Vídeo revela mortes por asfixia de galinhas poedeiras em câmara de gás para abastecer supermercados
Um vídeo secreto, descrito como o primeiro do género a nível mundial, revelou imagens perturbadoras de galinhas poedeiras a serem sufocadas até à morte com dióxido de carbono (CO₂), numa unidade de abate no Reino Unido. As aves, já consideradas “gastas” por terem deixado de produzir ovos em quantidade suficiente, são assim abatidas antes de a sua carne ser transformada em produtos vendidos em grandes cadeias de supermercados, incluindo a Tesco.
As imagens, captadas com câmaras ocultas, mostram as galinhas a retorcerem-se visivelmente, a tentar fugir das caixas de transporte e a emitir gritos agudos enquanto são descidas para uma câmara de gás onde morrem lentamente, ao longo de vários minutos. Segundo o ativista e cineasta Joey Carbstrong, que liderou a operação de filmagem, o chão da câmara de gás estava coberto de aves que tinham conseguido saltar das caixas antes de sucumbirem.
O vídeo, divulgado esta segunda-feira pelo The Independent, foi alegadamente filmado num matadouro operado pela HCF Poultry, em West Yorkshire, que fornece a gigante Cranswick Foods – uma das maiores processadoras de carne do Reino Unido. Apesar da empresa negar que as imagens tenham sido captadas nas suas instalações, uma etiqueta visível nas filmagens mostra o nome e morada da HCF.
Heartbreaking evil – no escape
Secret video reveals gas chamber deaths of egg industry hens in gas chambers run by HCF Poultry
HCF supplies Cranswick Foods, one of the UK’s largest meat producers
Egg-laying days being suffocated for supermarket meathttps://t.co/xAHjZOWCbD— GO GREEN (@ECOWARRIORSS) June 9, 2025
Embora o uso de CO₂ como método de abate esteja legalmente autorizado e seja amplamente utilizado no sector avícola britânico – 99% das galinhas “gastas” e 77% dos frangos de carne foram abatidos desta forma em 2024, segundo dados oficiais –, as imagens reacenderam o debate sobre os padrões de bem-estar animal na indústria.
“A verdade por trás do mito das ‘galinhas felizes'”
Carbstrong, defensor do veganismo, acusou o sector de construir uma “imagem cuidadosamente curada” das explorações de ovos que não corresponde à realidade. “Este vídeo desmonta o mito das ‘galinhas felizes’ e revela a verdade horrível sobre a forma como estas aves sensíveis são descartadas quando deixam de ser lucrativas”, afirmou.
“O público está a ser enganado por rótulos que prometem bem-estar e têm o direito de conhecer a realidade por detrás do que compram”, acrescentou. Carbstrong lembrou ainda que estas galinhas são geneticamente modificadas para produzirem cerca de 300 ovos por ano – muito acima dos 10 a 15 ovos anuais da espécie selvagem da qual descendem, a red junglefowl – o que provoca um enorme desgaste físico ao longo de 18 meses, após os quais são abatidas.
O ativista denuncia ainda as condições em que muitas destas aves vivem: “Mesmo em regimes ‘livres’, estão frequentemente amontoadas aos milhares em galpões sujos, onde proliferam doenças e a canibalização de aves mortas ou moribundas é comum.”
Especialistas alertam para sofrimento e engano do público
A Dra. Jenny L. Mace, especialista em bem-estar animal da Universidade de Winchester, analisou o conteúdo das filmagens e destacou vários aspetos preocupantes: os gritos agudos, a dificuldade respiratória, colisões com equipamentos e o colapso das galinhas umas sobre as outras. “Sem a utilização de um gás ou mistura significativamente menos aversiva, é difícil considerar este método como uma alternativa viável e de elevado bem-estar ao antigo método de atordoamento por banho de água”, escreveu num relatório.
Mace explicou ainda que o CO₂ provoca um estado de grande sofrimento respiratório. “A descrição desta técnica como anestesia pode ser enganadora, dado o desconforto e pânico que a inalação provoca nos animais”, alertou. Sublinhou ainda que esta prática não representa um caso isolado ou excecional: “Isto é prática corrente e conforme à legislação vigente.”
Confrontada com o vídeo, a RSPCA Assured – o esquema de certificação de bem-estar animal da principal organização de defesa dos animais no Reino Unido – afirmou que os animais já estariam inconscientes durante as convulsões visíveis nas imagens. “As nossas normas vão além da legislação para garantir um processo mais humano”, garantiu um porta-voz, acrescentando: “Devido à sua fisiologia, quando perdem a consciência, os cérebros das aves deixam de controlar os seus corpos, o que pode causar movimentos involuntários, apesar de já não sentirem dor.”
Andrew Opie, da British Retail Consortium, que representa a Tesco e outros retalhistas, reagiu em nome do sector: “Os nossos membros sabem o quão importante é o bem-estar animal para os seus clientes e levam muito a sério as suas responsabilidades para assegurar que os padrões esperados estão a ser cumpridos.”
A Cranswick Foods não emitiu até ao momento qualquer comunicado oficial sobre o tema.
Cerca de 35 milhões de galinhas poedeiras “gastas” são abatidas anualmente no Reino Unido para posterior consumo humano, de acordo com estimativas do sector. Um documento de 2018 revela que a HCF Poultry tem capacidade para processar 10.500 aves por hora.
Mesmo galinhas criadas em sistemas “livres” ou “biológicos” acabam frequentemente nas mesmas câmaras de gás que as de regimes intensivos, afirmam os ativistas, desafiando a ideia de que esses métodos de produção asseguram uma vida digna até ao fim.