“Tento liderar pelo exemplo para exigir à minha equipa que faça o mesmo”, diz CFO português na Walmart

A experiência no México só faz relembrar o gestor de que todas as culturas são diferentes. não existe melhor nem pior. é uma questão de respeitar as diferentes culturas e ajustar o estilo pessoal para que a gestão de pessoas seja mais efetiva.

Licenciado em Economia pela Universidade Católica Portuguesa e pela Universidade de Tilburg, onde estudou ao abrigo do programa de intercâmbio de estudantes Erasmus, e desempenhou vários cargos ao redor do mundo. Tem 25 anos de carreira, sempre na área financeira, 20 dos quais foram de Portugal. Grande parte deles na indústria de bens de consumo (Unilever) e os últimos três anos no retalho, primeiro na empresa holandesa Ahold Delhaize e, mais recentemente, na Walmart.
Na Unilever trabalhou vários anos em Portugal, América Latina, Inglaterra, Espanha, Polónia e Holanda, onde chegou a desempenhar as funções de CFO para a Europa. Antes de chegar ao México, em Agosto de 2021, foi CFO para Europa e Indonésia na Ahold Delhaize. O seu propósito de vida e de trabalho é “Spark the light at the end of the tunnel”. Alguém que é positivo e usa essa qualidade para fazer as coisas acontecer e deixar um legado por onde passa. Casado e com dois filhos aproveita os tempos livres para jogar e ver futebol, correr, jogar padel e estar com família e amigos.  

Ao ser membro integrante do board da Walmart e de ter a função de CFO para o México e América Central, Paulo Garcia participa ativamente na tomada de decisões para o progresso da estratégia do negócio. Dedica também boa parte do seu tempo na área de relações com investidores e analistas. No caso da Walmart do México e América Central a oportunidade do gestor fazer a diferença é enorme: as lojas são visitadas por mais de cinco milhões de clientes todos os dias e a empresa tem 240 mil empregados. 

Como surgiu o desafio de ir trabalhar para a Walmart no continente americano?
O desafio surgiu através de um “headhunter”, como é normal acontecer em temas relacionados com executivos. Estavam à procura um profissional de finanças, com vasta experiência internacional, no grande consumo e no setor do retalho. O facto de estar, na altura, a trabalhar numa retalhista holandesa deverá ter ajudado

Aceitou de imediato? Porquê?
Não aceitei de imediado. Neste tipo de funções é sempre importante, sobretudo numa primeira fase, entender mais sobre a função, a cultura da nova empresa e sobretudo ver se existe química com os principais intervenientes. No meu caso acabei por aceitar o desafio por um conjunto de situações: trabalhar para o grupo Walmart – a maior empresa mundial em termos de vendas; oportunidade de ser CFO de uma empresa com faturação de 35 mil milhões de dólares e um valor de mercado de 70 mil milhões de dólares e trabalhar com um CEO inspirador para implementar uma estratégia muito desafiante, mas com possibilidade de impactar positivamente a vida de milhões de mexicanos. Por último, a possibilidade de ter mais exposição no continente americano funcionou como um “plus”.  Tudo isto assegurando que a minha família estivesse disposta a este desafio porque no caso da minha esposa significou ter de abandonar o seu trabalho na Holanda, onde vivíamos anteriormente.  

Quais as suas principais funções?
Ao ser membro integrante do board da empresa e de ter a função de CFO participo activamente na tomada de decisões importantes e de investimento para o progresso da estratégia do negócio. Em termos concretos tenho responsabilidade directa em todas áreas de Finanças: business partnering, planeamento e controlo, investor relations, tesouraria, auditoria interna e fiscal. Dedico boa parte do meu tempo na área de relações com investidores e analistas. E também em co-liderar a área de M&A e estratégia. Mas digo sempre que jogo, conjuntamente com a minha equipa, um papel importante em colocar o negócio na direção corrcta para assegurar que executamos a estratégia e cumprimos os objetivos desafiantes que estabelecemos.  

O que mais o fascina na indústria em que trabalha?
É uma indústria muito dinâmica. As coisas movem-se bastante rapidamente no dia a dia. É uma indústria com capacidade de impactar positivamente muita gente. No caso da nossa empresa – Walmart do México e América Central – em particular, a oportunidade de fazer a diferença é enorme: as nossas lojas são visitadas por mais de cinco milhões de clientes todos os dias e a empresa tem 240 mil empregados. Por último, é uma indústria que está a sofrer uma grande transformação. Passou do foco só em lojas, para uma vertente mais omnicanal. Agora fala-se cada vez mais de um ecosistema omnicanal em que o retalho oferece aos seus clientes produtos e serviços.  

