Ultimato ucraniano continua sem resposta do Kremlin. Quais são os próximos passos?

O silêncio de Moscovo perante o ultimato lançado pela Ucrânia para um cessar-fogo total e incondicional até esta segunda-feira reacendeu as tensões no conflito que já entra no seu quarto ano. O Kremlin não respondeu publicamente à exigência de Kiev nem ao convite para conversações de paz em Istambul, o que poderá desencadear uma nova vaga de sanções por parte dos países europeus e dos Estados Unidos.

A proposta foi feita no dia 10 de maio, quando o gabinete do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, instou a Rússia a aceitar um cessar-fogo de 30 dias com início a 12 de maio. “É necessário, com urgência, um cessar-fogo total e incondicional. A responsabilidade por qualquer recusa é essencial. Sob este cessar-fogo poderemos negociar conjuntamente os fundamentos para a paz”, declarou então a presidência ucraniana.

A proposta foi clara: qualquer tentativa de impor condições seria interpretada como uma manobra para prolongar a guerra e minar a via diplomática. Mas o prazo expirou sem resposta de Moscovo, e o presidente russo Vladimir Putin não respondeu ao convite de Zelensky para um encontro em Istambul esta quinta-feira.

Com o impasse diplomático, a resposta do Ocidente prepara-se para ser firme. Segundo declarou o presidente francês, Emmanuel Macron, “já estão em curso os preparativos para novas sanções, coordenadas entre os americanos e os europeus”, sobretudo dirigidas ao setor energético e ao sistema bancário russos.

Berlim também emitiu um aviso claro: Moscovo teria até ao final de segunda-feira para aceitar o cessar-fogo. Com o silêncio russo, os parceiros europeus consideram que a resposta de Putin – ou a falta dela – deverá ser interpretada como uma rejeição da paz.

O Instituto para o Estudo da Guerra (ISW), um centro de análise norte-americano, sustentou que Moscovo está a criar condições para rejeitar o convite para as negociações em Istambul. “Putin tem feito um esforço retórico significativo para preparar a opinião pública russa para uma guerra prolongada e não para um acordo de paz a curto prazo”, afirmou o instituto, acrescentando que o Kremlin continua a promover a ideia de que o governo de Zelensky é ilegítimo.

Zelensky: “É preciso acabar com esta guerra”
Numa declaração em vídeo ao país na noite de segunda-feira, Volodymyr Zelensky lamentou a ausência de resposta de Moscovo. “Infelizmente, o mundo ainda não recebeu uma resposta clara da Rússia às inúmeras propostas de cessar-fogo”, disse. “Os bombardeamentos e ataques continuam. Moscovo manteve-se em silêncio durante todo o dia quanto à proposta de um encontro direto. Um silêncio muito estranho. De uma forma ou de outra, a Rússia terá de acabar com esta guerra – e quanto mais cedo, melhor. Não faz sentido continuar com a matança.”

Andriy Yermak, chefe de gabinete de Zelensky, afirmou esta terça-feira, durante a Cimeira da Democracia em Copenhaga, que a ausência de resposta de Putin ao convite para Istambul deverá ser interpretada como um “sinal final” de que o Kremlin não quer terminar a guerra. “A reação do mundo – incluindo dos EUA – terá de ser muito forte”, avisou. “Novas sanções, nova ajuda militar à Ucrânia, porque será uma demonstração clara da posição de Putin e da Rússia.”

Yermak sublinhou também que o ex-presidente norte-americano Donald Trump tem feito declarações “muito fortes e muito claras” no sentido de promover uma reunião direta entre Zelensky e Putin. Segundo o conselheiro ucraniano, Trump poderá até estar disponível para participar nas conversações.

Steve Witkoff, enviado especial de Trump, declarou ao Breitbart News que acredita na viabilidade de um encontro em Istambul. “Penso que é totalmente possível. Se os EUA se afastarem deste conflito e disserem ‘não é a minha guerra, fiz o que podia’, isso será mau para todos. Mau para os europeus, mau para os ucranianos, e não creio que seja bom para os russos”, disse. “Ambos os lados estão a tentar perceber o que significa uma resolução pacífica para si. O nosso trabalho é pô-los na mesma sala e mostrar-lhes que as alternativas são piores.”

Perspetiva académica: “a Ucrânia não conseguirá recuperar os territórios”
Enquanto os esforços diplomáticos se mantêm num impasse, a análise geoestratégica continua a apontar para um cenário difícil para Kiev. John Mearsheimer, professor da Universidade de Chicago e autor do ensaio The Case for a Ukrainian Nuclear Deterrent (1993), afirmou à Newsweek que considera muito improvável a Ucrânia conseguir recuperar os territórios ocupados pela Rússia. “Neste momento, a única questão interessante é saber quanto território a Ucrânia ainda vai perder, porque não há forma de recuperar o que já perdeu – mesmo com o apoio total dos EUA e dos seus aliados europeus. É uma situação desastrosa para a Ucrânia.”

De acordo com o Kyiv Independent, um responsável da União Europeia revelou que o bloco tenciona aplicar novas sanções já esta quarta-feira. As medidas visam reforçar a pressão sobre o Kremlin e responder à ausência de compromisso com a paz.

Entretanto, permanece o convite em aberto para a reunião em Istambul. Kiev já avisou: se Putin não comparecer, será mais uma prova de que a Rússia não pretende negociar o fim da guerra. A resposta do mundo, dizem os ucranianos, terá de estar à altura.