Suíça já está a fazer contas aos bunkers e a inspecioná-los. Mas nega que esteja a preparar-se para a guerra

A Suíça está a atualizar a sua vasta rede de abrigos nucleares, mantendo-se fiel à sua tradição de neutralidade e afirmando que estas iniciativas visam apenas garantir a funcionalidade e resiliência em tempos de incerteza global. O investimento surge num contexto de crescente instabilidade internacional, amplificada pela guerra na Ucrânia, que já ultrapassa os mil dias de duração.

Desde 1963, a legislação suíça assegura a cada um dos seus nove milhões de habitantes — incluindo estrangeiros e refugiados — um lugar em abrigos nucleares concebidos para resistir a ataques com bombas ou radiação. Estes bunkers estão presentes em edifícios residenciais, instalações públicas e locais específicos para proteger infraestruturas e património.

De acordo com Louis-Henri Delarageaz, comandante da proteção civil do cantão de Vaud, “a Confederação pretende eliminar exceções às regras atuais e modernizar alguns dos abrigos mais antigos nos próximos anos”. Durante uma visita a um bunker em Gollion, Delarageaz destacou à Reuters que, apesar do aumento de preocupações devido à guerra na Ucrânia, estas ações não indicam uma preparação para conflito.

Em outubro, o governo suíço lançou uma campanha para avaliar a “resiliência suíça em caso de conflito armado” e anunciou um investimento de 220 milhões de francos suíços (cerca de 234 milhões de euros) na renovação de abrigos. Embora alguns destes espaços estejam em boas condições, como um hospital subterrâneo com sala de operações e áreas para proteger obras de arte, outros revelaram problemas estruturais.

Numa inspeção recente, foi identificado um túnel que levava a um poço profundo sem escada, classificado como impróprio para uso. O proprietário foi notificado e tem um ano para corrigir as falhas, sob pena de pagar 800 francos suíços (cerca de 853 euros) por lugar destinado a um abrigo público.

Delarageaz mencionou ainda que, desde o início da guerra na Ucrânia, o seu escritório registou um aumento significativo de contactos de cidadãos preocupados com a segurança dos abrigos.

A Suíça mantém a sua política de neutralidade desde 1815, período em que permaneceu à margem de grandes conflitos internacionais, incluindo a Segunda Guerra Mundial, apesar de ter sido alvo de bombardeamentos esporádicos.

Por outro lado, os países nórdicos adotaram uma abordagem mais direta perante a possibilidade de crises ou guerras. Em iniciativas recentes, a Suécia, Finlândia, Noruega e Dinamarca têm alertado os seus cidadãos para a necessidade de preparação.

Os suecos receberam panfletos atualizados com orientações para enfrentar guerras ou crises inesperadas, enquanto a Noruega distribuiu guias sobre como sobreviver autonomamente durante uma semana. Na Finlândia, foi disponibilizado online um conjunto de dicas para situações de emergência, e na Dinamarca, a agência de gestão de emergências enviou por e-mail informações detalhadas sobre o armazenamento de água, comida e medicamentos para crises de três dias.

Embora os governos nórdicos adotem uma postura mais explícita sobre potenciais conflitos, a Suíça insiste em que as atualizações dos seus bunkers não devem ser interpretadas como um sinal de envolvimento iminente em guerra. Segundo Delarageaz, o objetivo é reforçar a capacidade de resposta do país perante qualquer eventualidade, mantendo o compromisso com a neutralidade que caracteriza a nação alpina.