Usavam alojamentos locais para enganar imigrantes: 16 arguidos em julgamento no Porto por burla que deixa 88 vítimas

Um jovem de 21 anos, com a ajuda de familiares e amigos, burlou 88 pessoas com as quais celebrou contratos de arrendamento de longa duração em apartamentos de alojamento local, no Grande Porto, que não lhe pertenciam, revelou esta sexta-feira o ‘Jornal de Notícias’. O esquema permitiu ao comerciante angariar quase 184 mil euros, deixando muitas das vítimas – quase todas jovens imigrantes – sem dinheiro para alimentação.

O Ministério Público acusou 16 suspeitos deste esquema de vários crimes, incluindo o de associação criminosa. Segundo a acusação, Telmo V. planeou “um esquema de arrendamento fraudulento” em setembro de 2022, quando anunciou o arrendamento do apartamento onde vivia no Porto no site Idealista: um cidadão indiano, pouco depois, visitou o espaço e no final assinou um contrato falso de arrendamento e transferiu para a conta do jovem 1.200 euros por rendas antecipadas e caução – viria a receber quatro chaves para, quatro dias depois, perceber que tinha sido enganado.

Telmo V. viria a replicar a burla várias vezes, e começou a reservar alojamentos locais por alguns dias: os anúncios de arrendamento chegavam às plataformas online e organizou visitas, fazendo-se passar pelo proprietário da habitação. Perante o interesse das vítimas, pedia cópias de recibos de vencimento e documentos de identificação para depois assinar a minuta de um contrato de arrendamento de longa duração: exigia sempre o pagamento de rendas antecipadas e cauções, chegando a receber 3.500 euros de uma só vez. As vítimas viriam a perceber a burla quando as chaves que recebiam não abriam a posta da residência ou, quando já instalados, eram surpreendidos pelos verdadeiros donos do espaço ou pelo empregados de limpeza do alojamento local.

A PSP contabilizou 88 vítimas e quase 184 mil euros arrecadados por Telmo V e cúmplices: face aos elevados lucros, familiares e amigos do comerciante aderiram ao plano em outubro de 2023. O Ministério Público identificou 16 arguidos, que estão acusados de associação criminosa, e vários respondem ainda por burla, falsificação de documento, uso de documento alheio, falsidade informática e branqueamento.

As vítimas dos falsos arrendamentos são quase todas jovens do Brasil, Argentina, Colômbia, Angola e São Tomé e Príncipe, que emigraram para o Porto à procura de uma vida melhor, mas ficaram sem as suas poupanças e tiveram de pedir ajuda para sobreviver.