
Taxas mistas no crédito à habitação: Tendência ou solução de futuro?
Por Filipe Fernandes, da Maxfinance Lusitana
Concretamente, falarmos de taxas mistas é falarmos de uma das atuais soluções financeiras associadas ao crédito habitação, um dos produtos de crédito mais usado pelas famílias portuguesas e com maior peso no orçamento familiar. Até à data as famílias portuguesas têm aderido cada vez mais às taxas mistas na hora de contratarem o seu crédito, essencialmente devido ao facto de permitir às famílias um planeamento financeiro mais estável e porque à data as mesmas estão a um nível inferior às TAN’s variáveis e fixas.
Consiste num contrato de crédito habitação dividido em dois momentos das taxas de juro. Num período inicial com uma taxa fixa (em que normalmente a taxa é fixada com uma TAN abaixo do mercado) e passado um determinado período (período esse que normalmente vai de 1 a 10 anos) passa para uma taxa variável acompanhando a tendência e as condições do mercado financeiro quer seja em período de subida quer seja em período de descida da taxa variável, mais concretamente da Euribor ao prazo contratado (3/6/12 meses). Neste período de taxa fixa a prestação é estável não tendo oscilações, quase como se fosse uma renda.
Esta solução neste momento é uma tendência por vários motivos, nomeadamente:
– As soluções de taxas mistas têm-se apresentado no mercado como a melhor opção para o cliente, como mencionado anteriormente, uma vez que proporcionam no imediato uma poupança financeira (a rondar os 30 a 40% no primeiro ano, pelo menos) e que muitas das vezes num início de vida e arranque profissional é muito impulsionador, para além de ainda existirem entidades no mercado que oferecem as despesas iniciais associadas a todo o seu processo se o cliente contratar em taxa mista;
– Proporciona uma estabilidade financeira nesta fase (Período de instabilidade financeira, como crises ou inflação elevada, as taxas mistas surgem como um “meio-termo seguro” entre risco e previsibilidade), que permite às famílias fazerem um planeamento financeiro adequado para aquele período de taxa fixa que poderá ajudar a tomar decisões para outro tipo de projetos e investimentos, nomeadamente: avançar com projetos profissionais, pessoais (filhos), a própria decoração e recheio da casa, ou outro tipo de necessidades; dando assim um cenário de segurança no caso de subidas de taxas de juros para o período inicial; bem como, em contratos que já estão a decorrer renegociar com a própria entidade ou transferir de entidade bancária de forma a obter uma poupança;
– O facto também de, na primeira fase a prestação ser um pouco mais baixa que a do mercado, pode proporcionar a que as famílias procurem casas de um valor mais elevado indo ao encontro da subida do valor no mercado imobiliário e proporcionarem uma maior opção de compra;
– Culturalmente os portugueses não têm tendência para as taxas fixas no período completo e as soluções no global não são tão atrativas (visto que as mesmas acabam por ser mais altas que o mercado à data e a perspetiva de descida e da estabilidade da política económica e monetária europeia é rondar os 2%), por isso esta solução torna-se ideal no curto prazo.
Como em tudo, tem vantagens e desvantagens (riscos):
– Um equilíbrio entre segurança e flexibilidade, permitindo no fim da taxa mista renegociar as condições, podendo ir ao encontro das melhores soluções do mercado;
– Ideal numa perspetiva inicial de vida uma vez que os rendimentos por norma também são mais reduzidos, e protege numa primeira fase os seus custos;
– A potencial poupança e estabilidade inicial;
– Numa perspetiva económica de descida acentuada, pode o crédito na fase inicial ficar um pouco mais caro;
– A escolha do período da taxa mista também pode ser crucial, na minha opinião um período intermédio para reduzir o risco e compensar em termos de preço.
Não esquecer ainda que, há não muito tempo, esta solução foi também utilizada num contexto de mercado bastante elevado, tendo as opções apresentadas a médio e longo prazo revelado-se demasiado penalizadoras (ou seja, foi aplicada num período em que a Euribor se encontrava muito alta).
Efetivamente, as taxas mistas são uma tendência atual que poderá manter-se no futuro, caso os mercados financeiros continuem a apresentar uma elevada volatilidade; e se as próprias entidades financeiras continuarem a disponibilizar soluções atrativas e compensatórias, desde que consigam financiar-se internamente a um custo inferior ao valor cobrado aos clientes.
Tendo em conta o perfil dos clientes portugueses, os hábitos do mercado e a tradição cultural em relação ao crédito, acredito que as taxas mistas continuarão a ser uma opção viável. Isto, claro, desde que as instituições financeiras mantenham este tipo de solução atrativa, ou seja, com condições mais vantajosas do que as oferecidas pelas taxas variáveis.