
Trump ameaça que vai “recuperar o Canal do Panamá, ou algo muito grande vai acontecer”
O ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou que pretende “recuperar o Canal do Panamá, ou algo muito grande vai acontecer”, numa declaração feita aos jornalistas no domingo, enquanto embarcava no avião que o levaria de volta a Washington após um fim de semana na sua mansão em Mar-a-Lago, na Florida.
A afirmação de Trump surge no mesmo dia em que o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, se encontrava em visita oficial ao Panamá, levantando questões sobre o posicionamento da administração norte-americana relativamente ao controlo da estratégica via interoceânica.
Durante a sua breve declaração, Trump voltou a acusar o Panamá de estar “a violar os tratados”, numa referência aos Acordos Torrijos-Carter, assinados a 7 de setembro de 1977 pelo então presidente panamiano, Omar Torrijos, e pelo presidente dos Estados Unidos da época, Jimmy Carter. Estes acordos estabeleceram a transferência progressiva da administração do Canal de Panamá para o país centro-americano, culminando na sua entrega total a 31 de dezembro de 1999, após quase um século sob controlo norte-americano.
Trump também repetiu a alegação de que “a China está a gerir o Canal, que nunca foi dado aos chineses, mas sim, de forma tola, aos panamianos”. No entanto, essa afirmação tem sido consistentemente desmentida por sucessivos governos panamianos. No próprio domingo, o atual presidente do Panamá, José Raúl Mulino, refutou categoricamente essa alegação após uma reunião com Marco Rubio, sublinhando que a gestão do Canal continua a ser exclusivamente panamiana.
Visita de Marco Rubio e as exigências dos EUA
Ainda não está claro se as declarações de Trump refletem insatisfação com o desfecho da visita de Marco Rubio ao Panamá. No entanto, o secretário de Estado conseguiu um compromisso da Autoridade do Canal do Panamá para cooperar com a Marinha dos EUA na “otimização da prioridade no trânsito dos seus navios” através da via interoceânica.
Este compromisso foi um dos primeiros resultados da viagem de Rubio, que manifestou o descontentamento dos EUA com a atual situação do Canal. “O ‘statu quo’ atual é inaceitável e, na ausência de mudanças imediatas, os Estados Unidos terão de tomar as medidas necessárias para proteger os seus direitos ao abrigo do Tratado”, afirmou o Departamento de Estado num comunicado emitido em Washington.
A ameaça de Trump de “recuperar o Canal” aumenta as tensões em torno da relação entre Washington e a Cidade do Panamá, num momento em que os Estados Unidos procuram reforçar a sua influência na América Latina e conter a crescente presença da China na região.