Trump, Putin, extrema-direita na Europa (entre outros…): os cinco desafios de Mark Rutte no comando da NATO

A Roménia anunciou esta quinta-feira o seu apoio à candidatura do primeiro-ministro dos Países Baixos, Mark Rutte, como próximo secretário-geral da NATO, retirando a candidatura do presidente romeno, Klaus Iohannis, levantando o último obstáculo à sucessão de Jens Stoltenberg no comando da aliança atlântica.

Jens Stoltenberg deverá abandonar o cargo a 1 de outubro. No entanto, quando Mark Rutte se mudar para o seu escritório na NATO, não haverá lua de mel.

Mark Rutte, que dirige a quinta maior economia da UE há 14 anos, é amplamente elogiado como um construtor de consenso eficaz, ao mesmo tempo que mostra determinação em apoiar a Ucrânia, incluindo os recentes esforços holandeses na formação de pilotos ucranianos para pilotar caças F-16. Mas, mesmo para um político experiente, o próximo capítulo não será um ‘passeio no parque’. Saiba quais os cinco principais desafios que enfrenta.

Possível regresso de Donald Trump

Quatro semanas depois de Rutte assumir o seu novo cargo, os americanos vão às urnas e podem conduzir à Casa Branca Donald Trump, um cético da NATO. Durante a campanha, Trump ameaçou cortar a ajuda dos EUA à Ucrânia, o que poderá constituir um duro golpe na credibilidade dos aliados da NATO na ajuda à Ucrânia, dado que os EUA têm sido de longe o maior doador de ajuda militar a Kiev.

A reeleição de Trump também irá quase certamente descarrilar o plano da NATO de preparar a Ucrânia para a sua futura adesão, incluindo os esforços para completar a ocidentalização das forças armadas.

Os países da NATO prometeram no ano passado que “estarão em posição de estender um convite à Ucrânia para aderir à aliança quando os aliados concordarem e as condições forem satisfeitas”. A julgar pela recente caracterização que Trump fez do presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, porém, esse compromisso parece instável.

Zelensky “pode ser o maior vendedor político que já existiu”, referiu Trump num evento de campanha recente. “Saiu há quatro dias com 60 mil milhões de dólares [depois de assinar um acordo de segurança de 10 anos com o presidente Joe Biden], e chega a casa e anuncia que precisa de mais 60 mil milhões de dólares. Nunca acaba.”

O ataque de inverno de Putin à Ucrânia

Assim que Rutte assumir o cargo, a Ucrânia irá pedir-lhe ajuda devido à aproximação do inverno. Nos últimos meses, a Rússia intensificou os ataques contra as centrais térmicas e as barragens da Ucrânia – infraestruturas que levam meses, senão anos, a serem totalmente reparadas.

Não é uma tática nova do Kremlin: durante o primeiro inverno do tempo de guerra, entre 2022 e 2023, a rede elétrica da Ucrânia foi severamente atacada.

A chave, segundo Stoltenberg, reside em mais sistemas de defesa aérea que possam proteger os fornecedores de energia, bem como o pessoal de manutenção que trabalha para reparar instalações danificadas.

Fazer com que os membros da NATO paguem

A NATO celebrou esta semana um número recorde de aliados que atingiram a meta de 2% do PIB em Defesa – 23. Mas isto significa que um terço da aliança ainda não atingiu o alvo, apesar de ter assumido esse compromisso há 10 anos.

As nações do sul da Europa estão entre os piores infratores. Em Itália, as estimativas para 2024 apontam para uma ligeira queda face aos já baixos 1,5% do ano passado. A Espanha gastará apenas 1,28% este ano. Portugal comprometeu-se com 1,55%.

“O histórico fraco dos nossos amigos do Mediterrâneo é a arma perfeita para Trump”, revela um diplomata sénior da região do Báltico, citado pelo jornal ‘POLITICO’.

Mais perto do território de Trump, porém, as coisas são igualmente más. O Canadá, membro da NATO desde o início, em 1949, está a comprometer apenas 1,37% do PIB, registando um crescimento de 0,1% desde o início da guerra da Rússia contra a Ucrânia.

Queixas do flanco oriental

Os países que fazem fronteira com a Rússia não são os maiores fãs de Rutte. Além de estarem irritados com os baixos gastos holandeses com a Defesa, estão particularmente chateados com o facto de o papel principal na NATO ter sido sempre atribuído a um europeu ocidental ou do norte, apesar de os países do flanco oriental estarem na aliança há um quarto de século.

Por exemplo, a primeira-ministra da Estónia, Kaja Kallas, não entrou na corrida por ter sido informada de que não obteria o apoio de países como os EUA, França e Alemanha, pois temiam que a sua nomeação fosse vista por Moscovo como uma escalada nas hostilidades.

Líderes europeus com relações com Putin

Não é apenas Trump que Rutte terá de convencer para manter a NATO viva e bem.

Por toda a Europa, estão a florescer partidos de extrema-direita céticos da NATO e próximos de Putin. Em França, por exemplo, está à beira de uma eleição parlamentar que poderá trazer grandes ganhos para a Reunião Nacional de extrema-direita – forçando Stoltenberg a fazer um raro apelo a Paris para “manter a NATO forte”.