Trump recua, mas caos nos mercados mantém pressão sobre bancos centrais

Os mercados bolsistas encerraram a semana em forte alta, impulsionados pela decisão do ex-presidente dos EUA, Donald Trump, de recuar nas tarifas sobre países que não a China. No entanto, esse alívio não foi suficiente para travar os receios em torno dos ativos americanos, nomeadamente os títulos do Tesouro e o dólar, que foram alvo de vendas expressivas.

Joana Vieira, Partner da Ebury Portugal, alerta para um movimento incomum nos mercados: “Verificou-se um desenvolvimento muito mais ameaçador nos títulos do Tesouro dos EUA e no dólar, que foram vendidos em conjunto com os mercados bolsistas, no que pareceu ser uma séria perda de confiança nos mercados e instituições dos EUA entre os investidores.”

Segundo a especialista, este comportamento “bastante invulgar” poderá ter sido a razão por detrás do adiamento da aplicação da maioria das tarifas: “Foi esta atitude bastante invulgar que parece ter forçado Trump a adiar a maioria das tarifas por pelo menos 90 dias.”

No fim de semana, a China foi isentada de tarifas sobre dispositivos eletrónicos, mas, como refere Joana Vieira, a comunicação da administração norte-americana manteve-se errática: “Embora, como é típico dos membros da administração Trump, tenham dado mensagens incoerentes sobre estas medidas imediatamente.”

A semana passada ficou ainda marcada pela valorização generalizada das principais moedas face ao dólar, num cenário de elevada volatilidade cambial. “Salvo raras exceções, todas as principais moedas do mundo subiram em relação ao dólar na semana passada, no meio da elevada volatilidade no mercado cambial”, refere.

Para os próximos dias, os mercados estarão atentos ao comportamento dos ativos americanos e à política monetária dos principais bancos centrais. “O principal impulsionador dos mercados será vermos se esta dinâmica preocupante em torno dos ativos americanos, que ora sobem ora descem simultaneamente (algo típico de se ver nos mercados emergentes), continuará, ou se a sanidade mental será restaurada na Casa Branca e a fé dos investidores regressará.”

Apesar de estar prevista uma reunião importante do Banco Central Europeu (BCE) esta quinta-feira, a atenção dos investidores estará focada nos desenvolvimentos em Washington. “Em circunstâncias normais, estaríamos a discutir o mercado de trabalho e a inflação no Reino Unido esta semana, e a reunião do BCE na quinta-feira, mas estes serão ofuscados pelo fluxo de notícias de Washington DC.”

A Ebury antecipa que o BCE deverá avançar com um corte nas taxas de juro já esta semana. “Não há dúvidas de que um desses cortes ocorrerá na quinta-feira.” No entanto, o mesmo não é garantido por parte da Reserva Federal norte-americana. “Muito mais duvidosa será a capacidade da Reserva Federal de seguir o exemplo, a menos que a dinâmica desagradável do mercado que descrevemos diminua”, conclui Joana Vieira.