Subida do euro pode travar metas de inflação do BCE. O que está em causa?

O Banco Central Europeu (BCE) enfrenta um risco crescente de não conseguir atingir a sua meta de inflação, caso a valorização do euro se mantenha, alertou François Villeroy de Galhau, membro do Conselho do BCE e governador do Banco de França.

Em declarações à Bloomberg Television durante uma conferência em Aix-en-Provence, França, Villeroy sublinhou que os responsáveis pela política monetária “não podem adotar uma atitude de negligência benigna” perante a recente apreciação da moeda única, que já valorizou cerca de 14% desde o início do ano. Segundo o próprio, uma valorização sustentada de 10% pode reduzir a inflação em 0,2 pontos percentuais por ano ao longo de três anos consecutivos.

“Isso pode aumentar o risco de não atingirmos a nossa meta”, afirmou Villeroy. “E é um risco que temos de levar em consideração.”

A preocupação ganha peso numa altura em que a taxa de inflação da zona euro se fixou nos 2% em junho — em linha com o objetivo do BCE —, mas com sinais de desaceleração em vários países. Em França, por exemplo, a inflação caiu para 0,7% em maio, o valor mais baixo em mais de quatro anos.

Esta semana, o vice-presidente do BCE, Luis de Guindos, advertiu que uma subida da moeda para além dos 1,20 dólares — face aos atuais 1,18 — poderá complicar ainda mais o cenário económico.

Apesar disso, Villeroy rejeita qualquer interferência direta do BCE na taxa de câmbio. “O BCE não define a sua política monetária para atingir um câmbio específico”, garantiu, embora reconheça que o euro forte pode ter um “efeito significativo” sobre a inflação.

Questionado sobre eventuais decisões nas próximas reuniões de julho ou setembro, o governador francês não avançou previsões, mas reiterou que a autoridade monetária deve manter-se “ágil” e “pragmática”.