
Viúvas ucranianas garantem que uma trégua a qualquer preço com a Rússia “é impossível”
“Basta dizer obrigado.”
Muitos ucranianos já ouviram a mesma frase por parte dos soldados russos ocupantes. É o caso de Svitlana Poltavska, que lembrou, à publicação ‘Euronews’, que, por entre os espancamentos e buscas, os russos diziam, todos os dias: “Agradeçam por não tocarmos nas vossas crianças. Por enquanto.” Poltavska é natural de Troitske, uma povoação na região de Lugansk, na fronteira com a Rússia.
Quando Moscovo invadiu a Ucrânia, o seu marido, um soldado do Serviço Nacional de Guarda de Fronteiras, foi enviado para combater as forças invasoras e morreu nos primeiros dias da guerra. Svitlana e os seus dois filhos ficaram em Troitske, sob ocupação russa, durante quatro meses.
Tendo vivido durante a ocupação, Svitlana afirmou que “não há nada de humano no exército russo, apenas crueldade total”, garantindo que as afirmações de Moscovo de que a Rússia “veio salvar e socorrer o Donbass” não podiam estar mais longe da verdade e da realidade que ela viveu. “Eu sou do Donbass. Eles não vieram para me salvar. Vieram para me matar. Matar-me-iam na minha própria casa, até ao fim.”
Svitlana viria a fugir em meados de julho de 2022, uma provação que a fez compreender que os ucranianos não serão forçados a qualquer acordo de paz. “Uma trégua a qualquer preço é impossível, porque o preço já foi estabelecido. O preço é a vida dos nossos homens, a vida dos nossos filhos. E nunca haverá perdão para isso, nunca”, garantiu.
Svitlana Poltavska, há três meses, juntou-se às Forças Armadas ucranianas para seguir os passos do marido e proteger os seus filhos: aderiu também ao projeto de terapia artística “She is Alive: Histórias de Amor”, que reúne mulheres ucranianas que perderam os maridos e filhos, utilizando a pintura para exprimir a sua dor.
Quase todas as famílias na Ucrânia perderam alguém: Vita Kharchuk, de Kiev, é uma das mulheres no atelier. O seu filho era um soldado do regimento Azov e estava a defender a Ucrânia em Mariupol quando a Rússia iniciou a invasão em grande escala.
A pintura de Vita é sobre o seu filho e os seus companheiros soldados, a partir da fotografia que este lhe enviou a 26 de fevereiro de 2022, de Mariupol, apenas dois dias após o ataque total de Moscovo: na foto, Vitaliy Kharchuk sorri enquanto carrega ao ombro um sistema anti-tanque NLAW. Foi morto poucos dias depois.
“Os três morreram na cidade de Mariupol, na sua posição. É assim que eu os vejo. Neste quadro, há três rapazes jovens e bonitos, cheios de desejo de viver, amor pela sua pátria, amor pelas suas famílias, cheios de sonhos”, explicou Vita, que acredita que o seu filho foi morto no início de abril, mais de um mês após a defesa de Mariupol. Foi identificado numa vala comum muito mais tarde, pelas suas tatuagens.
“A dor de uma mãe nunca desaparece e nunca se alivia. Perdi um filho, e um filho é um futuro. Não tenho o meu filho, nunca terei netos, não terei ninguém nem nada”, frisou Vita.