Tráfico de seres humanos em Portugal: Comissão de Apoio às Vitimas denuncia “muitas situações no futebol”
Portugal enfrenta uma crise contínua no tráfico de seres humanos, com a modalidade desportiva do futebol a emergir como um setor preocupante. De acordo com dados do Observatório do Tráfico de Seres Humanos, entre 2008 e 2023, foram registadas 1011 vítimas de tráfico no país.
Este fenómeno preocupa particularmente a coordenadora da Comissão de Apoio às Vítimas do Tráfico de Pessoas, irmã Julieta Dias, que em entrevista à Renascença destacou a persistência e gravidade do problema no futebol.
Segundo a irmã Julieta Dias, no ano passado, a maioria dos casos sinalizados estava ligada ao futebol, marcando uma mudança em relação aos anos anteriores, onde o setor agrícola era o mais frequentemente associado a casos de tráfico. “Continua a haver muitas situações [de tráfico de seres humanos] no futebol,” alertou a coordenadora. A sua intervenção visa chamar a atenção para a necessidade de vigilância e sensibilização no meio desportivo.
A irmã Julieta Dias enfatiza a importância de que dirigentes e jogadores de clubes estejam vigilantes para identificar jovens potencialmente traficados. “É importantíssimo que quem está à frente dos clubes, os próprios jogadores estejam atentos, para poderem detectar que aquele é capaz de ser um jovem traficado,” sublinhou. A ausência de uma perceção ampla sobre o problema contribui para que os números reais sejam provavelmente maiores do que os reportados, devido ao receio de represálias contra as famílias das vítimas, o que desencoraja muitas denúncias.
A coordenadora aponta que este medo resulta na dificuldade das autoridades em obter resultados efetivos. “Mesmo quando a nossa polícia consegue desmantelar uma rede, é evidente que os sobreviventes do tráfico têm medo, porque eles são ameaçados,” afirmou Julieta Dias. Esta realidade frequentemente compromete o sucesso das operações de combate ao tráfico, uma vez que os traficantes muitas vezes contratam advogados que minimizam a gravidade do crime, resultando em penas brandas como multas.
Apesar das dificuldades, a irmã Julieta Dias reconhece o esforço das autoridades portuguesas no combate ao tráfico de seres humanos. Ela elogiou o “plano contra o tráfico” e a atuação das forças policiais, incluindo a Polícia Judiciária (PJ), a Polícia de Segurança Pública (PSP) e a Guarda Nacional Republicana (GNR). “A atuação das forças policiais tem sido positiva, mas o problema persiste e requer uma abordagem contínua e eficaz,” concluiu.