Uma guerra nuclear assusta muitos países..mas nem todos. Porquê?
A guerra na Ucrânia subiu mais um degrau. Não tem corrido bem a Kiev nas últimas semanas e esta semana a Administração Biden tomou a decisão de permitir que a Ucrânia utilize sistemas de mísseis táticos ATACMS de longo alcance fornecidos pelos Estados Unidos em território russo pela primeira vez. A reversão da política americana colocou em jogo as armas ucranianas fornecidas pelo Reino Unido e França: os dois países haviam garantido que iriam permitir isso se os EUA o fizessem.
Isso, salientou Geoff Beattie, professor de Psicologia da Edge Hill University (Reino Unido), num artigo na publicação ‘The Conversation’, provocou uma ameaça imediata de Vladimir Putin, que assinou um decreto a reduzir o limite para um ataque nuclear retaliatório a um ataque convencional à Rússia ou à sua aliada Bielorrússia que “criasse uma ameaça crítica à sua soberania e (ou) à sua integridade territorial”.
Já estivemos aqui antes, mas talvez não por muito tempo: há quem se possa lembrar da crise dos mísseis cubanos entre EUA e Rússia em outubro de 1962, o que levantou considerável preocupação pública – o alívio foi enorme quando foi resolvido através de um acordo secreto em que os EUA retiraram os seus mísseis nucleares da Turquia.
Os receios de uma possível guerra nuclear em 2024 levaram alguns países próximos da Rússia – Suécia, Noruega e Finlândia – a atualizar as suas diretrizes de preparação civil para ajudar os cidadãos a prepararem-se para a guerra. Já Portugal devia imitar “sem exageros”. No entanto, há países nucleares, como o Reino Unido, nada fizeram.
Por que é que algumas nações são mais otimistas? E outras mais preocupadas?
O viés do otimismo é a tendência de superestimar a probabilidade de coisas boas acontecerem na sua vida e subestimar a probabilidade de coisas más acontecerem. De acordo com um estudo, cerca de 80% das pessoas sofrem de alguma forma de viés do otimismo (os dados tendem a ser baseados no Ocidente, principalmente dos EUA e do Reino Unido).
Essas pessoas tendem a acreditar que os seus casamentos darão certo (são apenas outros casamentos que fracassam…) e que terão uma vida longa e gratificante em comparação a todos os outros. Crises globais não são imunes ao viés do otimismo. Otimistas tendem a pensar, por exemplo, que são outras pessoas e gerações futuras que sofrerão com os efeitos das mudanças climáticas, não eles pessoalmente.
As pessoas no Ocidente parecem particularmente suscetíveis ao viés do otimismo, de acordo com estudos de psicólogos. No entanto, o viés do otimismo pode afetar a perceção de risco de desastres naturais e eventos terroristas.
Então, como funciona o viés do otimismo? Parece estar associado a formas específicas no que as pessoas olham e leem, e como elas processam essas informações. Os otimistas evitam imagens e informações negativas para manter o seu humor – os seus cérebros também processam más notícias de forma diferente. Ou seja, o viés do otimismo deriva tanto de um viés de atenção (escolhemos ignorar algumas coisas, enquanto prestamos atenção a outras) como de uma falha em aprender sistematicamente com novas informações indesejáveis.
Mas certamente o otimismo é uma coisa boa? Há evidências claras disso. Os otimistas vivem significativamente mais e têm muito menos probabilidade de morrer de paragem cardíaca. O otimismo também aumenta o tempo de sobrevivência após um diagnóstico de cancro, através da redução do stress e imunidade sobre o futuro – os otimistas consequentemente têm melhor funcionamento imunológico. A crença num futuro positivo também encoraja os indivíduos a comportarem-se de maneiras que podem realmente contribuir para esse futuro positivo.
A desvantagem do otimismo é, no entanto, que as pessoas podem não perceber os sinais de alerta – e estar preparado para o pior é, na verdade, um aspeto importante da sobrevivência humana.