Valência vai ficar isolada e ‘paralisada’ durante várias semanas devido a devastação da DANA
Valência enfrenta um isolamento sem precedentes após a Depressão Atmosférica de Níveis Altos (DANA) ter causado destruição em grande escala nas infraestruturas ferroviárias e rodoviárias. Com o colapso das principais vias de transporte, a mobilidade dos cidadãos e o transporte de mercadorias foram gravemente afetados, prevendo-se que a situação leve várias semanas para voltar ao normal. O impacto da DANA já resulta num saldo trágico de 92 vítimas mortais e numerosos desaparecidos na Comunidade Valenciana, somando-se a um prejuízo económico e infraestrutural que ameaça paralisar totalmente a atividade na região.
O ministro dos Transportes, Óscar Puente, confirmou que a circulação de comboios de alta velocidade e em linhas locais, assim como o tráfego em diversas estradas, só deverá ser restabelecida em duas a três semanas, na melhor das hipóteses. Embora os danos no porto e no aeroporto de Valência sejam mínimos, o bloqueio das redes viárias e ferroviárias impossibilita a distribuição de mercadorias para outras cidades como Madrid e Barcelona, ou para o resto do país. “As mercadorias que chegam ao porto e ao aeroporto de Valência não têm forma de seguir viagem,” afirmou Puente, destacando as dificuldades na reposição das infraestruturas essenciais para a economia local e nacional.
Ferrovias e estradas gravemente afetadas
A paragem na linha de alta velocidade deve-se a duas grandes ocorrências que causaram danos críticos nos túneis de Chiva e Torrent. De acordo com Puente, no túnel de Chiva, a fundação cedeu ao longo de 1,2 quilómetros, com 300 metros em cada extremidade e outros 600 metros na parte interna do túnel, representando um obstáculo significativo para a reparação. O túnel de Torrent, por sua vez, encontra-se com cerca de dois quilómetros completamente inundados, situação que exige intervenções complexas e demoradas.
O cenário não é mais otimista nas estradas, onde mais de 100 vias, maioritariamente da rede secundária, sofreram danos significativos. Entre as vias principais, as mais afetadas incluem a A-3, A-7 e AP-7, com cortes em diferentes trechos, incluindo a conexão com Alicante e as estradas N-3, N-322, N-330 e N-332. Além disso, cidades como Picassent, La Alcudia, Requena, Utiel, Buñol, Sueca, Algemesí, Guadassuar, Alzira e Chiva têm estradas locais intransitáveis. Na província de Castellón, várias estradas secundárias, como a CV-130, CV-137 e CV-148, também se encontram interditas, afetando localidades como Albocàsser, Tirig, Càlig, El Borseral, La Pelechaneta e Almedíjar-Aín.
A Direção-Geral de Tráfego (DGT) aconselhou os cidadãos a evitarem todas as estradas na província de Valência, dadas as condições de segurança e o risco de acidentes em áreas fortemente comprometidas pela intempérie.
Infraestruturas de cercanias em estado crítico
A rede de cercanias, essencial para a mobilidade regional, encontra-se praticamente inoperacional. Das cinco linhas principais, três (C1, C2 e C3) foram descritas pelo ministro como “desaparecidas” e fazem parte da “zona zero”, com cerca de 80 quilómetros de ferrovia completamente destruídos. Prevê-se que a reconstrução desta parte da rede leve meses, dado o grau de destruição verificado. “Não contaremos com estas linhas de cercanias no curto prazo,” sublinhou Puente, reforçando que as linhas C5 e C6, embora operacionais, só serão ativadas quando as condições climáticas e de mobilidade o permitirem.
Impacto económico e desafios de reconstrução
Ainda não há uma estimativa oficial sobre o custo total dos danos provocados pela DANA nas infraestruturas de Valência e das áreas circundantes, segundo informou Puente. Contudo, espera-se que os valores sejam extremamente elevados, dada a magnitude da destruição que afetou tanto as vias de comunicação como as estruturas de apoio logístico.
Para Valência, o impacto da DANA representa não só uma tragédia humana, mas também um golpe significativo na sua economia, com centenas de milhões em prejuízos e a necessidade de reconstrução de vias essenciais. Este isolamento prolongado exige um esforço de reconstrução complexo e rápido, face ao peso que a região possui no contexto económico espanhol, sobretudo em setores como o turismo e o transporte de mercadorias.