Ucrânia reconquistou “mais ou menos todo o distrito de Lisboa e mais qualquer coisa” em poucos dias, diz especialista
Ultrapassada a barreira dos 200 dias desde que a Rússia deu início à sua ofensiva contra a vizinha Ucrânia, que se transformou na primeira guerra na Europa desde a II Guerra Mundial, a Ucrânia conseguiu recuperar 30 territórios que tinha perdido para as forças de Moscovo.
A reconquista das terras perdidas acontece no âmbito de uma contraofensiva lançada há cerca de duas semanas pelo Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky. Para o coronel Carlos Mendes Dias, a Ucrânia conseguiu recuperar uma área que equivale a “mais ou menos todo o distrito de Lisboa e mais qualquer coisa”, cita a ‘CNN Portugal’.
O militar considera que o avanço ucraniano coloca vários desafios à estratégia russa, embora o Kremlin tenha já garantido que a Rússia não vai desistir até que “as metas inicialmente estabelecidas sejam alcançadas”.
O coronel Mendes Dias aponta que, neste momento, a Ucrânia está a seguir duas estratégias militares que, embora distintas, complementam-se.
“A questão de Kherson é uma operação ofensiva de nome ‘finta’ e que pretende desviar a atenção do opositor para aquele sítio e fazer com que o opositor reaja de determinada maneira”, explica, acrescentando que essa abordagem levou a Rússia a desviar “13 mil efetivos para o sul, incluindo 1.300 chechenos”.
Assim, com os olhos do Kremlin postos no Sul, a Ucrânia desferiu ataques a norte, com “um ataque deliberado em que se utilizou a forma de manobra penetração, isto é, penetramos para atingir um objetivo em profundidade, ou vários objetivos, tentando quebrar a contiguidade ou a continuidade defensiva do inimigo”, elucida o especialista.
“Ou seja, alargamos a brecha e vamos conquistar objetivos na profundidade do inimigo.”
A Defesa do Reino Unido já revelou que o avanço ucraniano “tem implicações significativas para a estratégia operacional geral da Rússia”, numa altura em que “a maioria das forças russas na Ucrânia provavelmente está a ser forçada a priorizar ações defensivas de emergência”, em vez de ataques. E prevê que “a confiança já limitada que as tropas destacadas têm na liderança militar sénior da Rússia provavelmente irá deteriorar-se ainda mais”.
Destacando que é imperativo que os países ocidentais continuem a enviar armas para as tropas ucranianas, que são fundamentais para conseguir fazer face ao equipamento pesado da Rússia, o coronel Carlos Mendes Dias afirma que o foco da Ucrânia, nesta altura, deverá ser “condicionar fortemente as operações russas no Donbass e quebrar a contiguidade territorial conquistada pela Rússia”, pois, “se for quebrada a contiguidade territorial, pode ser um ponto de viragem”.