Sputnik V. Cientistas detetam padrões “altamente improváveis” em dados da vacina russa contra a Covid-19

Um grupo de 26 cientistas, a maioria deles a trabalhar em universidades italianas, assinou uma carta aberta a questionar a fiabilidade dos dados apresentados nos primeiros resultados do ensaio da Sputnik V, a vacina russa contra a covid-19.

Dirigindo-se ao editor do The Lancet – a revista médica internacional revista por pares na qual o Instituto Gamaleya de Moscovo publicou os seus resultados – os cientistas dizem ter visto padrões nos dados que parecem “altamente improváveis”.

A carta, publicada na página do blog pessoal de um dos signatários, refere que os dados dos resultados da fase 1/2 dos ensaios mostram múltiplos participantes que apresentam níveis idênticos de anticorpos.

“No terreno de avaliações probabilísticas simples, o facto de observar tantos pontos de dados preservados entre diferentes experiências é altamente improvável”, indica a carta, citada pela agência Reuters.

Contudo, os cientistas dizem estar a basear as suas conclusões em resumos dos dados publicados na revista científica, em vez dos próprios dados originais.

“Na falta dos dados numéricos originais, não é possível retirar conclusões definitivas sobre a fiabilidade dos dados apresentados, especialmente no que diz respeito às aparentes duplicações detectadas”, ressalva a carta.

Instituto Gamaleya rejeita crítica

“Os resultados publicados são autênticos e exactos e foram examinados por cinco revisores no The Lancet“, disse Denis Logunov, um director-adjunto do Instituto Gamaleya de Moscovo, que desenvolveu a vacina Sputnik V.

Numa declaração, garantiu ainda que foi submetido todo o corpo de dados em bruto sobre os resultados dos ensaios à revista médica. “Apresentámos especificamente os dados que foram produzidos pelo ensaio clínico, não os dados que supostamente agradam aos peritos italianos”, enfatizou Logunov.

O director-adjunto da Johns Hopkins Bloomberg School of Public Health, Naor Bar-Zeev, que analisou os dados russos, defendeu a análise da investigação. “Os resultados são plausíveis e não muito diferentes dos vistos com outros produtos vectoriais AdV”, disse, citado pela Reuters.

De acordo com Bar-Zeev, os investigadores russos forneceram mais pormenores do que os necessários para a revisão e responderam às suas perguntas “com inteligência e de forma objectiva e confiante, mas subestimada”.

“Resumindo, não vi razão para duvidar da legitimidade destes resultados sobre outros que li e analisei. Mas é claro que nunca se pode saber”, ressalvou.

A Rússia publicou os resultados do ensaio da fase 1/2, que incluiu 76 participantes, na última sexta-feira. Os voluntários desenvolveram uma resposta imune positiva e sem efeitos secundários graves, de acordo com os autores do estudo.

O ensaio da terceira e última fase, que envolve 40.000 participantes, já começou no dia 26 de Agosto.

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