Ucrânia já esgotou todos os mísseis ATACMS fornecidos pelos EUA, revelam fontes de Kiev e Washington

A Ucrânia utilizou toda a sua reserva de mísseis balísticos de longo alcance ATACMS fornecidos pelos Estados Unidos, de acordo com informações reveladas à Associated Press (AP) por um responsável norte-americano e um político ucraniano que integra a comissão de defesa do parlamento. Segundo estas fontes, Kyiv já não dispõe deste tipo de armamento no seu arsenal, após esgotar os últimos exemplares no final de janeiro.

Os ATACMS (Army Tactical Missile System) são mísseis balísticos lançados a partir do solo, com um alcance de quase 320 quilómetros, permitindo atingir alvos estratégicos muito além da linha da frente. Estes sistemas foram fundamentais para a Ucrânia em ataques de grande impacto contra infraestruturas militares russas, incluindo helicópteros e sistemas avançados de defesa aérea.

No entanto, os EUA disponibilizaram apenas um número limitado destes mísseis a Kyiv. O responsável norte-americano citado pela AP revelou que Washington forneceu menos de 40 ATACMS e que a última unidade foi utilizada pela Ucrânia ainda em janeiro deste ano.

Apesar da forte dependência do apoio militar dos EUA e de outros aliados ocidentais, Kyiv tem procurado reduzir essa vulnerabilidade. O governo ucraniano tem apostado no desenvolvimento da sua própria indústria de defesa, reforçando a produção de mísseis e munições nacionais para compensar eventuais falhas no fornecimento externo.

A permissão para a Ucrânia utilizar os ATACMS contra território russo internacionalmente reconhecido só foi concedida pela administração de Joe Biden em novembro de 2024. Até então, a Casa Branca tinha hesitado em aprovar o uso destes mísseis por receios de uma escalada do conflito com Moscovo, apesar dos insistentes pedidos do governo ucraniano.

A decisão gerou críticas dentro dos EUA, incluindo do então presidente-eleito Donald Trump, que classificou a medida como “estúpida” e sugeriu que reverteria essa política assim que tomasse posse a 20 de janeiro de 2025. Coincidentemente, segundo as fontes citadas pela AP, a Ucrânia esgotou os seus ATACMS exatamente nessa altura.

Retoma do apoio militar dos EUA à Ucrânia
Após um bloqueio imposto por Donald Trump, os EUA retomaram ontem o envio de ajuda militar à Ucrânia. O desbloqueio ocorreu após uma reunião de alto nível entre responsáveis norte-americanos e uma delegação ucraniana na cidade saudita de Jeddah, na terça-feira.

Entre os representantes dos EUA estiveram o secretário de Estado, Marco Rubio, e o conselheiro de Segurança Nacional, Mike Waltz. Pouco depois das negociações, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Polónia, Radosław Sikorski, confirmou que os envios de armamento já estavam novamente a ser processados através de um centro logístico no leste da Polónia.

Durante o período em que o apoio militar esteve suspenso, a Casa Branca também restringiu o acesso da Ucrânia a informações de inteligência dos EUA. No entanto, essa partilha de dados foi retomada esta semana, segundo fontes oficiais.

Desafios na utilização dos sistemas de armas
A escassez de ATACMS e a suspensão temporária da assistência militar norte-americana podem ter contribuído para dificuldades operacionais no campo de batalha. Alguns analistas sugerem que a Ucrânia poderá ter enfrentado problemas na utilização de sistemas como o HIMARS (High Mobility Artillery Rocket System), que podem disparar os ATACMS, especialmente em ataques contra alvos na região russa de Kursk, sem o suporte de informações estratégicas dos EUA.

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, já havia elogiado a eficácia dos ATACMS quando os mísseis foram usados pela primeira vez em outubro de 2023. “Os ATACMS provaram o seu valor”, afirmou na altura.

Agora, com a sua reserva esgotada e sem garantias de novos fornecimentos, a Ucrânia enfrenta o desafio de manter a sua capacidade de ataque de longo alcance contra as forças russas.