putin, cujo conteúdo não foi tornado público, gerou preocupação entre as autoridades ucranianas e os seus aliados ocidentais. O ex-presidente norte-americano já havia defendido que a Rússia deveria ser convidada a regressar ao G7, grupo das maiores economias do mundo, do qual foi expulsa em 2014 após a anexação da Crimeia.

Congresso dos EUA discute nova ajuda militar à Ucrânia
Desde o início da invasão, Washington tem sido o principal fornecedor de apoio militar e financeiro à Ucrânia. Em 2022, o Congresso dos EUA aprovou a Lei do Empréstimo e Arrendamento para a Defesa da Democracia da Ucrânia, que facilitava o envio de armamento para Kiev. No entanto, o programa expirou em setembro de 2023 sem ter sido utilizado.

O deputado Joe Wilson, republicano da Carolina do Sul, propôs a reativação do mecanismo para continuar o fornecimento de armas ao exército ucraniano. Paralelamente, fontes citadas pela Reuters indicaram que Keith Kellogg, enviado especial de Trump para assuntos relacionados com a Ucrânia e a Rússia, irá discutir a questão na Conferência de Segurança de Munique.

Washington sinaliza mudança na abordagem ao conflito
Em Bruxelas, o secretário da Defesa dos EUA, Pete Hegseth, afirmou na quinta-feira que “tudo está em cima da mesa” no que diz respeito a eventuais negociações entre a Ucrânia e a Rússia. No entanto, rejeitou a possibilidade de adesão ucraniana à NATO num futuro próximo, alinhando-se com a posição expressa por Trump.

Durante uma passagem pela Alemanha, Hegseth também garantiu que os Estados Unidos não irão enviar tropas para o terreno e reiterou que Trump está focado em alcançar um “acordo de paz rápido” entre Kiev e Moscovo.

Putin rejeita tréguas e recusa negociações imediatas
Ao mesmo tempo, a Rússia mantém uma postura inflexível em relação ao conflito. Em 21 de janeiro, Putin declarou que não aceitará uma trégua temporária que permita a reagrupação das forças ucranianas.

“[Não deve haver] uma breve trégua, nem algum tipo de pausa para o rearmamento e posterior continuação do conflito”, afirmou o líder russo perante altos funcionários do Kremlin.

Nos Estados Unidos, as declarações de assessores de Trump reforçam a ideia de uma possível mudança na política externa norte-americana. O conselheiro de segurança nacional Robert O’Brien, em entrevista à Fox News, defendeu que os EUA devem negociar com Moscovo.

“Putin é um bandido, e o presidente Trump já o chamou de bandido. Chamou-lhe um homem duro e forte, mas temos de resolver esta guerra… Temos muito a oferecer aos russos. Podemos retirar as sanções. Podemos dar-lhes o que precisam para a sua economia”, afirmou O’Brien.

A posição da administração Trump contrasta com o apoio incondicional que os Estados Unidos prestaram à Ucrânia durante os últimos anos. Se as conversações entre Washington e Moscovo avançarem, isso poderá representar uma alteração significativa na estratégia ocidental para lidar com o conflito.

O que esperar nos próximos meses?
A recente conversa entre Trump e Putin assinala uma possível viragem na política dos EUA para a Ucrânia, desafiando o consenso que vigorou desde o início da guerra. Com as eleições presidenciais norte-americanas a aproximarem-se, o futuro do conflito poderá depender fortemente das decisões tomadas em Washington nos próximos meses.

Zelensky, por sua vez, continua a apostar na manutenção do apoio ocidental, recusando qualquer encontro com Putin antes de assegurar um plano conjunto com os Estados Unidos. A Conferência de Segurança de Munique poderá ser um teste decisivo para avaliar até que ponto a Ucrânia pode continuar a contar com o apoio norte-americano na sua luta contra a Rússia.