É no México que passa grande parte do tempo de trabalho? Como é o seu dia-a-dia?
Sim, a maior parte do meu tempo de trabalho é no México. Às vezes tenho de ir aos EUA, onde está a sede da Walmart ou visitar a América Central. É mais esporádico visitar analistas e investidores na Europa e EUA. O meu dia a dia não será muito diferente de outros executivos. Agora que a pandemia melhorou, trabalho quase todos os dias a partir do escritório.  E tenho várias reuniões com diferentes equipas: board, a minha equipa de liderança e de finanças, mas sobretudo várias outras reuniões em que é necessária a minha contribuição e aprovação para a tomada de várias decisões.  

Quais são as principais diferenças ao nível da metodologia de trabalho que encontrou quando se mudou para o continente americano?
Relativamente à metodologia de trabalho não vejo muitas diferenças até porque as empresas onde tenho trabalhado são internacionais e, por isso, as metodologias de trabalho não variam tanto. O que tende a variar é a cultura da empresa e do país. No caso da cultura mexicana nota-se diferenças nas reuniões de trabalho em relação ao que encontrei na Europa e sobretudo na Holanda. A cultura de trabalho no México é mais serviçal e respeita-se demasiado a hierarquia. É difícil que numa reunião se contradiga o chefe. No caso da Holanda era totalmente diferente porque é uma cultura muito direta e em que não existe problema em dar uma opinião diferente das chefias.  

O que é que o México lhe tem vindo a ensinar sobre gestão de pessoas?
O México só me fez relembrar que todas as culturas são diferentes. Não existe melhor nem pior. É uma questão de respeitar as diferentes culturas e ajustar um pouco o estilo pessoal para que a gestão de pessoas seja mais efetiva. 

Qual é a sua filosofia de gestão?
É uma filosofia que se baseia em alguns princípios muito básicos: a gestão de pessoas é o ativo mais importante de uma empresa. Por isso, um gestor deve dedicar grande parte do seu tema a este respeito. Dedico grande parte do meu tempo à gestão de pessoas (discutir planos de carreira, discutir a estrutura correta das equipas, etc.). Tento liderar pelo exemplo para exigir à minha equipa que faça o mesmo e assim sucessivamente; pensar positivo. Creio firmemente que se um dos elementos pensar positivo as coisas tendem a realizar-se. E, mais do que isso, não vejo nenhum valor agregado a alguém que está sempre a pensar no pior e que algo não seja possível de fazer.
Repito constantemente duas frases “glass half full” e “spark the light at the end of the tunnel” porque faz parte de como sou, do meu propósito e do meu modo de gestão. Faço-o também como forma de influenciar mais pessoas a adoptar a mesma filosofia; colocar-me a mim e às equipas com quem trabalho desafios e objectivos bastante desafiantes para poder causar impacto no negócio e deixar um legado. E digo que esses objectivos devem ser feitos a trabalhar em equipa (objectivos divididos).  

Quais os principais desafios de um Chief Financial Officer (CFO) que já trabalhou em vários continentes, como a Europa e a América?
São desafios mais relacionados com o facto de se trabalhar em empresas diferentes e culturas diversas. Não tanto com a função de CFO per se.  Ainda que se trabalhar na América Latina e no México, temas como a desvalorização cambial, taxas de financiamento, ou venda a crédito se tornem mais importantes do que se estiver a trabalhar na Europa.  

Estando a viver tão longe de Portugal, como é que “mata saudades” do nosso país?
Mato as saudades de três maneiras: falando diariamente (seja FaceTime, WhatsApp vídeo, etc.) com os meus pais e com os meus irmãos falo semanalmente, mas trocamos várias mensagens; falando com amigos, usando os métodos digitais que hoje estão disponíveis; e por último, visitando o país. Quando vivíamos na Europa íamos cinco a seis vezes por ano a Portugal (incluindo fins-de-semana longos). Agora que estamos no México vamos apenas duas vezes por ano, nas férias de Verão e no Natal. 

 

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