UE exclui empresas americanas de programa de rearmamento avaliado em 150 mil milhões de euros

A União Europeia (UE) planeia excluir as empresas de armamento dos Estados Unidos de um programa de defesa no valor de 150 mil milhões de euros (aproximadamente 165 mil milhões de dólares), segundo revela o Financial Times, que cita fontes oficiais não identificadas.

A decisão, que ainda aguarda aprovação pelos Estados-membros, também abrangerá sistemas de armas produzidos por terceiros quando os EUA detêm “autoridade sobre o design” e impõem restrições na sua fabricação. Entre os sistemas que podem ser afetados está o sistema de defesa antimísseis Patriot. No entanto, esta exclusão pode ser revista caso Washington assine um acordo de segurança e defesa com Bruxelas.

Caso a medida avance, a exclusão também se estenderá às empresas do Reino Unido e da Turquia, que ficarão impossibilitadas de participar no massivo investimento em rearmamento europeu.

A Newsweek tentou obter uma reação do Departamento de Comércio dos EUA e dos porta-vozes da Comissão Europeia para a Defesa, mas até ao momento não obteve resposta.

A exclusão das empresas americanas deste programa representa uma mudança significativa na relação transatlântica, um processo que se tem intensificado nos últimos anos e ganhou ainda mais força durante a presidência de Donald Trump.

Trump tem insistido na necessidade de a Europa assumir maior responsabilidade pela sua própria segurança e contribuir de forma mais substancial para a NATO, enquanto os EUA direcionam o seu foco para a competição estratégica com a China.

Historicamente, os EUA foram o principal fornecedor de tecnologia militar para os países europeus. No entanto, alguns líderes da UE têm defendido uma maior independência na aquisição e desenvolvimento de equipamentos de defesa.

“Autonomia estratégica” e nova aposta europeia na indústria de defesa
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, apresentou um plano de investimentos na ordem dos 870 mil milhões de dólares para a defesa da UE, justificando a necessidade deste reforço com a crescente ameaça colocada pela Rússia na sequência da invasão da Ucrânia.

Por sua vez, o presidente francês, Emmanuel Macron, tem sido um dos principais defensores da “autonomia estratégica” europeia no setor da defesa, argumentando que o continente não pode depender excessivamente dos EUA para garantir as suas capacidades militares.

Macron reiterou essa posição no domingo passado, afirmando que vai trabalhar para “convencer” os seus aliados europeus a priorizar a aquisição de tecnologia militar produzida no continente. “Aqueles que compram Patriots, devemos oferecer-lhes o SAMP/T de nova geração franco-italiano. Aqueles que compram o F-35, devemos oferecer-lhes o Rafale”, declarou Macron aos meios de comunicação franceses.

Implicações geopolíticas e tensões comerciais
Esta mudança na política de aquisição de defesa também se insere num contexto de tensões comerciais entre Washington e Bruxelas. As relações económicas transatlânticas foram afetadas por uma sucessão de tarifas impostas durante a presidência de Trump e pelas respostas retaliatórias da UE.

Adicionalmente, a incerteza política nos EUA tem levado os líderes europeus a procurar alternativas para reduzir a dependência de Washington. A crescente imprevisibilidade da política externa norte-americana, especialmente no que diz respeito ao compromisso com a NATO, tem sido um fator determinante nesta estratégia de reforço da indústria de defesa europeia.

Caso esta exclusão seja oficializada, a União Europeia dará um passo significativo na direção de um mercado de defesa mais independente, mas poderá também enfrentar retaliações por parte dos EUA e do Reino Unido, que têm interesses significativos na venda de armamento ao bloco europeu.

O desenrolar desta polémica poderá ter um impacto profundo na segurança do continente e nas relações geopolíticas entre a Europa e os seus aliados históricos.