
Trump, Putin e Xi Jinping: a ascensão de um ‘triângulo’ do poder na geopolítica global
O equilíbrio geopolítico global está a passar por uma profunda transformação, marcada pela consolidação de três grandes polos de poder: os Estados Unidos de Donald Trump, a Rússia de Vladimir Putin e a China de Xi Jinping. Esta nova dinâmica tripolar surge num contexto de erosão do sistema internacional baseado em regras, instaurado no pós-Segunda Guerra Mundial, e que os Estados Unidos, outrora os seus principais defensores, parecem agora dispostos a abandonar em favor da imposição da força.
O conceito de um mundo tripolar, embora já discutido por analistas nos últimos anos, começa agora a ganhar peso nas discussões diplomáticas e nas projeções estratégicas. O jornalista Jan Krikke, correspondente de longa data no Japão e em Hong Kong, questionou recentemente no Asia Times: “Poderão Trump, Putin e Xi Jinping tornar-se os arquitetos de uma nova ordem mundial multipolar?”
A proximidade entre os três líderes tem levantado preocupações entre aliados tradicionais dos EUA, especialmente na Europa. “A relação de Trump com Putin e a proximidade de Putin com Xi permitem a estes três líderes ditar uma nova visão do mundo, um novo equilíbrio de poder”, afirmou Josep Borrell, ex-chefe da diplomacia da União Europeia, num programa da TVE.
O impacto da nova presidência de Trump
Num período inferior a um mês no cargo, Donald Trump já alterou significativamente o cenário geopolítico. Lançou uma nova guerra comercial contra a China e contra outros parceiros internacionais, retirou os EUA da Organização Mundial da Saúde e do Acordo de Paris sobre o Clima, e tomou medidas para reduzir a ajuda externa norte-americana. Além disso, avançou para negociações de paz na Ucrânia diretamente com Putin, excluindo o governo de Volodímir Zelensky e a União Europeia do processo.
Estas ações têm contribuído para a desintegração do sistema internacional estabelecido desde 1945, levantando dúvidas sobre o papel dos EUA como garantidores da estabilidade global. Em Pequim, diplomatas da delegação da UE mostraram-se surpreendidos com a abordagem menos agressiva de Trump em relação à China, o seu principal rival estratégico.
A recente Conferência de Segurança de Munique foi palco de um contraste notório entre Washington e Pequim. Enquanto o vice-presidente norte-americano, JD Vance, protagonizava um ataque ideológico contra os líderes europeus, o chefe da diplomacia chinesa, Wang Yi, adotava uma estratégia oposta, apresentando a China como um parceiro estável para a Europa. Wang também enviou sinais conciliadores para os EUA, defendendo a necessidade de cooperação entre as duas maiores economias mundiais, mas não poupou críticas ao protecionismo comercial norte-americano. “O que vemos é que há um país que se está a retirar dos tratados e organizações internacionais”, afirmou Wang, numa alusão clara aos EUA.
A aproximação entre Trump, Putin e Xi
O alinhamento estratégico entre os três líderes ficou ainda mais evidente com a recente proposta de Trump para uma cimeira tripartida com Putin e Xi Jinping. “Quero propor uma redução do orçamento militar global em 50% e uma diminuição dos nossos arsenais nucleares”, declarou o presidente norte-americano, sugerindo um novo enquadramento para as relações entre as três potências.
No dia seguinte, enquanto os olhares estavam voltados para Munique, a agência estatal russa Tass noticiava que Putin convidou Trump para visitar Moscovo em maio, durante as comemorações do 80.º aniversário da vitória da União Soviética sobre a Alemanha nazi. Xi Jinping é um dos líderes esperados no evento, abrindo a possibilidade de um encontro a três na capital russa.
Se este encontro se concretizar, poderá representar um momento crucial para redefinir o equilíbrio de poder global, especialmente no que diz respeito à guerra na Ucrânia e à crescente rivalidade entre Washington e Pequim, assinala o El Mundo.
A nova configuração de poder mundial
Apesar destas dinâmicas, os EUA continuam a ser a maior potência económica, militar e cultural do mundo. Lideram a NATO, a aliança militar mais relevante do planeta, e mantêm uma influência significativa em diversos conflitos e negociações internacionais. No entanto, a sua hegemonia tem sido desafiada pelo crescimento da China e pela resistência estratégica da Rússia.
Pequim, apesar de enfrentar problemas económicos internos, tem ampliado a sua influência global através de projetos como a Nova Rota da Seda e do reforço das suas capacidades militares. Moscovo, por sua vez, apesar da sua economia mais frágil, mantém um peso significativo devido ao seu arsenal nuclear e à sua presença estratégica no Médio Oriente, na Ásia Central e no Leste da Europa.
A Rússia, isolada pelo Ocidente desde a invasão da Ucrânia, tem contado com o apoio da China para contornar sanções internacionais, fortalecendo os laços entre os dois países. No entanto, a relação entre Xi e Putin permanece desigual: enquanto a Rússia depende fortemente da China para manter a sua economia à tona, Pequim não precisa de Moscovo da mesma forma.