Universidade Internacional do Espaço admite criar polo em Portugal e elogia potencial do país no setor aeroespacial

Portugal poderá, em breve, acolher um polo da Universidade Internacional do Espaço (ISU, na sigla inglesa), a única instituição académica dedicada exclusivamente à educação e formação no domínio espacial. A intenção foi confirmada ao jornal PÚBLICO por John Wensveen, presidente da ISU, durante uma visita recente ao Norte do país. “Sinceramente, estou de olho em Portugal para criar uma bandeira da ISU onde possamos ter programas de educação e formação”, declarou Wensveen, sublinhando o interesse estratégico que o país representa para a expansão global da universidade.

Apesar de ainda não existir qualquer decisão oficial, as conversações estão em andamento. Durante a estadia de três dias em Abril, Wensveen reuniu-se com o reitor da Universidade do Minho, Rui Vieira de Castro, e com Pedro Arezes, presidente da Escola de Engenharia da mesma instituição. O encontro visou explorar uma futura parceria que poderá culminar na instalação de um polo da ISU em Guimarães, cidade cujo executivo municipal também esteve presente nas negociações. “Queremos marcar território e hastear a bandeira do espaço em diferentes países que têm oportunidades onde a ISU pode ajudar nos programas educativos e de formação”, reforçou o responsável.

O plano de expansão da ISU inclui não só Portugal, mas também outras regiões da Europa, bem como países da Ásia e de África. A decisão sobre a instalação de um polo em território português deverá ser tomada até ao final de 2025. Para já, o dirigente da instituição promete regressar com uma comitiva alargada, numa nova visita destinada a aprofundar as possibilidades de colaboração. “Os três dias que passei em Portugal vão certamente resultar num regresso com ainda mais perguntas e para explorar ideias e potenciais oportunidades de parceria”, garantiu Wensveen.

A estratégia delineada para Portugal prevê uma abordagem faseada. Inicialmente, a ISU pretende reforçar a oferta de programas de formação e educação em parceria com uma universidade local — sendo a Universidade do Minho a principal candidata. Numa segunda fase, e dependendo dos resultados, poderá avançar para a criação de um campus-satélite em colaboração com parceiros locais. “Não sabemos realmente como será o futuro, mas posso garantir que Portugal é uma oportunidade extremamente atrativa para a ISU pensar em marcar uma presença maior”, afirmou o presidente da universidade, que tem sede em Estrasburgo.

Wensveen considera que o ensino no setor espacial está em transformação, impulsionado pelas mudanças na própria indústria, que evoluiu de um domínio institucionalizado para uma economia em crescimento. “Como o espaço se está a mover em direção à privatização e à comercialização, isso também resulta na criação de novas oportunidades de trabalho fora dos percursos tradicionais”, observou. Nesse contexto, a ISU procura ajustar a sua oferta formativa às necessidades identificadas tanto pelo setor público como pelo setor privado, ao invés de impor programas fechados. A aposta inclui, além das competências técnicas, o desenvolvimento de capacidades sociais como o trabalho em equipa e a colaboração intercultural — dimensões que, segundo Wensveen, são frequentemente ignoradas pelos currículos tradicionais.

Para Portugal, o presidente da ISU tem uma visão francamente positiva, justificando o interesse da universidade com vários fatores: a localização estratégica dos Açores, com o centro espacial de Santa Maria; a qualidade da investigação científica e académica; e os primeiros sucessos de startups nacionais no setor. “Portugal está bem posicionado para ser um participante fulcral no setor espacial, não só na Europa, como a nível mundial”, defendeu. A participação regular de empresas e cientistas portugueses em projetos espaciais europeus, o crescimento das receitas do setor e o recente lançamento de satélites — como um desenvolvido pela Universidade do Minho — são sinais evidentes desse dinamismo. O lançamento de foguetões suborbitais a partir da ilha de Santa Maria e a confirmação de que o vaivém europeu Space Rider irá aterrar nos Açores em 2027 reforçam ainda mais a imagem de Portugal como destino emergente na nova corrida ao espaço.