Viktor Orbán não está tão isolado como se pensa: aliados do controverso PM húngaro já são o terceiro maior bloco político da UE
Sob a liderança do controverso primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, um novo grupo eurocético de extrema-direita – os Patriotas pela Europa – tornou-se o terceiro maior bloco no Parlamento Europeu.
O sucesso da iniciativa de Orbán é um feito notável: de facto, o líder húngaro conseguiu reorganizar a extrema-direita da Europa em torno da sua imagem e a do seu partido Fidesz, relegado para um ‘deserto político’ depois de abandonar o grupo de centro-direita do Partido Popular Europeu em 2019.
A criação do grupo Patriotas pela Europa demonstra, de acordo com o jornal ‘POLITICO’, como Orbán está muito menos isolado do que se pensava inicialmente, sendo capaz de construir uma coligação de aliados com ideias semelhantes e o mesmo objetivo estratégico – criar “uma Europa de Estados-nação”. Os grupos de extrema-direita na UE estão mais alinhados do que nunca com esta visão, o que representa um desafio direto ao populismo mais pragmático defendido pela primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni.
Viktor Orbán consolidou a sua aliança com a a Reunião N
Orbán consolidou a sua aliança com o Reagrupamento Nacional, de França, o maior partido de extrema-direita do Velho Continente, apesar de não ter conseguido obter a maioria nas eleições antecipadas francesas. Na mesma medida, o Partido da Liberdade holandês, de Geert Wilders, também integrou o Patriotas vindo do antigo grupo de extrema-direita do Parlamento Europeu – o Identidade e Democracia – depois de vencer as eleições holandesas em 2023 e integrar um Governo de coligação pela primeira vez.
A curto prazo, refere a publicação, esta consolidação da extrema-direita não vai alterar totalmente o equilíbrio no Parlamento em Estrasburgo e é pouco provável que afete significativamente a formulação de políticas da UE. Isto porque os partidos centristas pró-UE mantiveram uma maioria confortável em Bruxelas e, em conjunto com os Verdes, tiveram votos suficientes para reconduzir Ursula von der Leyen à presidência da Comissão Europeia, e também apoiar as suas prioridades legislativas neste segundo mandato.
Para os Patriotas, o papel é de oposição, com uma capacidade limitada para influenciar o processo legislativo da UE: terão maior financiamento, visibilidade e proeminência nos procedimentos parlamentares, mas ser-lhe-á negada qualquer representação significativa nos órgãos de liderança parlamentar. No entanto, os desafios a médio prazo já se revelam preocupantes.
Os Patriotas representam um desafio direto à “terceira via” de populismo construtivo de Meloni, sendo que o grupo Conservador e Reformista Europeu (ECR) a que preside não se vai fundir com os Patriotas – também os seus dois principais membros (Irmãos de Itália, de Meloni, e o Lei e Justiça, da Polónia) recusaram-se a aliar a Orbán.
O que significa? Por enquanto, Meloni vai situar-se entre a extrema-direita e o ‘establishment’ da UE, mantendo as suas opções em aberto – no fundo, o ECR será uma ponte entre os dois campos. Mas tem vindo a perder terreno: as suas ambições de se tornar o terceiro maior grupo do Parlamento Europeu foram frustradas e, apesar das relações próximas com o Vox (Espanha), estes saíram para se juntar aos Patriotas.
Atualmente, os Patriotas controlam apenas um lugar no Conselho Europeu – o de Orbán. Têm também influência indireta sobre mais dois lugares, os Países Baixos e Itália, onde o PVV e o partido de extrema-direita Liga são parceiros nas coligações governantes nos respetivos países e podem, portanto, exercer alguma influência sobre o Governo.
No entanto, é provável que o número de Patriotas cresça ao longo do tempo, uma vez que várias eleições nacionais agendadas para os próximos meses e anos têm boas hipóteses de produzir mais Governos de extrema-direita. Por exemplo, estão previstas eleições na Áustria, em setembro, onde o Partido da Liberdade lidera as sondagens, e na República Checa, no próximo outono, onde o partido nacionalista Ação dos Cidadãos Insatisfeitos, do antigo primeiro-ministro Andrej Babis, está firmemente na liderança.
Este desenvolvimento pode minar a coesão da UE em áreas fundamentais, nomeadamente o orçamento da UE, o alargamento e a política externa – especialmente quando se trata da Ucrânia. Através de uma mistura de persuasão e de pressão financeira, a UE encontrou até agora formas de contornar os repetidos vetos de Orbán à Ucrânia. Mas um grupo maior e mais determinado de Governos relutantes seria muito mais difícil de conter.
No entanto, pode não ser bem assim: Meloni manteve o seu apoio a Kiev, o primeiro-ministro populista da Eslováquia, Robert Fico, não deu seguimento às suas críticas à ajuda militar a Kiev, e também o PVV dos Países Baixos moderou a sua posição depois de ter concordado em manter o apoio de Haia à Ucrânia como parte de um Governo de coligação de centro-direita. É possível que outros partidos de extrema-direita amigos da Rússia possam ser cooptados de forma semelhante. Mas o risco de a coesão europeia ficar comprometida – especialmente se o antigo presidente dos EUA, Donald Trump, vencer as eleições presidenciais de novembro – está agora claramente a aumentar.