Supremo Tribunal italiano anula absolvições no caso das festas ‘Bunga Bunga’ de Berlusconi

O Supremo Tribunal de Itália anulou na segunda-feira as absolvições de 23 pessoas, alegadamente envolvidas num escândalo de suborno ligado ao antigo primeiro-ministro Silvio Berlusconi, e às festas de sexo que alegadamente organizava. Os acusados foram inicialmente absolvidos da acusação de terem recebido subornos de Berlusconi para mentir num caso de prostituição de menores, que o perseguiu durante anos. Esta decisão reabre um dos capítulos mais controversos da vida política e pessoal do ex-primeiro-ministro, que morreu no ano passado.

Em fevereiro de 2023, um tribunal de Milão tinha absolvido Berlusconi e todos os outros réus, incluindo várias jovens mulheres que participaram nas festas conhecidas como “Bunga Bunga”. Na altura, o tribunal considerou que não havia matéria suficiente para sustentar as acusações, apontando erros processuais por parte dos procuradores.

No entanto, o Supremo Tribunal rejeitou essa decisão e determinou que os arguidos terão de enfrentar um novo julgamento pelas acusações de suborno. Entre os envolvidos está Karima El Mahroug, mais conhecida pelo pseudónimo “Ruby, a Roubadora de Corações”, a dançarina marroquina que esteve no centro do escândalo e que Berlusconi chegou a retirar de uma esquadra de polícia, alegando falsamente que ela era sobrinha do então presidente egípcio, Hosni Mubarak.

As acusações de falsos testemunhos, que também faziam parte deste processo, foram arquivadas devido à prescrição, dado o tempo que decorreu desde os supostos crimes. Contudo, os juízes do Supremo Tribunal mantiveram as acusações de suborno, indicando que as provas apresentadas eram suficientes para justificar um novo julgamento em tribunal de recurso.

A acusação de suborno gira em torno da alegação de que Berlusconi terá pago grandes quantias de dinheiro a várias testemunhas para que estas mentissem sobre as famosas festas “Bunga Bunga”, defendendo a sua versão de que os eventos eram meras reuniões sociais sem conotação sexual. Os procuradores sustentam que essas festas eram palco de atividades ilegais, incluindo prostituição de menores, nomeadamente envolvendo El Mahroug, que, segundo a acusação, teria recebido milhares de euros por sexo quando ainda era menor de idade.

Recorde-se que este escândalo foi um dos fatores que precipitaram a queda de Berlusconi como primeiro-ministro em 2011, manchando a sua reputação e perseguindo-o ao longo da última década da sua vida. Embora tenha sido absolvido anteriormente da acusação de prostituição de menores, com o tribunal a concluir que ele não sabia que El Mahroug era menor, o caso não cessou de o perseguir nos anos seguintes, com novas acusações de suborno e falsos testemunhos a emergirem.

Antes de morrer, Berlusconi admitiu que deu dinheiro a algumas das suas convidadas das festas “Bunga Bunga”, mas defendeu que se tratou de compensações espontâneas pelos danos que sofreram à sua reputação ao serem associadas às suas controversas soirées. Apesar disso, os procuradores mantêm que os pagamentos foram uma tentativa de silenciar testemunhas e garantir versões favoráveis nos julgamentos.

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